ACONTECIMENTOS

Milton Hatoum: 'No fundo, o novo livro é uma homenagem a Minas'

No lançamento de 'Dança de enganos', Milton Hatoum homenageia Minas e comenta política, memória e criação literária

Publicidade
Carregando...

“Ouro Preto... Eu queria morar lá.” A revelação de Milton Hatoum veio no fim da edição especial do projeto Letra em Cena, na noite da última quarta-feira (29/10), no teatro do Centro Cultural Unimed, do Minas. “Ouro Preto faz parte da minha vida. Nos anos 70, quando eu era a caricatura de um subversivo, cabeludo e barbudo, frequentei o Festival de Inverno: tinha teatro, música, poesia... era um grito de liberdade. Mas também tinha repressão”, lembrou o autor de “Dois irmãos”. Ele esteve em BH para o lançamento de “Dança de enganos”, terceiro volume da trilogia “O lugar mais sombrio”, com passagens ambientadas em Ouro Preto e Congonhas.

Fique por dentro das notícias que importam para você!

SIGA O ESTADO DE MINAS NO Google Discover Icon Google Discover SIGA O EM NO Google Discover Icon Google Discover

Leia: Novo livro de Milton Hatoum é ambientado em Ouro Preto

“No fundo, esse ‘livrinho’ é uma homenagem a Minas”, contou o escritor, ressaltando a inclusão na última página da edição de um poema, “Flores de Ouro Preto” do juiz-forano Murilo Mendes (1901-1975): “Dos grandes poetas, é o menos lido”. No dia seguinte, Hatoum voltou ao Minas, dessa vez para uma sessão comentada de “Retrato de um certo Oriente”, adaptação do cineasta pernambucano Marcelo Gomes para o romance de estreia do manauara. “Era um livro difícil de ser adaptado, mas Marcelo conseguiu fazer o filme do livro que ele leu”, observou o autor, que não leu o roteiro antes das filmagens. “Nem vejo como adaptação e sim como transcriação: mas a essência do livro está na tela, assim como grandes temas literários, como a viagem, o amor e a morte”, ressaltou.   

Leia: Quem é Milton Hatoum, um dos maiores escritores vivos do Brasil

Depois da participação no Flitabira em duas mesas neste final de semana, o escritor vai a Ouro Preto na próxima segunda-feira para a abertura do XX Fórum das Letras, a partir das 18h30, no Anexo do Museu da Inconfidência, em conversa mediada por Guiomar de Grammont. Na terça, ele encerra em Mariana o périplo mineiro com palestra no Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da UFOP, às 19h, sobre “Literatura, História, Violências”. Confira, a seguir, algumas das declarações de Hatoum durante a conversa com José Eduardo Gonçalves no Letra em Cena, que contou ainda com leituras do ator Odilon Esteves.

Ligação com o presente

“Dos três volumes (da trilogia “O lugar mais sombrio”), esse é o mais reflexivo. O que mais deu trabalho para pensar. Porque eu achava que tinha de ligar, ainda mais, o passado com o presente, com os últimos anos do Brasil.”

A arquitetura do romance

“(Hatoum é formado em Arquitetura pela USP) Fiz alguns projetos horríveis, dei aula de História de Arquitetura, mas ficou uma coisa importante na minha formação que foi pensar no romance como um projeto com as suas etapas. Quando você vai fazer um projeto não começa pelo corredor ou pelos banheiros, seria um absurdo. Você pensa num volume estético inclusive, algo formal, que tenha relação com a função a que será destinado. Pensei nisso quando comecei a escrever. Eu armo primeiro, como se fosse o volume da arquitetura. Faço desenhos. É meu lado racionalista que detesto, mas não sei fazer de outro jeito. Mas, mesmo com todo o planejamento, o romance se faz mesmo no calor da hora.”

Literatura e vida

“Na vida, às vezes, há mais situações romanescas do que em um romance. A vida é mais complexa do que a literatura, a gente é que não percebe. A psicanálise percebe e tenta explicar. No romance você não precisa, e nem deve, explicar.”

Leia: Milton Hatoum encerra trilogia sobre a ditadura com 'Dança de enganos'

Esquecer para lembrar

“A memória é nossa musa tutelar, mas, para a literatura, não serve a lembrança de ontem. É melhor esquecer para depois lembrar. E ser infiel ao passado significa dar espaço à imaginação.”

O país e a capital

“No Brasil você nunca pode ser muito otimista. É um país complicado. Brasília foi a última utopia realizada, e logo interrompida pela ditadura militar.”

Narradoras femininas

“Dança de enganos’ é narrado por uma mulher, como o meu primeiro romance (“Relato de um certo Oriente”). Ando muito feminino. No livro que escrevi depois do ‘Dança’, a narradora também é uma mulher: me empolguei um pouco, escrevi umas 300 páginas (risos).”

Polêmicas literárias

“Hoje está tudo muito áspero, ríspido, na base do confronto. As pessoas querem anular as outras. Eu estou velho para essas coisas, prefiro conversar.”

Extermínio em Gaza

“Nunca fui a Palestina porque me recuso a ser revistado pelos soldados daquele país (Israel). Enquanto a Palestina não for livre jamais irei naquele país. O que eles estão fazendo em Gaza é de uma monstruosidade inominável. Um projeto claro de extermínio.”  

Prêmio Nobel

“Há uma supremacia europeia. Do Brasil eles querem o exotismo ou a indiferença. Mas algum brasileiro vai ganhar um dia e vai dizer: ‘Vocês erraram em não premiar Guimarães Rosa, Clarice, Machado’. O grande prêmio mesmo é um bom leitor. E não há nada mais misterioso do que o leitor.”

Tópicos relacionados:

milton-hatoum

Acesse o Clube do Assinante

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay