Retirada de fios urbanos: a cidade respira melhor

O futuro de Belo Horizonte depende da capacidade de pactuar com o coletivo. Isso significa fortalecer a ideia de que o espaço público é um bem de todos, e não u

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Alexandre Nagazawa

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Arquiteto urbanista e diretor da Bloc Arquitetura Imobiliária

Aaprovação, em segundo turno na Câmara Municipal, do projeto de lei que estabelece regras para a organização dos cabos de telefonia e dados em Belo Horizonte é mais do que uma mera burocracia técnica. O texto obriga o Executivo a notificar prestadores de serviços que utilizam fiação aérea, exigindo a remoção imediata de cabos rompidos, inativos ou abandonados, sob pena de multa.
O projeto altera o Código de Posturas de Belo Horizonte e estabelece a responsabilidade

direta das empresas não só pela manutenção, mas também pela retirada da fiação que ofereça riscos à segurança e interfira na circulação de veículos e pedestres. Além disso, a lei prevê a criação de um canal exclusivo para que o cidadão possa denunciar situações de fios partidos ou perigosos nas vias públicas.


A iniciativa é um alívio, um gesto de carinho e respeito à nossa cidade, à sua imagem e da qualidade de vida que nós, moradores, merecemos. A presença de fios soltos, amarrados de forma improvisada ou simplesmente abandonados nos postes é uma triste realidade do nosso cotidiano, criando uma paisagem marcada pelo excesso visual e pela sensação de falta de cuidado. Organizar e retirar esses cabos é um passo importante para reconectar a cidade à ideia de ordem, clareza e zelo com o espaço comum.


A começar pelo patrimônio histórico, a medida tem potencial para devolver a leitura íntegra de nossos conjuntos urbanos. Fachadas, alinhamentos de quarteirões, perspectivas monumentais: tudo isso hoje se encontra fragmentado por linhas aéreas que atravessam e poluem o campo visual. A retirada ou reorganização desses cabos permite que a arquitetura, antiga ou contemporânea, volte a respirar em sua plenitude. Em áreas tombadas ou de valor paisagístico destacado, isso é especialmente relevante.
Há também um ganho direto na limpeza urbana. A cidade se torna mais leve, menos carregada. A paisagem fica mais contínua, a percepção do espaço melhora e, com ela, a relação do cidadão com o lugar onde vive. Pequenos gestos de cuidado têm efeito multiplicador, ou seja, quando o espaço público demonstra atenção, a comunidade tende a retribuir.


O cabeamento subterrâneo surge, naturalmente, como alternativa ideal do ponto de vista visual. Paris, Viena, Amsterdã, Tóquio e várias cidades norte-europeias optaram por essa solução, alcançando ambientes urbanos limpos, coerentes e com forte expressão estética. Podemos ver também bons exemplos aqui mesmo no Brasil, em pontos específicos em cidades como São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Brasília, inclusive em Belo Horizonte, temos infraestrutura subterrânea. Em muitos desses lugares, a transição se deu de forma gradual, por trechos e áreas estratégicas, sempre ligada a projetos de renovação urbana já em curso.


No entanto, o enterramento de cabos exige investimentos altos, obras mais complexas e planejamento integrado com água, esgoto, energia e drenagem. Em solos com topografia acidentada, clima úmido ou redes antigas, o custo pode se tornar significativo. Não é inviável, mas exige visão de longo prazo e pactos municipais estáveis, algo que poucas cidades no Brasil conseguiram sustentar até hoje.


A discussão ultrapassa a engenharia. Organizar os cabos é afirmar que uma cidade não é apenas um conjunto de fluxos funcionais, mas uma construção sensível de valores coletivos. É reconhecer que a qualidade do espaço urbano afeta diretamente a maneira como vivemos, trabalhamos, caminhamos e sentimos pertencimento.


O futuro de Belo Horizonte depende da capacidade de pactuar com o coletivo. Isso significa fortalecer a ideia de que o espaço público é um bem de todos, e não uma terra de ninguém. Significa assumir que beleza, ordem e clareza não são luxos, mas condições essenciais para uma vida urbana digna.
Ao remover fios pendurados, nós removemos também um pouco das camadas de descuido que acumulamos ao longo de décadas. Ganha-se visibilidade de monumentos. Ganha-se tempo na manutenção das redes. Ganha-se orgulho do lugar onde se vive.


O gesto pode parecer pequeno, mas aponta para uma cultura de zeladoria mais profunda. Aquela que entende a cidade como um corpo vivo que merece atenção, cuidado e, principalmente, respeito. 

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