A farsa da anistia aos réus golpistas
Ficou claro, mais uma vez, que os "cidadãos de bem" e as "velhinhas com a Bíblia na mão" foram e continuam a ser massa de manobra de um grupo político que não
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Siga noAs investigações da Polícia Federal acerca da atuação de Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo para coagir o Supremo Tribunal Federal (STF) e provocar um impasse diplomático entre o Brasil e os Estados Unidos trouxeram à luz uma série de elementos, alguns constrangedores. Um deles são os indícios de que o ex-presidente desrespeitou as medidas cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes e manteve intensa comunicação por meios eletrônicos. Outra descoberta, até curiosa, foi a maneira chula e desrespeitosa como Eduardo Bolsonaro, aos palavrões, se dirige ao pai. Logo eles, que tanto dizem prezar a família e os bons costumes.
O mais revelador do relatório apresentado pela PF diz respeito a um aspecto que, a essa altura dos acontecimentos, tem ficado em segundo plano: a anistia aos réus da trama golpista que culminou no 8 de janeiro. A articulação dos Bolsonaro para induzir o governo norte-americano a aplicar sanções contra a economia e as autoridades brasileiras atende a um propósito específico: livrar o ex-presidente – e apenas ele – das contas da Justiça. Em certo trecho, o filho 03 vai ao ponto: “Se a anistia light passar, a última ajuda vinda dos EUA terá sido o post de Trump. Eles não irão mais ajudar”.
Nota-se, portanto, que o plano bolsonarista de denunciar supostos abusos cometidos pelo STF exclui os “patriotas” que passaram meses acampados em frente a quartéis e vilipendiaram os Poderes da República. Ficou claro, mais uma vez, que os “cidadãos de bem” e as “velhinhas com a Bíblia na mão” foram e continuam a ser massa de manobra de um grupo político que não aceita o resultado das eleições e tenta a todo custo se manter no poder.
O inquérito da Polícia Federal desmonta a narrativa de que Jair Bolsonaro é o maior injustiçado da ditadura do Judiciário e representa cidadãos que são perseguidos em razão de suas convicções políticas. Nada mais falso. Bolsonaro e seus acólitos buscam tão somente se reabilitar politicamente, de preferência com a chancela do eleitor. Para tanto, vão às últimas consequências: desrespeitam ordens judiciais, disseminam mentiras pelas redes sociais, tomam de assalto o comando do Congresso, buscam desmoralizar o Supremo Tribunal Federal, tentam convencer a opinião pública de que está em curso um movimento de caça às bruxas e de perseguição política no país.
Como forma de dissimular seus reais objetivos, os defensores da falsa anistia recorrem a uma cantilena que fala em ataque à liberdade de expressão, ditadura da toga, risco de Brasil se tornar Venezuela, ameaça do comunismo e outros absurdos. Trata-se de um castelo de cartas, que não se sustenta ante a realidade dos fatos. Infelizmente, essas aleivosias encontram ressonância fora do país, com prejuízos a todos – bolsonaristas ou não.
Com a revelação do nefasto plano familiar dos Bolsonaro, que nada tem a ver com um eventual perdão a participantes de ato antidemocráticos, cumpre ao Legislativo impedir qualquer iniciativa em favor de anistia a golpistas. É falso como uma nota de três reais alegar que o perdão a quem cometeu delitos trará pacificação. O Brasil precisa é preservar sua ordem constitucional e punir, nos termos da lei, aqueles que se aproveitam da democracia para imprimir um vale-tudo na política.