A cada eleição que passa, a corrida política fica marcada por pautas específicas. Temas como os combates à corrupção, à pandemia e às fake news marcaram os últimos pleitos, por exemplo. Para 2026, as últimas semanas mostram que a ordem do dia precisa passar pelo enfrentamento ao crime organizado.
O último tentáculo exposto do Primeiro Comando da Capital (PCC) mostra que a maior facção criminosa do país pode ter relação com a adulteração de bebidas alcoólicas antes da venda, a partir da mistura desses produtos com o metanol, um líquido incolor e altamente tóxico para o corpo humano, capaz de matar. Seu uso mais comum se volta à indústria, principalmente à produção de biodiesel, solventes, tintas e produtos farmacêuticos.
Para além do inquérito aberto pela Polícia Federal na história do metanol; da execução do ex-delegado Ruy Fontes em Praia Grande (SP); e da lavagem de dinheiro nas fintechs da Faria Lima; os fatos das últimas semanas escancaram um paradoxo lamentável: de um lado, está o PCC extremamente organizado e em plena ascensão em sua atuação; de outro, o estado, completamente inoperante e falho para representar e proteger a população, ainda que amparado pela Constituição.
Ficam três perguntas principais diante das repercussões. Como frear o crime organizado diante da complexidade e do poder que o envolve? Em segundo lugar, com anuência de quem essas pessoas conseguiram tamanho espaço no poder decisório do país, tendo a ousadia de até mesmo executar um ex-delegado-geral? Por último e não menos importante: se o PCC está no mercado financeiro, no tráfico de drogas e de armas, nos postos de combustíveis e talvez até mesmo no comércio de bebidas alcoólicas, onde mais a facção atua?
São perguntas importantes e que precisam ser respondidas por quem pretende concorrer ao Planalto em 2026. Se a segurança pública depende cada vez mais dos estados, administradores das polícias Civil, Militar e Penal, além do Corpo de Bombeiros, os governadores precisam apresentar políticas públicas eficientes nessa área, capazes de dar alguma saída para a população desprotegida.
É preciso pensar, sobretudo, uma solução para o enorme déficit do sistema carcerário, as divisões de base das facções criminosas. Lá, jovens, principalmente pretos e pardos, entram como traficantes de buchas de maconha e ladrões de celular e saem assaltantes de banco e narcotraficantes.
Aqui, não deve se eximir também a responsabilidade do governo federal e também do Congresso Nacional. É necessário lembrar que boa parte da atuação do crime organizado é internacional, portanto de responsabilidade, sobretudo, da Polícia Federal e da articulação diplomática.
Com menos ou mais responsabilidade de cada fatia do poder público, o certo é que o enfrentamento ao crime organizado exige uma união de diferentes atores, inclusive da sociedade em sua capacidade de pressão. É preciso se organizar, como as facções já têm feito há anos e anos.