JULGAMENTO DO GOLPE

7 de setembro vira disputa de narrativa em semana decisiva para Bolsonaro

Dia da Independência ocorreu um mês após o tarifaço dos Estados Unidos e nas vésperas da possível condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no STF

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O feriado do 7 de setembro deste domingo foi marcado por uma disputa de narrativa entre direita e esquerda em Minas Gerais e no restante do Brasil. O primeiro Dia da Independência após o tarifaço dos Estados Unidos contra as importações brasileiras e a pressão do presidente Donald Trump contra o Supremo Tribunal Federal (STF) levou milhares de pessoas para as ruas, com um lado pedindo anistia e o outro a condenação dos acusados de envolvimento na suposta trama golpista.

Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou do tradicional desfile militar ao lado de ministros de estado e do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos). O governo federal aproveitou a ocasião para explorar o lema “Brasil Soberano”, e estabeleceu três eixos de propaganda para a celebração deste domingo: “Brasil dos brasileiros”, “Brasil do Futuro”, e a COP30, que será realizada em Belém.

Tradicionalmente, o presidente não discursa no desfile e usa um pronunciamento na cadeia de rádio e televisão para falar com a nação na véspera do evento. No sábado (6/9), Lula defendeu a soberania brasileira e, sem citar nominalmente a família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), disse ser “inadmissível” que políticos brasileiros estimulem ataques ao Brasil. “Foram eleitos para trabalhar pelo povo brasileiro, mas defendem apenas seus interesses pessoais. São traidores da pátria e a história não os perdoará”, disse.

Lula afirmou que o Brasil “não será novamente colônia de ninguém” e disse que a soberania está presente em políticas públicas voltadas a trabalhadores, jovens, empreendedores e populações em situação de vulnerabilidade. “Se temos direito a essas políticas públicas, é porque o Brasil é um país soberano e tomou a decisão de cuidar do povo brasileiro”, declarou.

Outro fator de atenção no ato do governo federal foi a ausência de ministros do STF. Diferentemente do 7 de setembro de 2024, quando 6 dos 11 ministros do Supremo subiram no palanque de Lula durante o desfile, incluindo o relator do julgamento da suposta tentativa de golpe, Alexandre de Moraes, nenhum dos ministros compareceram no evento oficial.

O Dia da Independência neste ano ocorreu pouco mais de um mês depois que as tarifas de 50% dos Estados Unidos contra as exportações brasileiras entraram em vigor, quando Donald Trump decidiu usar o peso da economia americana para pressionar contra o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF.

Há pouco mais de um mês também, Moraes foi sancionado com a Lei Magnitsky, que impede relações de “violadores de direitos humanos” com empresas americanas. Outros oito ministros do Supremo Tribunal Federal, além de aliados do presidente Lula, ainda tiveram seus vistos americanos suspensos.

Apesar da pressão dos EUA, o julgamento de Bolsonaro e do chamado “núcleo crucial” da suposta tentativa de golpe entra em reta final na Primeira Turma do Supremo. Nesta terça-feira (9/9), os magistrados retomam o processo com a leitura dos votos que podem condenar ou absolver o ex-presidente e outros sete réus. Relator do caso, Moraes será o primeiro a votar, seguido por Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin. A expectativa é que a decisão final saia na sexta-feira (12/9).

A direita, por sua vez, aproveitou a comemoração para reunir milhares de apoiadores do ex-presidente nas ruas. Em Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, e outras centenas de cidades, os bolsonaristas pediram anistia “ampla, geral e irrestrita” aos condenados pelos atos antidemocráticos do 8 de janeiro de 2023, e o impeachment do ministro Alexandre de Moraes.

O argumento principal usado por esse campo é de que o país vive em um estado de exceção comandado por Moraes, classificado como um ditador. Eles afirmam que o julgamento do golpe é uma “farsa jurídica”, usada para perseguir Bolsonaro e seus apoiadores, rechaçando que o 8 de janeiro teria sido uma tentativa de golpe.

Com o ex-presidente em prisão domiciliar desde o início de agosto, sua família é responsável por representá-lo nos atos. Em áudios enviados para todas as manifestações bolsonaristas, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro acusa os ministros do Supremo de agirem como “tiranos” e afirma que o marido é alvo de perseguição. “Hoje, ele está humilhado e preso por enfrentar o sistema por amor ao povo. O marido não pode falar, mas nós falaremos por ele”, disse.

Desfile na Afonso Pena

O tradicional desfile militar na Avenida Afonso Pena levou milhares de belo-horizontinos para o coração da capital. O governador Romeu Zema (Novo) chegou cedo ao evento para revistar as tropas mas, como tradicionalmente ocorre, não discursou. Em suas redes sociais, o chefe do Executivo mineiro disse que o ato sempre o lembra da infância em Araxá, “quando desfilava com muito orgulho”.

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“Esse mesmo orgulho me acompanha hoje, na certeza de que estou contribuindo para um Brasil mais livre e digno. Assim seguirei, firme nas minhas convicções, e sempre com a ideia de que o Brasil precisa vir primeiro. Não os privilegiados, não Brasília. Mas o Brasil”, escreveu o governador.

Pré-candidato ao Palácio do Planalto, Zema deixou o desfile antes do fim para seguir até São Paulo, onde participou da manifestação bolsonarista ao lado de outras figuras da direita. O mineiro, que busca o apoio desse eleitorado, vai dividir o palanque com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dos nomes mais cotados para concorrer à presidência em alternativa a Bolsonaro.

O prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União Brasil), era aguardado na cerimônia, mas, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, está com uma forte gripe e seguiu as orientações médicas para evitar grandes aglomerações. O vice-governador e possível candidato do governo mineiro, Mateus Simões (Novo), também não foi ao desfile.

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