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Sentimento de gratidão

A gratidão cura e traz paz ao coração, deixando-o repleto da sabedoria essencial à conquista de avanços

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Gratidão é um tratado existencial escrito a várias mãos. Na verdade, um tratado essencial nos processos de qualificação humana e espiritual. Não se tem formulação única e acabada que ensine a cultivar a gratidão – trata-se de uma escritura existencial que acolhe sempre novas lições, com variadas contribuições. Em cada coração, a gratidão é página que alicerça o viver, uma luz que brilha a cada dia, dando força e coragem para se seguir adiante. Um sentimento que é também retrato da alma, pois revela verdades à interioridade humana que nem mesmo a razão consegue expressar. Aqueles que são gratos perpetuam os dons recebidos, redimensionando a forma de enxergar a realidade, de modo a não deixar que nada anule a fonte das graças alcançadas. Ilustrativa e interpelante é a passagem do Evangelho que narra o encontro de dez leprosos com Jesus. Após serem curados, apenas um voltou para agradecer. Aquele que voltou, além da discriminação sofrida em razão de sua enfermidade, ainda padecia do preconceito por ser estrangeiro. O Mestre pergunta: “E os outros nove, onde estão? Os demais agraciados com o dom da cura se desobrigaram do dever de voltar para agradecer. Esqueceram-se da fonte de onde brotou a graça alcançada. Agir com indiferença, ao invés de cultivar a gratidão, abre portas para o orgulho e a soberba que matam a humildade.


A contemporaneidade carece da nobreza de ser grato por tudo, até mesmo por um copo de água fresca oferecido com amor. Todos recebem gestos de benevolência, favores grandes ou pequenos, ajudas e reconhecimentos que se tornam alicerces para viver bem. Muitos podem até não perceber, mas recebem, com frequência, dons e graças advindos da bondade de outras pessoas, em diferentes etapas da vida. Isto significa que cada pessoa deve constituir uma reserva de gratidão. Essa reserva pode sustentar a vida, configurar a grandeza humana e espiritual que alicerçam o viver de modo qualificado. A gratidão tem força para transformar o coração. Já a ingratidão adoece, e o ingrato fere seu próprio benfeitor. Quem sofre mais é o ingrato, pois apequena-se a partir da indiferença. Aprisiona-se no orgulho e na soberba, esquecendo-se dos dons recebidos. O orgulho e a soberba, na contramão da gratidão, cegam. Fazem o ingrato atribuir somente a si a responsabilidade pelo bem recebido, desconsiderando seus benfeitores.


Naqueles que são ingratos, frequentemente, a condição psicoafetiva fragilizada se revela contracenando com formulações racionais, aparentemente lúcidas e cativantes, mas sem força para agregar e convencer. O ingrato, sem o nobre sentimento de reverência em relação ao semelhante e às instituições que, de alguma forma, contribuíram com a sua vida, apega-se à convicção de que é “dono da verdade”, aprisiona-se radicalmente em seu próprio ponto de vista, alimentando ações autoritárias. Esse patológico sentimento de onipotência pode ser curado pelo exercício da gratidão. Sem esse exercício, o ingrato torna-se um verdadeiro escândalo, com posturas que impedem a prolação de uma palavra de reconhecimento sobre o bem que recebeu. Ao invés de agradecer, justifica sua indiferença pelo orgulho, com propensão a fazer nascer mágoas, a considerar-se vítima de injustiças e até a envolver-se com sentimentos de vinganças. A ausência da gratidão promove rupturas e leva à carência de gestos nobres, destrutivamente ferindo vínculos de fraternidade e amizade, com incidências nefastas sobre a solidariedade.


Quando falta gratidão a Deus e a benfeitores, “encurtando” a memória e relativizando todo bem recebido, as portas se abrem à inimizade que faz sombras à alegria do viver. Mágoas silenciam o cântico do encantamento e tudo passa a ser enquadrado na mesquinhez. Gratidão é remédio para combater a soberba e o orgulho. Ser grato é engajar-se no rito que reveste o coração de simplicidade e sabedoria para reconhecer o bem recebido. A gratidão atualiza a memória do coração e vence divergências que são comuns à existência humana, pois libera amarras, possibilita ver o semelhante sem rancores, preconceitos e discriminações. Gratidão é luz, ingratidão é sombra. Gratidão é liberdade interior, ingratidão é prisão. Gratidão é reverência, ingratidão é insolência. Gratidão é desapego, ingratidão é mesquinhez. Gratidão é permanente ação de graças no altar do coração, ingratidão é culto às mágoas. Gratidão é passo adiante, ingratidão é tropeço.


Ser grato sempre para fazer brotar a sabedoria que arquiteta a autêntica fé em Deus e articula a vida em reconciliação com o semelhante. Escreva e medite o seu tratado da gratidão para qualificar sempre mais a sua vida, enobrecer seus gestos, fecundar sua atuação, garantir a amizade social e a coragem de lutar pelo bem comum. Gratidão por tudo, sempre, é investir no surgimento de uma nobreza que pode, pela força de sua palavra e pela singularidade de seus gestos criativos, mudar o mundo. A gratidão cura e traz paz ao coração, deixando-o repleto da sabedoria essencial à conquista de avanços. Todos cultivem o sentimento de gratidão.

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