Adaptação para HQ: Alexandr Poltorak e Dmitry Chukrai

Adaptação para HQ: Alexandr Poltorak e Dmitry Chukrai

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Como adaptar para quadrinhos uma obra-prima monumental, com mais de 1.200 páginas, que retrata uma época conturbada da Europa com as guerras napoleônicas no início do século 19? Alexandr Poltorak – escritor e editor de revistas e programas de TV na Rússia – e Dmitry Chukhrai – artista gráfico – encararam esse desafio durante sete anos.

Eles acabam de lançar a melhor versão em HQ do romance épico “Guerra e paz”, de Liev Tolstói (1828-1910), que apareceu por aqui. No Brasil, o lançamento é pela Poseidon, selo para quadrinhos da Faro Editorial.

Publicado em 1865/66, a partir de inúmeras versões reescritas, ao lado de “Anna Kariênina” – outro romance grandioso de Tolstói –, “Guerra e paz”, que já teve incontáveis adaptações para cinema, minisséries, teatro, é um dos maiores clássicos da literatura mundial.

O escritor russo mescla personagens reais e fictícios, mais de 500 (!!!), para reconstruir a Rússia ainda da época dos czares, sua aristocracia esnobe e os servos miseráveis, num emaranhado de relações conflituosas em meio à invasão do país por Napoleão Bonaparte (1769-1821) e à resistência do czar Alexandre I (1777-1825).

O fio da meada são cinco famílias aristocráticas, com destaque para protagonistas como o desajeitado Pierre Bezúkhov, Natásha e Ilyá Rostóv. Entre reflexões filosóficas, Tolstói contrasta a pompa e a hipocrisia da sociedade russa da época diante da iminente derrota do império, numa Moscou arrasada pelo fogo, para fúria do corso francês.

Não há como falar de Tolstói sem considerar o pacifismo de sua vida e obra que, curiosamente, o levou à excomunhão pela Igreja Ortodoxa Russa. “Não se irrite, não resista ao mal por meio da violência – tudo isso não é um ideal evangélico longínquo que deve se tentar alcançar, mas uma regra obrigatória para a sociedade humana”, disse o escritor.

A não resistência ao mal pela violência é como uma marca registrada do escritor, que inspirou décadas depois, por exemplo, Mahatma Gandhi (1869-1948) na luta pela independência da Índia contra o império britânico.

“Tostói acreditava que a sua grande contribuição para o mundo não eram “Guerra e paz” e “Anna Kariênina”, pelas quais ficou conhecido, e sim seus trabalhos de teor filosófico humanista sobre ‘não resistência ao mal por meio da violência’, lembra Poltorak.

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EXPRESSIVIDADE


É claro que não se pode comparar uma obra complexa e intrincada de centenas e centenas de páginas com uma adaptação para quadrinhos de pouco mais de 200. Feito esse reparo, a versão dos artistas russos é uma obra de arte pela riqueza da reconstituição em traços de cores vivas de Moscou daquela época, da expressividade dos personagens, de mansões e salões requintados aos campos de batalha.

“Quando começamos a pensar nessa adaptação, passamos muitos anos imersos no mundo da Rússia do início do século 19. Sempre que possível baseamos nossas ilustrações em imagens de pessoas reais, objetos e edifícios típicos dessa época. Tomamos algumas liberdades destoando da precisão histórica, mas foram em prol do equilíbrio e da modernização”, ressalta Poltorak na apresentação do trabalho.

“Guerra é paz é, em primeiro lugar, um romance humanista. A guerra na obra de Tolstói é apresentada como um mal absoluto para o qual nunca haverá justificativa. Tostói não é só um escritor conhecido no mundo inteiro, mas também um filósofo humanista”, afirma Poltorak também.

Mesmo quem nunca leu “Guerra e paz”, não está a par das minudências dessa obra monumental e secular, há de ficar impactado pela riqueza dessa versão em quadrinhos agora lançada no mercado brasileiro. Não pelos conchavos muito resumidos, mas pelas ilustrações com traços marcantes dos dois artistas russos sobre esse romance perene.

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“GUERRA E PAZ”
• De Liev Tolstói
• Adaptação para HQ: Alexandr Poltorak e Dmitry Chukhrai
• Tradução: Nathália Rondán
• Poseidon (Faro Editorial)
• 224 páginas
• R$ 99,80

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