Em um mundo marcado por desafios sociais e econômicos cada vez mais complexos, o voluntariado surge como uma força silenciosa, mas extraordinariamente poderosa, capaz de transformar realidades e inspirar mudanças duradouras. Mais de 861 milhões de pessoas em todo o planeta dedicam parte de seu tempo e talento a ações voluntárias, de acordo com o mais recente estudo do Programa de Voluntários das Nações Unidas (UNV). É como se a terceira maior “população” do mundo trabalhasse, de forma gratuita, para ajudar o próximo – uma prova de que, na essência, a maioria das pessoas é cooperativa.
Mas o impacto do voluntariado não pode (e nem deve) ser medido apenas em números. Cada gesto carrega um significado profundo: o médico que oferece atendimento gratuito em comunidades afastadas mostra que o seu compromisso com a saúde das pessoas fala mais alto do que a preocupação com o retorno financeiro de suas atividades; o grupo de amigos que reforma uma escola pública comprova a importância do trabalho em equipe para a melhoria da realidade de toda a comunidade; o jovem que dedica o sábado a entregar cestas de alimentos a famílias em situação de vulnerabilidade revela o olhar atento para o próximo. Todas essas histórias são marcadas pela empatia e pelo compromisso com o bem comum. E, em todo o mundo, elas se multiplicam e deixam marcas permanentes em quem dá e em quem recebe.
Em Minas Gerais – terra de gente simpática e atenta às necessidades do próximo –, o voluntariado encontrou terreno fértil para florescer. Aqui, em 2009, nasceu o maior programa de voluntariado do cooperativismo brasileiro: o Dia de Cooperar, iniciativa que de tão impactante foi abençoada pelo saudoso Papa Francisco, em 2019. A iniciativa começou reunindo 139 cooperativas mineiras que, juntas, realizavam ações de voluntariado para beneficiar suas comunidades. Em 2014, o programa foi nacionalizado por conta de seus ótimos resultados, mobilizando cooperativas e voluntários de todo o país.
Aqui, no berço do programa, somente no ano passado, o Dia C mobilizou 13,7 mil voluntários de 266 cooperativas que, juntos, levaram ações de saúde, educação, cidadania e sustentabilidade a mais de 810 mil pessoas em 422 municípios. Desde 2022, foram aproximadamente 2 milhões de mineiros beneficiados, quase 10% da população do Estado.
Esses números impressionam, mas o que mais se destaca é a essência que os move. A convicção de que doar-se ao próximo é uma das formas mais genuínas de construir sociedades mais justas e resilientes. O voluntariado, quando vivido no cotidiano, reforça laços comunitários, inspira novas gerações e mostra que a transformação social começa por pequenas atitudes. É por isso que, a partir deste ano, a celebração do Dia C – que historicamente acontecia no mês de julho, próximo ao Dia Internacional do Cooperativismo – foi transferida para agosto, unindo-se simbolicamente ao Dia Nacional do Voluntariado (28 de agosto). Essa aproximação não é apenas uma coincidência de calendário, é uma reafirmação de que o voluntariado não deve ter data para acontecer, mas merece um momento de reconhecimento e inspiração coletiva. Ele é a prova de que, quando cooperamos, somos capazes de mudar não apenas a vida de quem recebe, mas também a de quem oferece. Porque doar-se ao próximo é a forma mais genuína de multiplicar a felicidade.
RONALDO SCUCATO
Presidente do Sistema Ocemg