LITERATURA

Primeira leitura: 'Santa Efigênia', de Rosaly Senra

Livro sobre a história do Santa Efigênia revela as origens do bairro da capital mineira; lançamento será em BH neste sábado (8/11)

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“O bairro do quartel”

A cidade que se construía como a nova capital de Minas Gerais se planejava republicana, dentro da longa e ainda indefinida Avenida do Contorno. No dia 12 de dezembro de 1897, a capital mineira foi transferida de Ouro Preto para o Arraial de Curral del Rei – que só passou a denominar-se Belo Horizonte em 1901. Naquele momento, poucos bairros se definiam: o Funcionários – para os primeiros funcionários do Estado, ao lado do marco zero da cidade, na região da Catedral da Boa Viagem; Lourdes, para os mais ricos. E o bairro do Quartel, onde se instalavam os militares vindos da antiga capital, Ouro Preto. A classe média e muitos pobres foram se espalhando pela área, que deveria ser uma região agrícola. A Rua Niquelina já era um caminho que ligava a Igreja da Boa Viagem a Sabará. Próximo ao córrego do Cardoso, alojou um primeiro e reduzido Batalhão para proteger os construtores que chegavam.

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Santa Efigênia, o bairro e seu entorno, sempre foi para mim, criança, sinônimo de Belo Horizonte. Quando íamos de Congonhas (onde nasci) à capital, para médicos ou visita, era em Santa Efigênia onde nos hospedávamos, na casa de tia Zoé, irmã 9 da minha avó, ou na casa do tio Lili, irmão do meu avô. Próximo dali, meu avô comprou sua casa, nos anos 1970. Todos eram compadres, famílias compartilhavam receitas, participavam das festas da igreja e davam notícias dos irmãos que viviam no interior. No final dos anos 1970, quando fiz cursinho e passei no vestibular, foi ali que escolhi morar. As lembranças de criança e adolescente são muitas, diversas e abundantes. Algumas já meio apagadas, que puxo nos arquivos da memória, minha ou das tias.

A primeira lembrança é por volta dos quatro anos de idade, quando tive de operar a garganta no Hospital São Camilo, na esquina da Rua Timbiras com Avenida Amazonas. Dias antes e depois para recuperação, ficava na tia Zoé, com muito sorvete de morango da Kibon, a sensação de sabor da época. Tia Zoé morava na Rua Tenente Garro, 326, e era a única irmã da minha avó que residia na capital, desde que se casou, no início do século passado. Era professora alfabetizadora na Escola Assis das Chagas, que ocupava o turno noturno da Escola Olegário Maciel. Na ocasião da criação de Belo Horizonte, os logradouros da área central foram batizados com nome dos estados da Federação e de tribos indígenas, rios brasileiros, personalidades nacionais, ou dos inconfidentes, no bairro Funcionários.

Em Santa Efigênia, as ruas foram nomeadas em apreço aos minerais. Algumas tiveram a denominação modificada, em atenção aos militares mortos nas Revoluções de 1930 e 1932 e dos médicos pioneiros, na região que ficaria conhecida como “área hospitalar”. A Tenente Garro, 10 originalmente chamada Dolomita, teve a denominação alterada em junho de 1935, quando o prefeito Otacílio Negrão de Lima fez a troca da designação das ruas para prestar homenagem aos combatentes mortos. Joaquim Garro Ferreira Rabelo era tenente e integrou o Corpo das Metralhadoras, que per correu os estados de Mato Grosso e Goiás e esteve no cerco ao 12º Regimento de Infantaria durante a Revolução de 1930. Foi o primeiro a morrer em Belo Horizonte na batalha conhecida como Resistência do 12º (Batalhão de Polícia Militar, no Barro Preto), ocorrida em 3 de outubro de 1930, entre as Forças Públicas e o Exército, quando Getúlio Vargas assumiu o poder após o golpe.

Quem se mudou para a Rua Tenente Garro, vindo de Mariana com a mãe e as irmãs Maria Eugênia e Efigênia, em 1931, depois de demitido da Mina da Passagem, foi Amadeu Rossi Cocco, o seu Amadeu, que começou a trabalhar na Livraria Morais, de Antônio Pinto de Morais, na Rua Espírito Santo. O seu Amadeu era considerado o livreiro mais importante da cidade, atendendo várias gerações de estudantes, literatos, estudiosos, cientistas, políticos, pesquisadores, autores, bibliófilos ou simples amantes de livros. Sua mãe era parteira e, ao vir para a capital, trabalhou na maternidade Hilda Brandão, a primeira da cidade, criada em 1916 por Hugo Werneck. 

Sobre o livro e a autora

“Santa Efigênia”, de Rosaly Senra, integra a coleção “BH. A cidade de cada um”, coordenada por José Eduardo Gonçalves e Sílvia Rubião. “Escrever sobre Santa Efigênia é fazer uma colcha de retalhos, unindo memórias próprias e contadas, histórias lidas e ouvidas, pesquisas e fragmentos de causos de mais um século de existência desse bairro, desde os primórdios de Belo Horizonte”, afirma a autora do livro, na apresentação. Nascida em Congonhas, Rosaly diz que, para ela, “BH é Santa Efigênia: a igreja, o Quartel, os cinemas, os médicos”. No livro, histórias de figuras marcantes do bairro, como o Conde Belamorte e o jogador Jair Bala, de ruas como Coronel Antônio Pereira da Silva, Maestro Delê de Andrade, dos cinemas do bairro e da Igreja de Santa Efigênia dos Militares.

“Santa Efigênia” 

De Rosaly Senra

“Coleção BH. A Cidade de cada um”

Conceito Editorial

156 páginas

Lançamento neste sábado (8/11), das 10h às 14h, na Made in Beagá (Avenida Brasil, 305, Santa Efigênia, BH).

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