Violência

Casos de violência política assustam e reacendem debate sobre polarização

O assassinato do ativista conservador Charlie Kirk nos EUA e as recentes ameaças ao deputado Nikolas Ferreira reacendem o debate sobre polarização e intolerância. A esquerda já contabiliza algumas perdas, como Marcelo Arruda

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A execução a tiros do influenciador conservador Charlie Kirk, nos Estados Unidos, trouxe à tona um tema que já preocupa o Brasil: a escalada da violência política. O episódio, ocorrido na última terça-feira, durante uma palestra em uma universidade em Utah, teve repercussão imediata entre lideranças nacionais e expôs como a polarização atravessa fronteiras e alimenta reações cada vez mais radicais.

No Brasil, o paralelo foi quase instantâneo. Nas redes sociais, apoiadores e críticos lembraram o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), jovem parlamentar conservador e cristão que, assim como Kirk, tem sido alvo frequente de ameaças. Na última quinta-feira, a Polícia Federal prendeu um universitário no Espírito Santo, após ele publicar mensagens prometendo "matar a tiros" o deputado. Embora liberado após assinar um termo circunstanciado, o caso reforçou o alerta sobre a vulnerabilidade de figuras públicas em um ambiente de ódio crescente.

Não se trata, porém, de um problema exclusivo da direita. Em 2022, por exemplo, o guarda municipal Marcelo Arruda, militante do PT, foi assassinado a tiros  durante sua festa de aniversário em Foz do Iguaçu (PR) por um apoiador de Jair Bolsonaro, Jorge José da Rocha Guaranho.

Os episódios mostram que a violência política não poupa campos ideológicos e se retroalimenta de um clima de intolerância que corrói a convivência democrática.

Reações no Congresso

Parlamentares ouvidos pelo Correio apontam leituras distintas sobre a origem e o impacto dessa violência. Para a deputada Maria do Rosário (PT-RS), a condenação deve ser incondicional. "Lamento toda e qualquer violência, independentemente de quem seja a vítima. Não podemos ter posição seletiva, toda violência política deve ser condenada", disse a parlamentar. "Mas é inegável que quem fomentou o armamentismo e o discurso de ódio foi a direita, especialmente sob a liderança de Bolsonaro", ressalvou.

Na avaliação do deputado Reginaldo Veras (PV-DF), a polarização global alimenta o extremismo também no Brasil. "Se há violência de um lado, inevitavelmente há do outro. O que preocupa é a perda da capacidade de dialogar democraticamente. A repercussão da morte de Kirk mostra como esse extremismo já não respeita fronteiras. Se por um lado, o Nikolas diz que sofreu ameaças, o deputado Boulos sofre frequentemente, eu também já sofri."

Do outro lado do espectro político, a percepção é de perseguição seletiva. O líder do do Novo na Camara, Marcel Van Hattem (RS), disse que ataques e atentados têm se concentrado em figuras conservadoras. "Basta observar os fatos: Bolsonaro foi esfaqueado, Trump escapou de um atentado, agora o caso de Kirk, eu não cheguei a tornar público, mas também tive ameaça de morte já há alguns meses. (Os recentes acontecimentos) mostram que há um esforço de desumanização da direita".

O caso Peninha

As declarações do escritor Eduardo Bueno, o Peninha, que ironizou a morte de Kirk e chegou a mencionar as filhas pequenas do ativista, incendiaram ainda mais o debate. Após a repercussão negativa, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) suspendeu a participação do escritor em um evento acadêmico.

"É sempre terrível, né, um ativista ser morto por suas ideias. Exceto quando é o Charlie Kirk, mataram o Charlie Kirk, ai, coitado, tomou um tiro, não sei se na cara, o Charlie Kirk, ai, é liberdade de expressão. O Charlie Kirk sabe quem é? Foi morto. Tem duas filhas pequenas, que bom pras filhas dele, né, que bom pras filhas dele, que vão crescer sem a presença de um sujeito repugnante, canalha, racista, homofóbico, ligado ao pedófilo Donald Trump", disse Bueno na gravação, já deletada, mas que continua circulando em perfis críticos ao historiador.

Paralelamente, a oposição reagiu duramente. O deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP), presidente da Comissão de Segurança Pública, classificou que as falas de Peninha "beiram a insanidade". Para ele, "a origem da violência é justamente quando se desumaniza o outro. Quando se chama Bolsonaro de genocida ou pedófilo, por exemplo, cria-se na mente de muitos que ele não precisa ser preservado como vida. O mesmo ocorre no caso de Charlie Kirk, que foi retratado como alguém que não merecia existir. Esse é o perigo", disse em entrevista ao Correio. O parlamentar apresentou representação à Secretaria de Segurança do Rio Grande do Sul, pedindo investigação por incitação à violência.

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O olhar dos especialistas

Felipe Rodrigues, mestre em ciência política pelo Cefor, alerta que a violência política brasileira está inserida em uma tendência global. "As redes sociais amplificaram o desprezo político mundialmente  e criaram câmaras de eco que radicalizam posições. O risco é perdermos a noção do bem comum e naturalizarmos o ódio como linguagem da política. A política deixou de ser vista como vocação ao serviço da comunidade e virou guerra identitária. Estamos perdendo a capacidade de dialogar."

Para o sociólogo Rudá Ricci, há ainda raízes históricas profundas. "A violência política no Brasil carrega marcas de um passado de escravidão, autoritarismo e impunidade. Somos campeões de linchamentos e feminicídios. Essa cultura se transfere para a arena política e dificulta a consolidação da democracia."

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