Câncer de mama exige rede ampliada de cuidados
A partir deste mês, a mamografia passa a ser recomendada aos 40 anos – 10 anos antes do protocolo anterior – mesmo sem sintomas ou sinais da doença
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Entre os tumores mais prevalentes do mundo, o câncer de mama revela-se ainda mais desafiador quando analisado a partir de uma perspectiva ampliada. Os impactos da vida moderna, a desinformação em saúde, as carências na assistência pública, as concepções de gênero e até mesmo a falta de pesquisas científicas que considerem características próprias das brasileiras compõem uma coleção de fatores que leva o país a registrar, todos os anos, 73 mil casos da doença e 20 mil mortes. São, em média, 200 diagnósticos por dia e 55 óbitos. Indiscutivelmente, um cenário que exige uma rede integrada de cuidados.
Hoje, no Brasil, 30% das pacientes têm menos de 50 anos – o equivalente a 21,9 mil diagnósticos por ano ou 60 novos casos por dia. São mulheres que, no auge da vida produtiva, se veem acometidas por uma doença que, mesmo com todos os avanços terapêuticos, exige uma mudança brusca na rotina e traz consigo uma pesada carga emocional e cultural. Para piorar, em ao menos metade dos casos, essa realidade se impõe com um câncer em estágio avançado.
Nesse sentido, o governo federal acerta ao adotar nova diretriz de rastreamento do câncer de mama, acompanhando recomendações de sociedades médicas nacionais e internacionais. A partir deste mês, a mamografia passa a ser recomendada aos 40 anos – 10 anos antes do protocolo anterior – mesmo sem sintomas ou sinais da doença. A expectativa é de que a medida ajude o país a “garantir que as mulheres tenham acesso ao exame no momento certo e ao início do tratamento o mais rapidamente possível”, nas palavras do ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Trata-se de grande empreitada. Considerando o protocolo antigo, de 50 anos, apenas um terço do público-alvo realiza a mamografia anualmente no país, estima o Inca. Quanto ao tratamento, a incorporação de terapias mais modernas ao SUS tem avançado nos últimos anos, mas peca-se na distribuição das opções terapêuticas. Mudar-se para grandes cidades em busca de cura é decisão comum entre pacientes oncológicos – a Fiocruz estima que mais da metade enfrenta essa realidade –, comprometendo, inclusive, as taxas de sobrevida.
No caso das mulheres, tanto o deslocamento forçado quanto a adoção de hábitos preventivos esbarram ainda em dilemas como as responsabilidades com a família e a falta de acolhimento dos parceiros. “Como cobrar a prática de atividades físicas de uma mulher que tem jornada dupla ou tripla, cuida da casa, das crianças, acorda cedo e trabalha até tarde? Que horas ela vai conseguir se exercitar ou fazer uma mamografia? (...) Precisamos lembrar que falta apoio para essas mulheres”, ressalta o oncologista Cristiano Resende.
Não sobram evidências científicas de que suporte ampliado e diagnóstico precoce salvam vidas. Descoberto em fase inicial, o câncer de mama tem taxa de cura superior a 90%. A prática de exercícios físicos reduz em 40% a chance de a doença surgir ou voltar. Associa-se a solidão a um risco até 60% maior de recidiva de tumores malignos. É validada, portanto, a importância do apoio integral para frear o tumor que mais mata as brasileiras. O Brasil tem a obrigação de fortalecer essa rede de cuidados.