EM BELO HORIZONTE

De legisladores a influencers: redes viram prioridade de vereadores de BH

Análise compara produção legislativa com desempenho nas redes sociais em 2025

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Na Câmara Municipal de Belo Horizonte, o trabalho parlamentar já não se limita ao Plenário. Em 2025, o Instagram virou uma espécie de extensão dos gabinetes. Enquanto alguns vereadores priorizam a produção legislativa tradicional, outros se dedicam mais à construção de imagem nas redes sociais ou tentam equilibrar as duas frentes. Um levantamento feito pelo Estado de Minas, realizado entre 20 e 26 de maio, revela esse retrato da atuação digital e legislativa dos vereadores da capital.

A comparação considerou quatro indicadores principais: número de projetos de lei apresentados em 2025 (tanto autoria quanto coautoria); número de postagens feitas no Instagram desde o início do ano; taxa de engajamento proporcional das publicações; e o total de seguidores de cada parlamentar na plataforma. Os dados de engajamento foram obtidos por meio da ferramenta Not Just Analytics, especializada no monitoramento de redes.

A Câmara adotou o sistema de ponto online, o que inviabiliza aferir com precisão a presença física dos vereadores no Plenário. Muitos conseguem registrar presença nas sessões, mesmo estando fora da sede do Legislativo. Por isso, o levantamento se concentra na comparação entre produção legislativa e atuação nas redes.

Influencers do Plenário x operários do legislativo

O cruzamento dos dados revela dois perfis bem definidos na Câmara de BH: de um lado, os “influencers do Plenário”, que priorizam a comunicação digital; de outro, os “operários do Legislativo”, que concentram esforços na elaboração de leis e mantêm uma presença mais discreta nas redes. 

Disputa entre likes e leis: gráfico compara a quantidade de postagens nas redes sociais com o número de projetos de lei protocolados pelos vereadores de Belo Horizonte em 2025. A ordem vai do mais ativo nas redes para quem prioriza mais a produção legislativa

Para identificar o perfil de atuação dos vereadores, foi feita uma comparação entre o número de postagens no Instagram e a quantidade de projetos de lei apresentados em 2025. As publicações incluem fotos, vídeos, reels e outros formatos publicados nas contas oficiais dos parlamentares.

Já os projetos de lei (PLs) são proposições formais que, ao ser aprovadas, podem se transformar em leis municipais. O cruzamento dessas duas métricas ajuda a entender quais vereadores priorizam a presença digital e quais se dedicam mais ao trabalho legislativo.

Entre os campeões de postagens estão Arruda (Republicanos) e Trópia (Novo), ambos com mais de 240 publicações no período. No entanto, no campo legislativo, apresentam desempenho modesto: 13 e seis projetos de lei, respectivamente. É importante ressaltar que produção legislativa não se restringe a protocolização de projetos de lei. Além de legislar, o vereador deve fiscalizar e representar ouvindo demandas da população.

Trópia defende sua estratégia: “Estar nas redes sociais é parte do meu trabalho, pois ser transparente com o cidadão e prestar contas do mandato é algo que todo político deveria fazer. Faço isso de maneira criativa e inovadora, para estimular a participação do cidadão na política. Posto muito porque trabalho muito: neste ano, meu gabinete já participou de 12 visitas técnicas e encaminhou mais de 230 problemas que a população identificou, além de ter feito 62 pedidos de fiscalização da prefeitura. Tenho o desafio de comunicar tudo isso aos mais de 17 mil eleitores que votaram em mim, e é aí que entram redes como Instagram, TikTok e WhatsApp”.

Rudson Paixão (Solidariedade) e Sargento Jalyson (PL) também figuram no topo dos mais ativos nas redes, com ritmo intenso de publicações — mas, assim como os colegas, têm produção legislativa proporcionalmente menor, com dez e três projetos, respectivamente.

Na outra ponta, estão os que priorizam claramente a atividade parlamentar. O destaque absoluto é Lucas Ganem (Podemos), líder em produção de projetos: foram 34 protocolados desde janeiro. E, mesmo com esse volume, mantém presença relevante nas redes, com 176 publicações.

Ao EM, Ganem afirmou: “Acredito que o engajamento nas redes é fruto de um trabalho que fazemos com carinho e dedicação para as pessoas que mais precisam. Isso é reflexo da conexão que construímos com a cidade e as causas que defendemos”.

Ele reforça: “Minha prioridade sempre foi entregar resultados reais para Belo Horizonte, e as pessoas reconhecem isso. As redes sociais são um espelho do nosso dia a dia: ouvindo, dialogando e trabalhando por quem mais precisa. Esse é só o começo".

Líder em número de projetos na Câmara de BH, o vereador reproduz textos idênticos aos apresentados por sua tia, a deputada Clarice Ganem (Podemos-SP), e por seu primo, o deputado federal Bruno Ganem (Podemos-SP). As mudanças se limitam, em geral, à troca de “São Paulo” por “Belo Horizonte”.

Na média 

Nenem da Farmácia (Mobiliza), Cida Falabella (PSOL) e Vile (PL) são os vereadores que apresentam a relação mais equilibrada entre presença nas redes sociais e produção legislativa na Câmara de BH. Eles conseguem combinar visibilidade digital com trabalho efetivo no protocolo de projetos. Quanto mais próximo de 1, mais balanceada é a relação entre posts e projetos de lei.

Neném da Farmácia (Mobiliza) se destaca por ser o mais equilibrado na proporção entre postagens e projetos de lei. Foram apenas 39 posts desde janeiro, frente a 21 projetos de lei — uma relação que deixa evidente sua prioridade no trabalho legislativo.

Outros nomes que também apresentam equilíbrio entre produção legislativa e atuação digital são Cida Falabella (PSOL), com 24 projetos e 60 posts, e Vile (PL), que soma 20 projetos e 90 publicações.

Para Vile, as redes sociais são extensão do mandato: “Vejo as redes sociais como uma ponte entre meu mandato e a população. O engajamento é fruto de um trabalho real, com projetos, fiscalizações e presença nas ruas. Mostro nas redes o que já entrego na Câmara”.

A métrica utilizada para definir esse equilíbrio é objetiva: quanto mais próximo de 1, mais balanceada é a relação entre o número de posts e de projetos de lei.

Engajamento: quem fala e quem é ouvido

Nem sempre quem mais posta é quem mais engaja. O levantamento revela que os campeões de engajamento proporcional são Pablo Almeida (PL), Braulio Lara (Novo), Cláudio Mundo Novo (PL) e Osvaldo Lopes (Republicanos).

O engajamento proporcional é uma métrica que mede o nível de interação de um perfil nas redes sociais (curtidas, comentários e compartilhamentos) em relação ao número de seguidores que ele possui. Ou seja, não basta ter muitos seguidores, o que importa é quantos, de fato, interagem com o conteúdo publicado. 

Um perfil com poucos seguidores pode ter um engajamento proporcionalmente alto se suas postagens geram muitas interações, enquanto perfis com grandes audiências, mas pouca interação, apresentam engajamento proporcional baixo. Essa métrica é essencial para entender quem realmente impacta na audiência.

O levantamento mostra que os campeões de engajamento proporcional são:

Gráfico mostra o engajamento proporcional dos vereadores de Belo Horizonte nas redes sociais. A métrica representa a soma de curtidas e comentários em relação ao número de seguidores, indicando quem consegue mobilizar mais a própria base. Pablo Almeida (PL) lidera, seguido por Braulio Lara (Novo) e Claudio Mundo Novo (PL). Na outra ponta estão Arruda (Republicanos), Wanderley Porto (PRD) e Wagner Ferreira (PV), com os menores índices de interação.


  • Pablo Almeida (PL) – 10,4%

  • Braulio Lara (Novo) – 7,4%

  • Claudio Mundo Novo (PL) – 6,4%

  • Osvaldo Lopes (Republicanos) – 6%

  • Lucas Ganem (Podemos) – 4,8%

Vereadores com mais engajamento nas redes sociais. Pablo Almeida, Braúlio Lara, Cláudio Mundo Novo, Osvaldo Lopes e Lucas Ganem

Vereadores com mais engajamento nas redes sociais. Pablo Almeida, Braúlio Lara, Cláudio Mundo Novo, Osvaldo Lopes e Lucas Ganem

CMBH/REPRODUÇÃO

Um dado curioso é que perfis como Vile (PL) e Pedro Rousseff (PT), que têm bases muito grandes — com 512 mil e 187 mil seguidores — ainda assim conseguem manter taxas de engajamento acima da média esperada para perfis desse porte, contrariando a tendência de queda proporcional conforme o número de seguidores cresce.

“Nossa presença nas redes sociais e na mídia como um todo é diretamente ligada à nossa entrega nesses quase seis meses de mandato. Nossos melhores números são referentes a pronunciamentos em Plenário, projetos de lei que apresentamos ou relatamos e fiscalizações que fazemos. Acho que quem me acompanha, gosta de ver que a melhor forma de vencer a extrema direita é não dar trégua para eles, tanto nas redes quanto no Parlamento”, afirmou Rousseff.

Seguidores


Número de seguidores no Instagram dos vereadores de BH. Dados coletados entre 20 e 21 de maio de 2025.


No ranking de seguidores, o campeão isolado é Vile, com uma base de 512 mil, muito à frente dos demais.

  • Vile (PL) – 512 mil

  • Flávia Borja (DC) – 189 mil

  • Pedro Rousseff (PT) – 187 mil

  • Dr. Michelly Siqueira (PRD) – 172 mil

  • Pablo Almeida (PL) – 140 mil

Vereadores com mais seguidores nas redes. São eles: Vile, Flávia Borja, Pedro Rousseff, Michelly Siqueira e Pablo Almeida

Vereadores com mais seguidores nas redes. São eles: Vile, Flávia Borja, Pedro Rousseff, Michelly Siqueira e Pablo Almeida

CMBH/REPRODUÇÃO

Para o EM, Borja, que ocupa o segundo lugar, disse que o que aparece nas redes sociais é apenas a ponta do trabalho diário. “Dentre demandas atendidas, reuniões, conversas com o eleitorado e visitas, uma pequena parte é o que mostramos nas redes sociais. O mandato exige uma efetiva que vai além de reels de alguns minutos ou stories de segundos. Nosso compromisso com a população é de sete dias por semana e 24 horas por dia. O reflexo do crescimento do nosso engajamento é justamente pelo contato e vínculo que criamos ao vivo.”

A digitalização da política

O cientista político Túlio Ribeiro explica que o fenômeno dos “vereadores influencers” não é novidade, mas se consolidou nos últimos anos, especialmente no campo da direita e da extrema direita.

“Desde a eleição de Barack Obama em 2009, as redes sociais se tornaram ferramentas centrais na comunicação política. No Brasil, isso se intensifica com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, que inaugura um novo ecossistema político-digital, marcado não só pela produção de conteúdo, como também pela desinformação. Na atual Câmara de BH, esse modelo se reflete, principalmente, nos vereadores ligados ao bolsonarismo, como Pablo Almeida, Vile e Uner Augusto”, analisa.

Túlio também observa uma reação ainda tímida da esquerda e do centro, que, embora ocupem esse ambiente, seguem atrasados na construção de uma estratégia digital robusta. “Há nomes que se destacam, como Pedro Rousseff, Cida Falabella e Helton Junior, mas, de modo geral, a direita segue muito mais estruturada nesse campo”, afirma.

O EM também procurou o presidente da Câmara, Juliano Lopes (Podemos), e o questionou sobre a presença parlamentar nas redes. Segundo ele, a presidência vem tentando humanizar as redes sociais da própria Câmara. Ele também citou as próprias redes. “Procuro manter minhas redes sociais em dia, para as pessoas acompanharem meu dia a dia no Parlamento e mantê-las próximas do nosso mandato. Minha vida pessoal é postada para criar mais proximidade delas com a pessoa Juliano, como um cidadão normal, que é pai e filho e tem amigos e familiares.”

Nem influencers nem operários

A reportagem também questionou Iza Lourença (PSOL) e Helton Junior (PSD), conhecidos pela presença nas redes. Embora carreguem os títulos de influenciadores digitais, os dois não se destacam nos rankings analisados pelo EM. Ambos mantêm um equilíbrio entre número de postagens e produção legislativa, ficando dentro da média da Câmara.

 

Iza Lourença e Helton Júnior são conhecidos como 'influenciadores' mas na média com projeto de leis, se destacam como moderados

Iza Lourença e Helton Júnior são conhecidos como 'influenciadores' mas na média com projeto de leis, se destacam como moderados

CMBH/REPRODUÇÃO

Iza tem 42,4 mil seguidores, 85 postagens no ano e dez projetos de lei protocolados. “Vejo que me destaco nas redes sociais exatamente pelas minhas entregas parlamentares. O que busco refletir digitalmente é meu trabalho, o que estou fazendo”, afirmou.

Já Helton, que soma 13,27  mil seguidores, 60 postagens e três projetos de lei, disse que entende que o papel de um vereador é legislar, fiscalizar e representar a sociedade. “Nosso gabinete foca especialmente na fiscalização, atendendo 1.240 demandas da população, enviando 531 ofícios à prefeitura e protocolando 62 requerimentos em comissões. Como gestor público, priorizo projetos de qualidade e constitucionais, evitando propostas simbólicas ou sem efeito prático real. Atualmente, a Câmara tem dado destaque a projetos comemorativos ou autorizativos, que pouco impactam a vida das pessoas, além de votar moções sobre temas nacionais, que não competem ao legislativo municipal", afirmou.

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*É preciso esclarecer que vereadores novatos podem ter assinado projetos de anos anteriores, o que explica por que eles não aparecem na contagem atual. A contagem considera apenas os projetos protocolados em 2025.

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