A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em parceria com o Ministério da Saúde, divulgou recentemente o Vigitel Brasil 2008 – 2023, com dados de beneficiários de planos de saúde coletados pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal.
A amostra envolveu mais de 697 mil brasileiros. Desses, 371.394 afirmaram ser beneficiários de planos de saúde. A intenção é nobre. Visa identificar fatores de risco, formular políticas públicas e desenvolver modelos de cuidado que promovam a prevenção e a promoção da saúde. Além de ser um balizador das condições gerais de saúde da população brasileira, o relatório detalhou características como consumo alimentar (incluindo bebida alcoólica), atividade física, sobrepeso e obesidade, tabagismo, morbidade por doenças crônicas, comportamentos no trânsito, saúde bucal e vacinação contra gripe, entre outros hábitos.
O que chamou a atenção é a relação direta entre a queda do número de fumantes – de 12,4% em 2008 para 6,8% em 2023 – para o crescimento exponencial de adultos com excesso de peso – de 46,4% em 2008 para 60,9% em 2023, levando-se em consideração homens e mulheres, com destaque entre elas, cujo percentual aumentou de 38,6% para 55,4% em 15 anos, o que corresponde a aumento de quase 17 pontos percentuas no número de mulheres com sobrepeso.
No entanto, quando a pesquisa avaliou o quadro nas 26 capitais e no Distrito Federal, todos juntos, a proporção de homens com excesso de peso ultrapassa a de mulheres – 67,8% contra 55,4% (porcentagem citada acima). Enfim, foi observada uma alta em todas as faixas de idade e em todos os níveis de escolaridade.
Ao longo desses 15 anos, a rotina alimentar do brasileiro mudou significativamente, e para pior. Basta observar o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados e/ou industrializados, a diminuição de alimentos até então tradicionais no prato dos brasileiros – como a dupla arroz e feijão (mesmo sendo muito consumidos ainda) –, a avalanche de refeições prontas, lanches rápidos e saquinhos de salgados repletos de substâncias altamente nocivas ao organismo. Isso sem falar na redução do consumo de frutas, verduras e legumes, com consequências desastrosas para a saúde do brasileiro.
A verdade é que, nem mesmo a Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), RDC 429/2020, bem como a Instrução Normativa (IN 75/2020), que tratam dos requisitos técnicos para a declaração obrigatória da rotulagem nutricional dos alimentos embalados, fizeram com que a população se conscientizasse da importância de verificar as substâncias contidas nos produtos, ou seja, saber o que está sendo consumido.
O resultado está aí: independentemente da faixa etária e do nível socioeconômico, os brasileiros estão cada vez mais com sobrepeso ou obesidade. E, se formos acompanhar os prognósticos para 2030, a situação vai piorar – em cinco anos, mais de 119 milhões de adultos brasileiros terão sobrepeso ou obesidade, o que representa mais de 65% da população adulta, segundo o Atlas Mundial da Obesidade. Resta saber se teremos tempo para reverter esse quadro.