O projeto “República Jenipapo” está de volta com o lançamento do livro “Vamos falar de relações raciais? Crônicas para debater o antirracismo” (Autêntica), da mineira Cidinha da Silva. A autora mineira vai conversar com a pesquisadora Isabella Souza e com a professora Heloisa Starling. Cidinha tem mais de 20 livros publicados, entre eles “Um Exu em Nova York” (Prêmio da Biblioteca Nacional, 2019), “Os nove pentes d’África” (selecionado para o PNLD Literário 2020) e” O mar de Manu” (APCA 2021, Melhor Livro Infantil).

Ela também foi responsável pela organização de obras essenciais para a discussão sobre as relações raciais contemporâneas no Brasil, tais como “Ações afirmativas em Educação: experiências brasileiras” (2003) e “Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil” (2014). A primeira edição de 2025 do projeto será realizada na Livraria Jenipapo na próxima terça-feira (25/2), às 19h, na área externa da Livraria Jenipapo (Rua Fernandes Tourinho, 241, Savassi, BH), com entrada franca.

Poemas de três tempos 

“Fanatismo”
De Florbela Espanca

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver.
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros.
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...”

(Do livro “Sonetos”, da escritora portuguesa Florbela Espanca (1894-1930), que acaba de ganhar reedição pela editora José Olympio. O poema acima foi musicado pelo cantor cearense Fagner no álbum “Traduzir-se”, de 1981)

“Cantiga”
De Marly de Oliveira

Fogo de lírios,
corpo inclinado.
Erva, silêncio,
pasto, cavalo.

Furor de gemas,
pressa de galo,
arquitetura
de cristal raro.

Nenhuma sombra
no teu encalço;
o teu enigma
é ser tão claro.

(De “Antologia Poética”, da poeta capixaba Marly de Oliveira (1935-2007), recentemente reeditado pela Editora Record.)

“Mostra monstra”
De Angélica Freitas

com uma flor te espero
passados os terremotos
com a vigência das águas
espero para dar-te uma flor

com a flor que cuidei
flor de redoma, te espero
baixadas as águas dos rios
para te ofertar uma esperança

passadas as ondas
de calor extremo
te espero com um sorriso
e uma flor

(De “Mostra monstra”, da poeta gaúcha Angélica Freitas, nascida em Pelotas em 1973, pela coleção Círculo de Poemas)

Paloma Vidal lê “Belas viúvas”, de Jairo Carmo

“A morte veio em hora errada” – esta reflexão poderia atravessar o pensamento de vários personagens do segundo romance de Jairo Carmo. Caleidoscópico, “Belas viúvas” cruza tempos e espaços (do interior da Amazônia ao Rio de Janeiro, passando por Brasília; da década de 1950 à passagem de 1984 a 1985) para exprimir o caráter frágil de nossa existência neste mundo.


“Cada pessoa se arranja de uma maneira, dizia Glorinha para consolar. Eis a questão: como se arranjar?”. A personagem é uma das viúvas do livro, cuja trama se tece em torno da história de alguns casais. Mas quem protagoniza realmente estas páginas é Marta Benício, figura complexa e cativante, que não tendo mais ao seu lado o companheiro de uma vida, Aníbal Pinheiro, revive memórias e enfrenta seu presente.


Por meio de uma linguagem precisa, com gosto pelo aforismo, Jairo Carmo nos envolve na trajetória dessa mulher que não teme encarar os cantos obscuros de seus sentimentos, vivendo com intensidade, dentro dos limites definidos por sua época. É também para ela que “Belas viúvas” se volta, com indubitável atualidade, aprofundando-se no papel subjetivo e social da religião e trazendo à tona, sem rodeios, a violência ditatorial que tanto marcou a história do Brasil”


“Crente ou descrente, o grande conflito é viver”, resume o narrador. Eis uma lição fundamental deste livro esboçado na juventude e – felizmente para seus leitores – retomado como parte da trilogia romanesca iniciada com “Carnaval amarelo”. Nela, Jairo Carmo vai nos aproximando das contradições dos laços afetivos que nos fazem ser o que somos, seres apegados às pessoas e às palavras, desejosos de alcançá-las.”


Apresentação da escritora e tradutora Paloma Vidal para o romance “Belas Viúvas”, do escritor Jairo Carmo. Nascido em Monte Alegre (PA), Jairo Carmo é professor de Direito Civil e membro da Academia Brasileira de Letras da Magistratura (ABLM). Premiado pela Academia Fluminense de Letras (AFF), já publicou cinco livros de contos: “O cão do teu olhar”, “Balaio de dois”, “Histórias inverossímeis”, “Amores subversivos” e “Depois de tudo”. O primeiro romance, “Carnaval amarelo”, saiu em 2023. Lançamento da editora 7Letras, “Belas viúvas” tem 255 páginas e custa R$ 59,90.

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