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Leia poemas do livro 'Cartas ao mar', de Mário Alex Rosa

Após oito anos de espera, poeta mineiro lança trabalho marcado por equilíbrio e desequilíbrio de emoções, tensões, imagens e indagações

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“Carta ao Mar”

Prezado senhor:
venho lhe informar
que o navio naufragou,
que a guarda costeira
não pôde avisar antes
por causa do mau tempo
por causa do seu temperamento
por causa daqueles sentimentos
que o senhor sabe e bem conhece,
por isso pedimos desculpas, mas
o senhor compreenderá que nos faltam palavras
nessas horas quando tudo é
só.

“Bilhete”

Deixa o corpo
no corpo do outro
outonando —
se para o inverno.

Deixa o odor
da dor amar
o amor do outro.

Deixa o corpo
ser o oculto
do outro.

“Palavra menor”
(para Adélia Prado)

Não tenho fé nenhuma.
Até tentei tê-la quando
por uma insignificância menor
que seu tamanho um poema deu as caras,
e achei que tinha a cara de Deus.
Era apenas um achado, mas achado assim
é tão raro quanto a minha fé.

“A unha do poeta”
(para Armando Freitas Filho, meu poeta)

A unha do pão de açúcar
encrava o jardim da casa
desde o nascedouro
fincada como pedra
para a palavra-pedrada
não seca, mas dura de sal grosso,
vinda de suas raízes, rocha para sempre.
A mão que a toca tocada fica
como se verifica nessa poesia
de dias claros como o sol da baía
de tardes duras na sua Urca
à procura de palavras sem burca.
A unha da mão fere o branco
grafitado de cinza-pedra, de azul anil
do céu aberto do amor que se espera
antes do fuzil sangrando o jornal
comprado na banca.

  

Sobre o autor

Autor de “Ouro Preto” (2012) e “Via férrea” (2013), o poeta mineiro Mário Alex Rosa esteve mais ocupado nos últimos anos com o trabalho de editor (revistas, edições tipográficas) e organizador de exposições de artes visuais. Os poemas de “Cartas ao mar” começaram a ser escritos em 2010 e foram concluídos em 2015. Após oito anos de espera, o livro ganha lançamento pela livraria e editora Scriptum, onde o autor trabalhou e publicou “Ouro Preto”. “Mesmo que em alguns poemas o ritmo seja mais ágil, mais breve, em oposição a muitas convenções, tudo acaba por ter seu peso”, escreve Júlio Castañon Guimarães na apresentação de “Cartas ao mar”. “O que importa sobretudo é que essa poesia sabe equilibrar e desequilibrar emoção, tensões, imagens e indagação.”

"Cartas ao mar" de Mário Alex Rosa

"Cartas ao mar" de Mário Alex Rosa

Reprodução

“Cartas ao mar”
l Mário Alex Rosa
l Editora Scriptum
l 88 páginasl Lançamento neste sábado (18/11), de 11h às 14h, na Livraria Scriptum (Rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi, Belo Horizonte)

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