
Ministros de Lula ouvem queixas sobre economia e bolsonaristas no governo
As reclamações foram feitas diante de dois ministros do Palácio do Planalto. Foram escalados para defender as ações do Executivo, Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais)
compartilhe
Siga noBRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A reunião do diretório nacional do PT desta sexta-feira (8) foi marcada por críticas de petistas à política econômica do ministro Fernando Haddad (Fazenda), à presença de apoiadores de Jair Bolsonaro no governo e ao tratamento dispensado ao partido pela gestão Lula .
08/12/2023 - 18:35 Deputados se reúnem com Haddad, criticam Zema e defendem proposta de Pacheco 09/12/2023 - 04:00 À frente do seu tempo 08/12/2023 - 20:38 Venezuela: ministro diz que Brasil não será instrumento de incidente diplomático
As reclamações foram feitas diante de dois ministros do Palácio do Planalto. Escalados para defender as ações do Executivo, Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) ouviram ainda queixas à comunicação do governo e pedidos de maior presença de ministros em estados.
Rui e Padilha abriram o encontro petista com falas em defesa da atuação de Lula. O ministro da Casa Civil fez apresentação com dados do governo ao longo do ano e disse que a economia só não está melhor porque o Banco Central não baixou mais os juros.
Padilha afirmou que as principais medidas do governo no Congresso foram aprovadas neste ano e que é preciso ter condições de governabilidade, defendendo, implicitamente, a aliança com partidos do centrão que outrora apoiaram Bolsonaro. Disse ainda, segundo relatos, que é melhor sofrer as dores de ser governo do que ser oposição.
Após as declarações, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que já expressou críticas à política de Haddad, defendeu, de maneira enfática, a manutenção do patamar atual de previsão de investimentos. Pleiteou "nenhum centavo a menos" e também a criação de uma meta de crescimento.
Ainda segundo participantes, houve reclamações sobre a relação do governo com a bancada petista no Congresso e prefeitos do partido, que seriam preteridos em relação às siglas do centrão, como PP, Republicanos e União Brasil.
Vice-presidente do PT, Washington Quaquá defendeu que os petistas tenham tratamento privilegiado em relação aos recém-aliados do centrão inclusive na liberação de emendas. Diante de Rui, Quaquá reclamou da atuação da Casa Civil e criticou a ausência de centralidade no governo. Disse ainda que Gleisi seria a única com autoridade para coordenar os ministros.
Rui também ouviu críticas à política de segurança pública da Bahia, estado que governou durante oito anos.
O senador Humberto Costa (PT-PE) vocalizou a queixa à condescendência com que os bolsonaristas são tratados por integrantes do governo. Disse que a presença na administração federal de eleitores de Bolsonaro que sempre criticaram Lula e o PT "desmoraliza a militância".
Outra dirigente do partido reclamou sobre o convite a um senador bolsonarista para uma inauguração sem que petistas tenham sido avisados a respeito do evento.
Parlamentares criticaram ainda a comunicação do governo, sugerindo que as ações não estão chegando à ponta.
Na mesma reunião, o diretório nacional do PT aprovou uma resolução crítica ao papel do centrão e da política econômica de Lula, mas o texto ainda pode sofrer alterações.
Apresentado pela ala política integrada pelo presidente, a tendência petista CNB (Construindo um Novo Brasil), o texto foi aprovado por 25 votos. Petistas criaram um grupo para debater eventuais mudanças no documento, que inclui emendas supressivas e acréscimos. A sugestão será submetida a votação.
"O Brasil precisa se libertar, urgentemente, da ditadura do BC [Banco Central] ?independente? e do austericídio fiscal, ou não teremos como responder às necessidades do país", diz um trecho.
A resolução afirma que o centrão exerce influência desmedida no Legislativo e tenta deformar a agenda política vitoriosa na eleição.
Ao pregar a organização do partido para mudar a correlação de forças no Legislativo, o documento petista afirma ser inegável que seu campo político permanece minoritário no Congresso Nacional.
"As forças conservadoras e fisiológicas do chamado centrão, fortalecido pela absurda norma do orçamento impositivo num regime presidencialista, exercem influência desmedida sobre o Legislativo e o Executivo, atrasando, constrangendo e até tentando deformar a agenda política vitoriosa na eleição presidencial."
O texto diz que o governo respeita a legitimidade de um Congresso eleito pela população. Mas propõe um esforço conjunto de dirigentes e ministros petistas, além de seus aliados, para levar à população o conteúdo político-transformador das mudanças e da reconstrução do país.
A aprovação do documento provocou mal-estar entre ministros do governo, que reclamaram da realização da reunião do diretório no mesmo dia da abertura de uma conferência em Brasília que reunirá mais de 4.000 pré-candidatos a prefeitos e vereadores.
Após listar avanços econômicos, o documento diz que "não faz nenhum sentido, neste cenário, a pressão por arrocho fiscal exercida pelo comando do BC, rentistas e seus porta-vozes na mídia e no mercado".
A proposta de resolução diz que graças à credibilidade de Lula e apesar do BC de Roberto Campos Neto, a inflação caiu e está sob controle, o emprego aumentou, a renda da população melhorou.