Saúde da mulher no Brasil e seus desafios
O país precisa enfrentar as questões ligadas ao bem-estar físico feminino em um esforço que deve partir das famílias, das escolas e do SUS já no começo da adole
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O Brasil acompanha as ações de mais um Outubro Rosa, período dedicado à prevenção e tratamento do câncer de mama e do colo do útero. Desde 2002, quando houve em São Paulo o primeiro ato simbólico nesse sentido, as campanhas vêm se intensificando. A partir de 2010, depois que o Instituto Nacional do Câncer (Inca) aderiu oficialmente, o movimento ganhou cada vez mais força. Essa importante caminhada acumula conquistas relevantes, mas as estatísticas mostram que há muito a ser conquistado em relação à saúde da mulher no país.
Segundo dados do governo federal, são registrados por ano mais de 73 mil novos casos de câncer de mama e mais de 17 mil do colo do útero – números altos para doenças com exames de diagnóstico disponíveis. A mamografia e o autocuidado são formas eficazes de identificar o tumor nas mamas. Já a vacina contra o HPV previne o câncer do colo do útero e faz parte do calendário do Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas de 9 a 14 anos. Porém, existe bastante negligência da população e pouca eficácia das políticas de governos.
Não é raro vermos relatos de mulheres que esperam meses, e até anos, por uma mamografia no sistema público. O ultrassom das mamas, então, é mais complicado ainda de acessar. Essa morosidade impacta no tratamento, que também apresenta dificuldades. Do outro lado, a desinformação e o preconceito da sociedade agravam o problema.
Fato é que o país precisa enfrentar as questões ligadas ao bem-estar físico feminino em um esforço que deve partir das famílias, das escolas e do SUS já no começo da adolescência. O conhecimento e a orientação são fundamentais para reduzir a incidência de enfermidades. A endometriose, por exemplo, afeta 7 milhões de mulheres – uma em cada 10 –, segundo a Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE). Conforme a entidade, mais de 30% dos casos levam à infertilidade e 57% das pacientes têm dores crônicas. No entanto, de acordo com a SBE, a estimativa não significa que elas sejam diagnosticadas ou recebam a terapia adequada.
Outra preocupação está relacionada à mortalidade materna. O Brasil assumiu o compromisso de cumprir a proposta das Nações Unidas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de, até 2030, reduzir para, no máximo, 30 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos. Mas a realidade recente mostra que a distância da meta é desafiadora: os índices giraram em torno de 110 mortes de mulheres a cada 100 mil nascidos vivos em 2021, 71,9 em 2020 e 57,9 em 2019, numa crescente alarmante.
Ampliar o alcance das consultas; assegurar rapidez para exames, medicação e cuidados; oferecer uma rede multidisciplinar de apoio; disseminar informação; investir na infraestrutura dos equipamentos de prestação de serviços, como clínicas e maternidades; disponibilizar recursos e desenvolver pesquisas são algumas das ações que precisam ser incrementadas.
A bandeira do Outubro Rosa é fundamental. Mas o país tem de se conscientizar – em níveis governamental, social e institucional – de que o amplo tema da saúde da mulher deve ser destaque nas discussões que buscam garantir um Brasil com melhor qualidade de vida.