A instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS virou o novo centro gravitacional do Congresso Nacional. Criada para investigar o esquema de descontos irregulares nas aposentadorias, a comissão promete ser uma das mais sensíveis e politicamente disputadas desta legislatura.

Em meio às suspeitas que atingem setores ligados ao governo federal, as investigações vão mobilizar tanto a base quanto a oposição, e Minas Gerais tenta garantir lugar nesse palco. Uma CPMI é formada por 30 parlamentares: 15 deputados e 15 senadores, com suplentes em proporção equivalente.

A distribuição das cadeiras obedece à representação partidária nas duas Casas e os nomes são indicados pelas direções nacionais das legendas. Embora as vagas não sejam definidas por estado, bancadas como as de Minas Gerais atuam nos bastidores para emplacar nomes com densidade política ou potencial de projeção.

Segundo o analista político Cesar Augusto Araújo, comissões parlamentares de inquérito têm papel essencial na democracia, mas também são palcos de estratégias eleitorais. “CPMIs também são espaços de alta visibilidade política e midiática, o que é recorrentemente instrumentalizado de maneira estratégica, especialmente por parte dos parlamentares de oposição, que desejam enfraquecer a imagem do governo vigente”, afirma. Para ele, a CPMI do INSS pode funcionar como vitrine àqueles que já projetam 2026. 

O cientista político Túlio Ribeiro destaca que a disputa pela comissão é especialmente simbólica para os dois principais partidos da polarização. “Para o PL, trata-se de uma boa oportunidade de minar ainda mais a popularidade do governo Lula, fortalecendo, a partir disso, qualquer possível candidato de seu partido ou da direita para 2026. Já para o PT, trata-se de uma tentativa de minimizar possíveis danos à reputação do presidente, tentando evitar que se forme a narrativa de que membros do governo Lula são os principais culpados pelo escândalo”, avalia.

Do lado do PL mineiro, a disputa gira em torno de três nomes. Junio Amaral é visto como o mais competitivo internamente: tem experiência em CPIs e bom trânsito na base bolsonarista. Nikolas Ferreira, deputado mais votado do Brasil em 2022, já manifestou desejo direto de integrar a comissão, mas enfrenta resistência na cúpula do partido, que teme o uso excessivo da CPMI como palanque pessoal.

Domingos Sávio, presidente da bancada mineira, atua como articulador e busca garantir que Minas não fique de fora.

No PT, a liderança das negociações está nas mãos de Odair Cunha, que comanda a bancada mineira e tem peso nas conversas com a Executiva Nacional. Rogério Correia é apontado como nome experiente, com atuação em CPIs como a do Golpe de 8 de janeiro. Dandara também surge como opção: além de buscar projeção, é pré-candidata à presidência do PT em Minas. Já Reginaldo Lopes, embora com capital político relevante, tende a permanecer nos bastidores.

Mesmo com as movimentações das bancadas, a decisão final cabe às direções nacionais. A presidência da CPMI será indicada pelo Senado, com favoritismo para Omar Aziz (PSD-AM), apoiado por Davi Alcolumbre. A relatoria ficará com a Câmara, e partidos de centro, como Republicanos e PSD, devem ser contemplados. Um dos nomes no páreo é o de Gilberto Abramo (Republicanos-MG), que preside a bancada e é muito próximo do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

A bancada mineira no Senado, embora numerosa, deve ficar fora da disputa direta por protagonismo: faltam nomes com densidade política no tema e força interna nas respectivas legendas. Por ser do Republicanos, partido de centro, a maior chance é de Cleitinho. Rodrigo Pacheco (PSD), ganharia protagonismo, mas deve deixar essa de fora. O senador é cotado para concorrer ao governo de Minas, com apoio do presidente Lula (PT) em 2026.

Apesar de outros partidos também terem direito a indicações, é entre PT e PL que está a disputa central pelo controle da narrativa. São os partidos que têm mais a perder ou a ganhar com os rumos da investigação.

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A CPMI ainda não teve suas cadeiras oficialmente preenchidas, mas a movimentação já é intensa nos bastidores. O que está em jogo não é apenas o esclarecimento de um esquema bilionário de corrupção, mas a disputa pelo controle da narrativa no Congresso e fora dele. PL e PT sabem disso e Minas, com seus nomes barulhentos e suas articulações silenciosas, tenta entrar em cena enquanto as peças são movidas.

CPMI

Distribuição das cadeiras por partido (Câmara + Senado):


PL: 4 vagas
PT: 3 vagas
PSD: 2 vagas
MDB: 2 vagas
União Brasil: 2 vagas
Republicanos: 2 vagas
Outros partidos menores completam a composição


Deputados do PL eleitos por Minas Gerais

  • Nikolas Ferreira
  • Zé Vitor
  • Emidinho Madeira
  • Domingos Sávio
  • Mauricio do Vôlei
  • Eros Biondini
  • Samuel Viana
  • Junio Amaral
  • Lincoln Portela
  • Rosângela Reis
  • Marcelo Álvaro Antônio


Deputados do PT eleitos por Minas Gerais

  • Reginaldo Lopes
  • Rogério Correia
  • Paulo Guedes
  • Odair Cunha
  • Patrus Ananias
  • Dandara
  • Padre João
  • Miguel Ângelo
  • Leonardo Monteiro
  • Ana Pimentel
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