Não há registro público de que a China tenha declarado que “não vai ajudar o Brasil na guerra comercial com os EUA”, ao contrário do que afirma post viral da rede social X. A publicação simula uma notícia jornalística, mas não cita nenhuma fonte para sustentar a alegação.
Em 28 de julho, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, disse que seu país está disposto a “trabalhar com o Brasil” para lidar com o tarifaço de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em 6 de agosto, o próprio chanceler Wang Yi disse, em conversa por telefone ao assessor especial da Presidência Celso Amorim, que apoia o Brasil na luta contra “interferência externa injustificada” nos assuntos internos do país.
O Comprova não encontrou nenhum registro em veículos jornalísticos, pronunciamentos oficiais ou relatórios posteriores a essa declaração que confirmem que a China tenha afirmado que não ajudará o Brasil na disputa comercial com os EUA.
A China fez do Brasil o seu 2º principal destino de investimentos no 1º semestre de 2025, atrás apenas da Indonésia, de acordo com o China Global Investment Tracker, plataforma de monitoramento mantida pelo think tank americano American Enterprise Institute (AEI), um instituto de pesquisa independente que produz análises sobre economia, política e assuntos públicos.
Maior comprador de soja do mundo, o país oriental tem substituído a oferta dos Estados Unidos pela brasileira. As importações chinesas de soja registraram recorde em julho, beneficiando diretamente o Brasil, que ampliou sua presença como principal fornecedor do grão.
No total, a China importou 10,39 milhões de toneladas de soja do Brasil em julho, contra 9,12 milhões no mesmo mês de 2024. O volume representou 89% de todas as compras de soja do país em julho.
O governo chinês também habilitou 183 empresas brasileiras a exportar café para o país. No X, uma autoridade do Ministério das Relações Exteriores da China usou a medida para contrastar a abertura comercial de Pequim com a decisão dos EUA de impor tarifas ao Brasil, destacando uma postura oposta das duas potências.
Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova
A publicação foi criada por um perfil no X que tem 113 mil seguidores. O conteúdo alcançou ampla repercussão, com 671 mil visualizações, 21 mil curtidas e 2 mil republicações até a publicação deste texto.
O perfil se apresenta como um canal voltado à “informação de qualidade”, “a serviço da democracia e da clareza dos fatos”, e afirma atuar com “independência no real sentido da palavra”. O conteúdo das postagens é geralmente noticioso, com foco em temas de política nacional e internacional.
O Comprova entrou em contato com o perfil na tentativa de identificar as fontes utilizadas e compreender as intenções por trás da publicação, mas não obteve retorno.
Por que as pessoas podem ter acreditado
A publicação recorre a diversas táticas de persuasão para provocar impacto emocional, induzindo a uma interpretação negativa da situação. O texto utiliza o emoji de sirene e a palavra “ABANDONOU” em caixa alta, fazendo apelo ao alarme, despertando a sensação de urgência.
A escolha da foto de Lula cabisbaixo com a mão no rosto cria um apelo visual que reforça a ideia de fragilidade, mesmo sem contextualizar o motivo da expressão. Além disso, a simplificação do fato, “China diz que não vai ajudar o Brasil na guerra comercial”, mostra um enquadramento que coloca a narrativa como um rompimento direto, sem explicar detalhes diplomáticos ou comerciais envolvidos.
A combinação desses elementos gera um efeito de apelo dramático, com ênfase na perda de apoio e na imagem negativa do presidente brasileiro, induzindo o público a interpretar o episódio de forma mais crítica.
Fontes que consultamos
Matérias de veículos jornalísticos e plataforma de monitoramento China Global Investment Tracker.
Por que o Comprova investigou essa publicação
O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.