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O Brasil ainda valoriza a carteira de trabalho

A velha e viva classe trabalhadora ensina o valor da dignidade garantida por trabalho decente e protegido

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A “Folha de S.Paulo” publicou, em 21 de junho, pesquisa relevante sobre o mundo do trabalho. No entanto, a manchete afirmando que “a maioria gostaria de trabalhar por conta própria” não reflete os dados. Trata-se de uma simplificação que distorce os resultados.


A pesquisa investigou a preferência entre ter carteira assinada com salário menor ou trabalhar informalmente com salário maior. Faltou, no entanto, uma pergunta essencial: se o trabalhador gostaria de ter carteira assinada e, ao mesmo tempo, ganhar mais. Essa ausência compromete a leitura dos dados.


Mesmo com essa falha, os números desmentem a manchete: 67% preferem a carteira assinada mesmo com remuneração menor. Apenas 31% optariam pela informalidade com renda maior. Entre as mulheres, o apoio à formalização é ainda maior (71%), revelando o valor da proteção social, especialmente em situações como gravidez e maternidade.


O mesmo vale para os mais pobres, que sabem na pele o que é ficar sem renda em caso de acidente. Para essa parcela, a carteira é a linha entre dignidade e insegurança. Entre a classe média baixa e a operária, essa escolha tem base na realidade concreta da sobrevivência.


Já entre quem tem ensino superior, a percepção é distinta. Com maior estabilidade financeira, muitos não dependem mais da carteira formal. Mas essa segurança, muitas vezes, foi construída com base em políticas públicas e esforço coletivo – algo que precisa ser lembrado diante do discurso meritocrático.


Entre os jovens (16 a 24 anos), 66% preferem não ter carteira se ganharem mais. Essa geração, impactada pela precarização, valoriza a autonomia e rejeita vínculos rígidos. E não por rejeitarem direitos, mas por desejarem liberdade diante de um mercado que pouco lhes oferece.


No outro extremo, entre os trabalhadores com mais de 60 anos, 79% valorizam a carteira assinada. É uma geração marcada pela CLT, que viu no trabalho formal o caminho para construir uma vida digna.


A pesquisa revela um Brasil dividido, mas não no sentido da manchete. Ela mostra que os mais pobres, as mulheres e os mais velhos seguem valorizando a formalização. E denuncia o fracasso da sociedade em garantir trabalho digno e perspectivas à juventude.


A ausência da pergunta sobre querer carteira e salário justo é mais que falha técnica – é vício metodológico que favoreceu uma narrativa enganosa: a de que a informalidade é desejável. Tentaram vender a ideia de que não ter direitos é liberdade. A pesquisa, porém, desmonta essa fantasia. Ela mostra que a classe operária brasileira resiste e rejeita o mito do empreendedorismo precário. Reafirma o desejo por proteção, vínculo e direitos.


A velha e viva classe trabalhadora ainda ensina o valor da dignidade garantida por trabalho decente e protegido – e isso segue sendo um traço fundamental da sociedade brasileira.

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