Escola é lugar de aprendizagem e paz
Casos de violência escolar aumentaram 667% em três anos
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Siga noA combinação, pelas redes sociais, de um suposto ataque a escolas públicas do Distrito Federal veio à tona nesta segunda-feira, quando a Polícia Civil cumpriu mandados de busca na casa de dois estudantes da cidade. Os jovens, que compartilhavam vídeos, fotos e mensagens com apologia à violência, planejavam “entrar para a história” com o feito, segundo os investigadores. Mês passado, câmeras de segurança de um colégio estadual de Brumado, na Bahia, flagraram um aluno de 17 anos dando um tapa na cara de uma professora que se recusou a ligar o aparelho de ar-condicionado, respeitando a escolha da maioria da turma. Em maio, uma jovem foi encontrada desacordada no banheiro de uma escola particular de São Paulo com um saco plástico amarrado na cabeça. Ela vinha sendo alvo de ataques racistas havia um ano.
Não faltam exemplos evidenciando que práticas de violência passaram a fazer parte da rotina das escolas brasileiras. Instituições que deveriam ser um espaço exclusivo para o desenvolvimento cognitivo e psicossocial de jovens têm se tornado palco para agressões de todos os tipos. Dados do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania indicam um aumento de 667% dos casos de violência escolar em três anos: de 1.710 em 2020 para 13.117 em 2023. Os números englobam lesões autoprovocadas, agressões físicas e verbais. Como os registros referem-se a atendimentos prestados às vítimas em serviços de saúde, não é exagero afirmar que o problema tem dimensões muito maiores.
A escalada nos casos de agressão no ambiente escolar vem acompanhada de outro fenômeno que preocupa pais e professores: a imersão dos jovens nas redes sociais. Ainda que o uso de celulares tenha sido limitado nas escolas em janeiro deste ano, há muito a se avançar para que crianças e adolescentes estabeleçam interações digitais mais saudáveis e controladas. A grande repercussão em torno das práticas de adultização denunciadas pelo influenciador Felca no início deste mês é prova disso: chegaram à SaferNet Brasil 1.651 denúncias em seis dias, 114% a mais do que no mesmo período do ano anterior.
Além da exposição de crianças e adolescentes em situações constrangedoras, a internet dissemina apologias ao extremismo, à violência de gênero, ao racismo, entre outros discursos de ódio. Estudantes e professores são alvos recorrentes. Levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra crescimento de 360% no número de postagens contendo ameaças a escolas entre 2021 e 2025. E o pior: os pesquisadores também observaram uma migração desses conteúdos da chamada Deep Web para a internet comum, evidenciando, no mínimo, uma falta de constrangimento em compartilhar textos e imagens antes restritos ao submundo digital.
Débora Messenberg, professora do programa de pós-graduação em Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), explicou que a frustração e a falta de perspectiva de futuro por parte dos jovens os transformam em presas fáceis para criminosos e propagadores de fake news. “É preciso construir uma metodologia de combate à desinformação e de uso da internet para um aprendizado saudável”, defende a especialista, que acredita que a escola é espaço estratégico nesse processo de busca por propósitos.
É também na comunidade escolar que se pode construir um ambiente de promoção da cultura de paz, reconhecidamente eficaz na redução de casos de violência, de evasão e de melhoras no desempenho em provas e demais avaliações. Não se pode perder de vista outros fenômenos que contribuem para o cenário de violência, como a desvalorização da docência e a precarização da infraestrutura escolar.
Disseminar o pacifismo em tempos de ódio alastrado é evidentemente tarefa complexa, que ultrapassa os muros das instituições de ensino, mas medida urgente. Os registros da vida real também não deixam dúvidas de que as novas gerações estão se perdendo em meio a post repletos de intolerância e desamor.