ANDREIA DONADON LEAL
Mestre em literatura e
doutora em educação

Tainara poderia ter sido nossa filha, sua sobrinha, minha prima, nossa enteada, sua vizinha, nossa amiga, sua colega de trabalho, minha colega de escola, nossa conhecida… Tainara poderia ter sido eu, você ou qualquer uma de nós. Ela e tantas outras representam o símbolo do ódio contra mulheres, a negação da liberdade de ir e vir, de vestir, de se divertir nas festas, de escolher seus próprios caminhos e de se expressar com liberdade. Cada violência, soco, surra e vidas ceifadas são lembretes de uma sociedade machista e um alerta doloroso de que políticas públicas efetivas ainda estão só no papel.


A cada dois minutos, uma mulher é agredida em nosso país. Os casos de feminicídio têm aumentado diariamente, revelando uma realidade desumana contra a mulher. Esses números não são apenas estatísticas; representam histórias de vidas destruídas, famílias desintegradas e uma sociedade que ainda luta para reconhecer e valorizar a dignidade e a liberdade da mulher! Até quando seremos violentadas, socadas, dilaceradas, humilhadas e assassinadas em vias públicas, em casa, nos bares, nas festas? Até quando seremos desovadas em terrenos baldios; enforcadas, asfixiadas e cortadas? Até quando?


É fundamental que medidas mais efetivas sejam implementadas para combater essa epidemia de violência contra a mulher. A aplicação das leis para responsabilizar agressores e garantir a proteção das vítimas. As medidas protetivas, garantindo que mulheres ameaçadas, não podem se transformar em prisões às vítimas, enquanto agressores continuam livres, fazendo novas ameaças. Programas de educação aos agressores são essenciais, para mudar a cultura que normaliza a violência.


Nesse contexto, a cidade de Mariana implementou um projeto-piloto de Justiça Restaurativa Parcial, executado pela Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil em parceria com o Fórum da Comarca. O projeto realiza círculos da paz e das artes no Fórum e na Casa de Cultura, oferecendo uma abordagem para autores de violência doméstica. O foco é a reeducação dos autores de violência contra mulheres, utilizando palestras e atividades de escrita e arte terapêutica como ferramentas para auxiliar no combate à violência doméstica. Essa iniciativa visa promover reflexão, empatia e transformação comportamental, ajudando a construir novos horizontes nas relações sociais, em que as pessoas, independente do gênero, estabeleçam relações respeitosas, de comunicação não-violenta e cooperativa nos fazeres cotidianos, rompendo com o ciclo de violência e de agressões.


Além disso, é necessário um fortalecimento das políticas públicas voltadas para a prevenção e o combate à violência de gênero, com investimento em campanhas de conscientização em escolas e capacitação continuada e valorização de profissionais que lidam com essas situações. A sociedade deve se unir para exigir que as autoridades tratem essa questão com a seriedade que merece, promovendo um ambiente em que todas as mulheres possam viver sem medo, dignidade e liberdade de ir e vir.


Tainara e tantas outras vítimas de feminicídio e violência doméstica são símbolos de uma luta por uma sociedade de paz. É hora de transformar dor, revolta e indignação em ação pela paz, sem se deixar cair na falácia dos que acham que é preciso endurecer leis. Leis duras empoderam a violência! É preciso empoderar a paz! Para construir um futuro em que nenhuma mulher tenha que temer pela sua vida e lutar pela construção da cultura da paz!

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia


Que continuemos buscando uma esperança de ver sociedades harmoniosas, sem rastros machistas, sem pregações que insistem em restringir os passos femininos (que incentivam feminicídios); sem qualquer força misógina/feminicida que amordace a voz feminina ou limite o direito feminino de ir e vir, sair e voltar, nascer e viver! Só há sociedade, se houver mulher viva!

compartilhe