editorial

Conclave e o futuro da Igreja

Além de líder de 1,4 bilhão de católicos no mundo, o papa desempenha o papel de chefe de Estado, tem múltiplas responsabilidades

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Quem entra papa, sai cardeal. Às vésperas do conclave, a máxima é lembrada pelos integrantes mais calejados do colégio cardinalício, o alto escalão da Igreja Católica que escolherá o sumo pontífice. Favoritos nas bolsas de apostas podem naufragar, e outros, sequer lembrados, se surpreender com os votos a seu favor.


Em resumo, o resultado da reunião na Capela Sistina, no Vaticano, que começa na quarta-feira, é mesmo uma “caixinha de surpresas”, expressão que, com certeza, agradaria ao papa Francisco, admirador número 1 de futebol. Até sair a fumaça branca na chaminé indicando a eleição do novo pontífice e a multidão aglomerada na Praça de São Pedro ouvir o “Habemos papam”, tudo pode acontecer. Em segredo.


A duração do conclave se reveste de mistério. Várias vezes, a fumaça preta pode tingir o céu de Roma mostrando que nada foi decidido. Como ninguém sabe o que ocorre entre as paredes da capela coberta pelos afrescos de Michelangelo, o destino vai depender mesmo da ação do Espírito Santo. Somente Ele, conforme a fé católica, ilumina e orienta a decisão dos presentes.


Entre os 133 cardeais que vão eleger o futuro ocupante do trono de São Pedro, há nomes bem cotados. Estão no topo da lista o filipino Luis Antonio Tagle, apelidado de “Francisco asiático”, e o italiano Matteo Zuppi, próximo a movimentos sociais, ambos da linha progressista. Contrário a uniões homossexuais, ideologia de gênero e questões morais que atribui ao “colonialismo ideológico do Ocidente”, se destaca o africano Robert Sarah, da Guiné. Também conservador, ganha atenção o húngaro Péter Erdo, teólogo de formação rigorosa.


No grupo daqueles considerados moderados, vistos como essenciais neste mundo polarizado em todos os aspectos, para construção de pontes entre progressistas e conservadores, figuram o italiano Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé, e o congolês Fridolin Ambongo Besungu, que já se mostrou contra a bênção a casais gays. Ele, a exemplo de cerca de 80% dos atuais integrantes do colégio cardinalício, foi escolhido por Francisco.


Do Brasil, há sete cardeais com menos de 80 anos, que são eleitores e podem ser eleitos. Estarão na Capela Sistina dom Sérgio da Rocha, Primaz do Brasil e arcebispo de Salvador, dom Jaime Spengler, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Porto Alegre, dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, dom Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, dom João Braz de Aviz arcebispo emérito de Brasília e dom Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus.


Em tempos tão midiáticos, as conversas nas ruas, nos bares e em locais de trabalho quase sempre incluem o conclave. O assunto está na boca do povo. E o cinema turbinou o tema com o filme (“Conclave”) ganhador do Oscar de melhor roteiro adaptado. Mas entre ficção e realidade, há oceanos de diferenças. É bom lembrar que, além de líder de 1,4 bilhão de católicos no mundo, o papa desempenha o papel de chefe de Estado, tem múltiplas responsabilidades. Portanto, a decisão final pode surpreender alguns dos participantes, e exigir uma resposta imediata, apontar a direção.


O próprio Francisco contou em seu livro “Esperança”, primeira autobiografia de um sumo pontífice, como foi pego de surpresa. E falou da sua reação: “Quando o meu nome foi pronunciado pela septuagésima vez, explodiu um aplauso, enquanto a leitura dos votos continuava. Não sei quantos foram exatamente no final, não conseguia ouvir mais nada, o barulho encobria a voz do escrutinador”. A volta à realidade veio na voz do cardeal gaúcho dom Cláudio Hummes, que o lembrou: “Não se esqueça dos pobres”. Francisco escreveu que a frase o marcou, sentiu na carne: “Foi ali que surgiu o nome Francisco”.

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