Editorial

Geração ansiosa

Crianças e adolescentes vivem hoje uma dicotomia e talvez aí esteja a fonte da ansiedade: a superproteção por parte dos pais e a subproteção virtual

Publicidade
Carregando...

Encerrando o primeiro mês escolar do ano, professores, pais e filhos já estão lidando com um sentimento presente na vida de grande parte dos brasileiros: a ansiedade. Trânsito enlouquecedor, corre-corre para chegar à escola a tempo, professores com conteúdos a serem dados, crianças e adolescentes tentando aprendê-lo até o dia da prova. Para combater o estigma que existe em torno das doenças mentais, a campanha Fevereiro Cinza deste ano enfatizou a necessidade de abordar temas como o TAG – transtorno de ansiedade generalizada.

O levantamento Calendário da Saúde, publicado pela Ipsos, mostra que cerca de 45% dos brasileiros sofrem de ansiedade e 19% têm depressão. No caso das crianças e jovens em idade escolar, a tecnologia contribui, e muito, para o aumento da incidência desses transtornos. Em “A Geração Ansiosa: como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais”, o autor – o psicólogo americano Jonathan Haidt – fala sobre o declínio das brincadeiras que se contrapõe ao aumento exponencial do consumo de equipamentos eletrônicos.

Haidt aponta quatro fenômenos que acabam por contribuir para a permanência dessa geração ansiosa: a privação social, do sono, a atenção fragmentada e o vício. Não é à toa que houve uma explosão de casos de transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) no Brasil e no mundo. Segundo o National Health Interview Survey (NHIS), entidade que trabalha com pesquisas nos Estados Unidos, somente nesse país os números pularam de 6,1% (entre 1997 e 1998) para 10,2% (entre 2015 e 2016) em 18.107 crianças e adolescentes analisados entre 4 e 17 anos.

Com a recente sanção da Lei nº 15.100, de janeiro de 2025, restringindo o uso de celulares nas escolas – o que aparentemente está sendo respeitado na maioria das instituições de ensino do país –, cabe aos pais a função de controlar a utilização dos equipamentos eletrônicos dentro de casa. Mas há quem diga que crianças e adolescentes vivem hoje uma dicotomia e talvez aí esteja a fonte da ansiedade: a superproteção por parte dos pais, preocupados com a violência e com a falta de oportunidades, e a subproteção virtual, por falta de conhecimento ou devido a falhas na área de cibersegurança.

A geração ansiosa é avessa ao contato físico, teme a não aceitação e descansa nas redes sociais como meio de refúgio, evitando, assim, ficar exposta. O mundo virtual lhes parece mais seguro, menos adverso. Só que não. As telas, muitas vezes, escondem os sentimentos, dizimam a interação real em troca de um mundo fantasioso e viciante.

Como desafio, especialistas que lidam com a chamada disciplina positiva recomendam que pais e educadores cumpram algumas missões: sejam mais presentes na vida dos educandos/filhos, façam uma espécie de curadoria das redes sociais, deem pequenas responsabilidades a crianças e adolescentes e enfatizem a importância das boas horas de sono, proporcionando a eles um ambiente saudável e interativo. Sem dúvida, um desafio enorme. O apoio do poder público com campanhas de conscientização e criação de ferramentas de suporte pode tornar a tarefa menos difícil.

Acesse o Clube do Assinante

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay