Leia a íntegra da carta em que Michelle pede diálogo entre Lula e Trump
Documento foi lido neste sábado (12/7) durante evento do PL Mulher em Boa Vista, no Acre. A presidente do PL Mulher cobrou postura do atual presidente
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Siga noA ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) divulgou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pedindo mais “diálogo” nas possíveis tratativas sobre a imposição de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros pelos Estados Unidos. O documento foi lido neste sábado (12/7) durante evento do PL Mulher em Boa Vista, no Acre.
No texto, a presidente da ala feminina do Partido Liberal afirma que as sanções que o presidente norte-americano, Donald Trump, ameaça impor ao Brasil só são aplicadas “a países reconhecidos como ditaduras”. Enquanto critica a postura do atual chefe do governo federal diante da carta publicada pelo republicano na última quarta-feira (9/7), Michelle pediu que o Brasil adote um discurso conciliador.
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“Lula, você precisa parar de se guiar por ideologias doentias e por desejos de vingança. É preciso governar para obter o que é melhor para o povo e para o Brasil. Chega de ódio e de irresponsabilidade [...] Presidente Lula, o senhor tem a oportunidade de evitar essas sanções. Não queira imitar Cuba e Venezuela, veja como o povo desses países sofrem. Não queremos isso para o nosso amado Brasil”, leu Michelle.
Ao longo da carta, Michelle mencionou mais de uma vez supostas tendências ditatoriais do sucessor de seu marido, Jair Bolsonaro (PL). Para ela, Lula tem se aliado a “movimentos terroristas” e a “ditadores”. No entanto, a ex-primeira-dama não citou, em nenhum momento, quais seriam esses grupos.
“Lula, chegou a hora de abaixar as armas. Você precisa deixar seu desejo de vingança de lado. Precisa parar de se juntar aos movimentos terroristas e aos ditadores. A imagem de um Brasil pacífico e de progresso está destruída porque você está se juntando a essas pessoas e arrastando o nosso país para o buraco”, afirma.
Discurso divergente
O tom conciliador adotado por Michelle Bolsonaro em sua carta diverge da postura do restante da família. Na noite de quarta-feira (9/7), o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) usou as redes sociais para pedir que brasileiros agradecessem a Donald Trump pela imposição da tarifa. Na ocasião, o filho 03 de Jair Bolsonaro comemorou a decisão do governo dos Estados Unidos.
Segundo Eduardo Bolsonaro, a medida é resultado de um "lobby que realiza desde o início do ano" junto a autoridades norte-americanas para pressionar o governo brasileiro. “Nos últimos meses, temos mantido intenso diálogo com autoridades do governo do presidente Trump — sempre com o objetivo de apresentar, com precisão e documentos, a realidade que o Brasil vive hoje. A carta do presidente dos Estados Unidos apenas confirma o sucesso na transmissão daquilo que viemos apresentando com seriedade e responsabilidade”, afirmou o parlamentar em nota.
O deputado culpou o governo Lula e o Supremo Tribunal Federal (STF) pela decisão do governo Trump. Para ele, o STF viola direitos humanos e o atual presidente “aprofundou-se em uma sequência de desastres diplomáticos antiamericanos”. Segundo Eduardo, “nada disso teria ocorrido sob a presidência de Jair Bolsonaro”.
Já para o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o Brasil não tem condições de negociar com os Estados Unidos. "A sanção que Trump impõe não é meramente econômica. Ela tem um viés político e econômico, porque é claro que Trump olha para a América do Sul e enxerga muito claramente para onde Lula está levando o nosso país. (...) Infelizmente, o Brasil não tem condições de negociar de igual para igual com os Estados Unidos", afirmou em entrevista à GloboNews.
Lei da reciprocidade
Após a divulgação da carta de Trump, o presidente Lula afirmou que vai negociar com os Estados Unidos, mas que, caso as tentativas de solucionar o aumento das taxas não deem resultado, o país poderá recorrer à Lei da Reciprocidade Econômica e devolver a taxação sobre produtos americanos importados. O petista ainda indicou que deve acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as tarifas.
Além disso, para reduzir o impacto das decisões de Trump, caso elas sejam implementadas, o presidente se mostrou disposto a se reunir com empresários brasileiros que exportam para os Estados Unidos e a buscar novos mercados para a produção brasileira.
“Vamos criar uma comissão de negociação, juntando empresários e o governo, para ver quais são as decisões, quem é afetado, como vai ser afetado e como podemos procurar novos mercados. Eu mesmo vou procurar novos mercados para os produtos brasileiros”, disse em entrevista à TV Globo.
Ao ser questionado se ligaria para Trump para buscar uma solução, o petista afirmou que, no momento, isso não deve acontecer, mas que, caso seja necessário, ligará. Ele também reclamou que a carta foi publicada nas redes sociais e não enviada inicialmente ao governo brasileiro.
Leia a carta de Michelle Bolsonaro endereçada ao presidente Lula na íntegra:
“Presidente Lula, esse tipo de sanção, até hoje, só foi aplicada a países reconhecidos como ditaduras. O Brasil vive um período muito difícil com relação aos direitos fundamentais. Há uma ditadura disfarçada de democracia, os ditadores agem como uma cobra traiçoeira que se enrola devagar e sufoca sua vítima, quando ela percebe é tarde demais.
Lula, você precisa parar de se guiar por ideologias doentias e por desejo de vingança. É preciso governar para obter o que é melhor para o povo e para o Brasil. Chega de ódio e irresponsabilidade.
Lula, pare com as provocações e seus atos e palavras. O Brasil não precisa de discursos cheios de raiva, o nosso povo precisa de cuidado e de um governo responsável. Abandone as perseguições e começe a trabalhar pela unidade e pela verdadeira liberdade do nosso povo, dá tempo.
Lula, você precisa parar de transferir as responsabilidades dos seus atos apontando culpados para desviar a atenção das pessoas. É tempo de assumir os erros, de se arrepender, de pensar no povo e tentar salvar o que ainda é possível salvar, para o bem do país inteiro.
Lula, chegou a hora de abaixar as armas. Você precisa deixar o seu desejo de vingança de lado. Você precisa parar de se juntar aos movimentos terroristas e aos ditadores. A imagem de um Brasil pacifico e de progresso está destruída porque você está se juntando a essas pessoas e arrastando o nosso Brasil para o buraco.
Presidente Lula, o senhor tem a oportunidade de evitar essas sanções. Não queira imitar Cuba e Venezuela, veja como o povo desses países sofrem. Não queremos isso para o nosso amado Brasil.
Lula, pelo bem do Brasil e dos brasileiros, abandone essa tendência ditatorial e pense no bem do nosso amado povo e das nossas famílias. Comece agora a corrigir os graves erros do seu governo, ainda dá tempo. O Brasil está assistindo e esperando um gesto de lucidez que realmente possa trazer paz ao nosso país. É hora de abaixar as armas da provocação, cessar os tambores de ofensas e hastear as bandeiras de diálogo e da paz. Todo poder ver de Deus, mas ai daquele que o usa para oprimir os inocentes”