editorial

Economia gig desafia as relações de trabalho

Especialistas reconhecem ser impossível desacelerar o jeito moderno de comprar

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As relações de consumo têm se transferido para o mundo digital de forma indiscutível. Preço baixo e comodidade estão entre as razões para os brasileiros cada vez mais adquirirem produtos e serviços em poucos cliques. Até carro pode ser adquirido nas vitrines digitais, que contam com o trabalho de entregadores para fazer a engrenagem da chamada economia gig (gig economy, em inglês) funcionar.


Motociclistas e motoristas de carros movimentam uma atividade que deve fechar este ano com um faturamento de cerca de R$ 234 bilhões e 3 milhões de novos compradores. Sobre as rodas, profissionais autônomos, freelancers e prestadores de serviço se dedicam às entregas do e-commerce como renda única ou para elevar a receita familiar.


Em comum, relatos de rotinas pesadas — do estresse do trânsito à quantidade de entregas diárias, que chegam a 100 — e a falta de cobertura. O prejuízo devido ao desvio ou à perda da encomenda costuma ser de responsabilidade do trabalhador, que, na informalidade, pode se ver desassistido caso seja vítima de um acidente. A neuropsicóloga Juliana Gebrim elenca os prejuízos ainda para a saúde: irritabilidade, ansiedade, dificuldade de concentração e insônia estão entre os principais.


No Distrito Federal, cerca de 41 mil entregadores aderiram à economia gig. Em todo o país, são 1,49 milhão de brasileiros. O sistema tem atrativos, como flexibilidade de horário, autonomia para estabelecer preço e definir o tempo da jornada de trabalho e a possibilidade de atender a mais de uma plataforma digital, com objetivos diferentes. No outro lado da moeda, estão desvantagens, a começar pela insegurança financeira, quando comparada a contratos tradicionais de trabalho, como a CLT.


Professor e pesquisador do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Teles Viana descreve uma rotina de trabalho que preocupa: “O que se vê como eficiência logística é, na prática sustentado por um contingente de trabalhadores invisíveis, que inclui operadores, triadores (os que fazem a triagem), motoristas de longa distância e equipes de apoio. Todos submetidos a metas rígidas, jornadas extenuantes e sistemas de vigilância digital que transformam cada movimento em dado para aumentar a produtividade”.


Especialistas reconhecem ser impossível desacelerar o jeito moderno de comprar. E também admitem que é preciso buscar soluções para que a rotina dos profissionais do e-commerce se torne menos insalubre. O especialista em empreendedorismo Flávio Hideo entende que o novo modelo reflete mudanças naturais nas relações de emprego, atendendo a demandas comuns, inclusive, das novas gerações, mas é preciso “evoluir”, alerta. “Para isso, a regulamentação é importante, para que todos exerçam suas atividades de forma segura, com respaldo legal. Isso só não deve inviabilizar os negócios, como excessos de burocracia e tributações”.


Na comemoração do Dia do Trabalhador (1º de maio) deste ano, tanto a economia gig quanto a pejotização dos profissionais foram problemas lançados na mesa do governo. Os dados oficiais desafiam o poder público a encontrar uma solução para garantir e avançar nos direitos dos trabalhadores: são cerca de 32,5 milhões de brasileiros – 31,7% da força de trabalho – atuando de modo informal. Se falta segurança e bem-estar, há de se questionar as armadilhas da modernidade.

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