De uma conversa de “uns 20 segundos” nos corredores da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, para uma “muito boa” videoconferência com duração de 30 minutos, na manhã de ontem. Sem dúvidas, Brasil e Estados Unidos deram um salto diplomático em um intervalo de 13 dias, considerando a crise instalada desde que o líder republicano retornou à Casa Branca. É cedo para assegurar que “os dois países se darão muito bem juntos”, como escreveu o estadunidense na rede social Truth Social. Mas há de se comemorar que, nessa tentativa de reaproximação, não há recuo por parte do governo brasileiro quanto à defesa da soberania nacional.
A videoconferência teve como foco principal economia e comércio, relatou Donald Trump. Em nota, o Planalto deu mais detalhes sobre o teor da conversa. Lula pediu a revogação das tarifas de 40% aplicadas a produtos brasileiros e o fim “das medidas restritivas aplicadas contra autoridades” – sem citar atingidos, como o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e sua esposa, alvos da Lei Magnitsky. Reforçou ainda a força financeira da relação entre os dois países – o Brasil é um dos três membros do G20 com quem os EUA mantêm superávit na balança de bens e serviços. Desligou convencido de que foi “uma oportunidade para a restauração das relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente”.
Também presente à videoconferência e otimista com os próximos capítulos, o vice-presidente Geraldo Alckmin acredita em uma redução das tarifas no curto prazo. Não se pode desconsiderar que a escolha do secretário de Estado americano, Marco Rubio, para conduzir as negociações preocupa – além de ligado ao bolsonarismo, ele tem um histórico de posições agressivas em relação à política externa dos EUA. Mas Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que também estarão na mesa de negociação, têm os seus trunfos.
Podem favorecer os brasileiros a constatação de que o tarifaço, até o momento, prejudicou o país menos do que o esperado, como mostra levantamento recente da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), o fato de Jair Bolsonaro já ter sido condenado e até mesmo a existência de pressões internas para que Trump reveja o tarifaço. Diferentemente do que foi prometido pelo presidente, a escalada tarifária tem resultado, por exemplo, em demissões em indústrias que seriam beneficiadas e no aumento do custo de vida. 
Nesse cenário, é prudente que o governo brasileiro mantenha a estratégia adotada desde o começo da crise: abertura ao diálogo com pragmatismo, baseada em dados concretos e imune às provocações, como resumiu recentemente o chanceler Mauro Vieira. Minutos antes de a “boa química” entre Lula e Trump surgir, o líder brasileiro reafirmava, na abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU,  que “nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis”. Devem  seguir, assim como a cautela diante das sinalizações de um líder conhecido pelo apreço à instabilidade.
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