Apesar de a eleição para o Palácio do Planalto ainda estar distante mais de um ano do seu primeiro turno, a corrida eleitoral já teve a sua largada nas últimas semanas. Enquanto no campo mais à esquerda já há uma maior clareza, justamente pela possibilidade de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no âmbito conservador há incertezas sobre quem desafiará o atual dono da cadeira. Em jogo, está o eleitorado alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que, inelegível, é carta fora do baralho.
Vários nomes se colocam na mesa do tabuleiro, em especial os governadores Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Ronaldo Caiado (União), de Goiás; Ratinho Jr. (PSD), do Paraná; e Eduardo Leite (PSD), do Rio Grande do Sul. Entre diversos posicionamentos, eles convergem para um em comum: o gosto pela polarização.
No discurso, os postulantes a evitar um quarto mandato de Lula afirmam que o Brasil não merece viver a dicotomia entre o lulopetismo e o bolsonarismo. Garantem que oferecem uma terceira via. Na prática, porém, oferecem muito pouco ao eleitor que procura uma alternativa.
Como mostrou a última pesquisa Quaest, essa parcela da população é maioria, independentemente do recorte salarial. Entre os mais pobres, 56% não se classificam como lulistas nem como bolsonaristas. Essa fatia cresce para 69% na classe média; e para 72% entre os mais ricos. Ou seja, há uma rejeição à figura dos dois políticos que protagonizaram a disputa há três anos.
A oferta, no entanto, não atende a demanda. O discurso dos governadores pré-candidatos citados continua alinhado às bases do bolsonarismo. A defesa integral da anistia dos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro é o maior exemplo disso – sem entrar no mérito se há ou não exagero em algumas determinadas condenações do Supremo Tribunal Federal (STF).
A participação do governador de Minas Romeu Zema no Programa "Roda Viva", da TV Cultura, foi emblemática nesse sentido. Ele garantiu que seu vínculo com Bolsonaro “não é tão grande”, mas confessou que visitou o ex-presidente recentemente para informar sobre o lançamento de sua pré-candidatura em São Paulo, o que é chamado de “pedir a bênção” no jargão político.
A busca por uma “país pacificado”, para usar uma expressão dita por Zema no "Roda Viva", não deve passar por uma aproximação da polarização, até mesmo com a reprodução de falas recheadas de preconceitos contra minorias, mas pela apresentação de um plano de governo coerente com as necessidades da população, independentemente do espectro ideológico.
Na esquerda, falando diretamente do governo Lula, a elaboração de políticas públicas também precisa ser prioritária, ainda que os desafios sejam grandes no que diz respeito ao relacionamento com o Congresso Nacional majoritariamente conservador.
Em uma guerra de narrativas que dividiu o país, os números da Quaest escancaram a demanda da população por uma nova maneira de fazer política. Mesmo sem caneta federal nas mãos, os pré-candidatos, se querem ter sucesso nas urnas, precisam apresentar esse paradigma alternativo no discurso de agora, antes que seja tarde demais.