Bom retorno, senador Rodrigo Pacheco
É intensa a especulação sobre os seus futuros passos, pois, claro, Rodrigo Pacheco se tornou um quadro político expressivo no âmbito nacional e estadual
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Siga noJarbas Soares Júnior
Membro do Ministério Público.
Ex-presidente do Conselho Nacional
de Procuradores Gerais do MP
Há mais de meio século um mineiro não presidia o Senado da República e o Congresso Nacional. A representatividade de Minas Gerais na Esplanada dos Ministérios é decadente a cada governo, hoje reduzida à participação no Ministério das Minas e Energia, conduzido pelo brilho do ministro Alexandre Silveira, e da ministra de Direitos Humanos, a recém-empossada Macaé Evaristo.
A culpa é nossa. A par de sermos o segundo maior colégio eleitoral do país e o estado dito síntese das eleições nacionais, o certo é que a nossa importância tem sido vista apenas como um colégio eleitoral estratégico para os candidatos à Presidência da República – todos eles. Essa importância, normalmente, acaba com a votação do segundo turno da eleição presidencial, e Minas somente volta a ter alguma relevância quatro anos depois.
Também hoje, no mundo, no Brasil e em Minas, abandonamos a política clássica – dos bons debates de ideias, que deram lugar ao discurso vazio, aos videozinhos e às idiossincrasias das redes sociais. Tem melhor performance quem sabe "lacrar" na internet. Essa pobreza de debates e da falta de ideias nos levou à degradação da política e, consequentemente, a governos sem projetos. O resultado está aí. De um modo geral, estamos à deriva, pois o importante é lacrar. Para tanto, não falta criatividade. Aliás, uma péssima criatividade. Vale de tudo, cretinices e idiotices para viralizar, e até falsas notícias são jogadas na rede sem nenhum zelo com a verdade e o real interesse público.
E nesse mundo de mediocridades e da decrescente representatividade nacional de Minas Gerais ao longo dos anos, a figura do senador Rodrigo Pacheco se sobressaiu, não por fazer parte desse colapso da boa política, mas, exatamente, por fazer parte do que ainda de bom sobrou dela. A sua eleição à presidência do Senado Federal resgatou, ainda que isolada e momentaneamente, um pouco do velho prestígio da política mineira. Ao ocupar o elevado cargo, Pacheco apegou-se às melhores tradições do nosso estado.
Respeitou a liturgia do cargo, foi discreto diante dos holofotes e jamais usou de bravatas. Ele sabia que, na política, há horas para avançar e horas para recuar. Avançou quando foi preciso e recuou quando necessário recuar. Foi corajoso para implementar as agendas de que o Brasil precisava, como a reforma tributária, e também para frear as labaredas que poriam o Brasil em chamas. Foi ousado quando, por exemplo, devolveu medidas provisórias inconstitucionais, e conciliador, como são os mineiros, ao unir os extremos em torno de importantes projetos dos governos Bolsonaro e Lula, e, também, para eleger o seu sucessor, o bravo senador amapaense Davi Alcolumbre, devolvendo-lhe a presidência da Câmara Alta quatro anos depois
No âmbito das instituições de Estado, o senador Rodrigo Pacheco cuidou de preservá-las, não se curvando aos arroubos políticos ou a interesses espúrios, muitas vezes em prejuízo dos seus próprios interesses e projetos políticos. Foi sereno, equilibrado e resiliente. Seguiu a sua consciência e não cedeu às pressões. Foi cobrado, com ou sem razão, para ser mais duro em momentos de desrespeito aos direitos democráticos, mas é difícil julgá -lo, pois, somente ele , sentado na cadeira de presidente do Congresso Nacional, soubesse, na plenitude, das consequências das decisões difíceis a que foi obrigado tomar .
Ao deixar a função no dia 1º de fevereiro deste ano, viajou para bem longe, exatamente como fazem os estadistas ao passar o bastão. Era preciso desincorporar do cargo dando o protagonismo ao seu sucessor. Não se ouviu uma declaração dele nos últimos 30 dias.
A sua volta ao Brasil neste momento reacende o seu brilho. É intensa a especulação sobre os seus futuros passos, pois, claro, Rodrigo Pacheco se tornou um quadro político expressivo no âmbito nacional e estadual.
Conquistou essa relevância sem abrir mão dos seus princípios e valores. Por isso, sofre a incompreensão de muitos, ele sabe. Mas, também, tem admiração e o respeito de outros tantos. E o tempo lhe dará o seu lugar na história. Afonso Pena, Juscelino Kubitschek, Milton Campos, Pedro Aleixo, Tancredo Neves e outros vultos políticos de Minas Gerais devem estar orgulhosos do menino da cidade de Passos, no Sudoeste de Minas Gerais.
Nós, das instituições de Estado – no meu caso, o Ministério Público brasileiro –, seremos sempre devedores do senador Rodrigo Pacheco. Se hoje não voltamos a ser marionetes de um sistema político apodrecido, devemos muito a ele, que não permitiu o avanço das pautas que visavam destruir os alicerces das instituições brasileiras, especialmente a independência para agir quando o interesse político espúrio se sobrepor ao interesse público.
Precisaremos, ainda, muito da sua inteligência e vigor político. Bom retorno, senador Rodrigo Pacheco.