Com bandeiras e charanga, centenas gritam 'sem anistia' em manifestação em Berlim
Em reflexo ao dia de manifestações no Brasil, grupos sociais atuantes na Alemanha organizaram o ato pelas redes sociais, com um inegável ritmo de Carnaval.
compartilhe
Siga noBERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) - Centenas de brasileiros, expatriados, turistas e ativistas se reuniram em uma praça próxima à embaixada brasileira em Berlim, neste domingo (21), para protestar contra a PEC da Blindagem e o projeto de anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro. Em reflexo ao dia de manifestações no Brasil, grupos sociais atuantes na Alemanha organizaram o ato pelas redes sociais, com um inegável ritmo de Carnaval.
Com bandeiras, uma charanga, palavra de ordens e muitos palavrões eram ouvidos cada vez que a pequena caixa de som levada para o evento proferia o nome dos alvos preferenciais da manifestação: Jair e Eduardo Bolsonaro, Hugo Motta, presidente da Câmara, e até Donald Trump, presidente dos EUA responsável pelo tarifaço contra o Brasil.
Sandra Helena Torres Bello, uma das organizadoras, há 28 anos na Alemanha, interrompeu o protesto após um grito de "filho da puta". "Vamos lembrar aqui da formação da nossa sociedade patriarcal, em que a maioria dos palavrões tem origem no menosprezo à mulher. Quem dera a Câmara dos Deputados fosse um prostíbulo", declarou, arrancando muitos aplausos da pequena multidão, parte dela munida de garrafas de cerveja em uma das últimas tardes quentes do verão alemão.
Leia Mais
Declarando-se uma "liderança suprapartidária", Sandra Helena afirmou que a mobilização era necessária. "Como é que meia dúzia de deputados se dão o direito de tutelar o país? Precisamos nos organizar", disse a ativista, que acredita ter reunido 40 grupos relacionados a brasileiros na Alemanha.
Um deles era a Bateria de Samba Verde e Branco, que fez jornada dupla: pela manhã, já havia animado um trecho do percurso da maratona de Berlim, com 55 mil corredores e mais 25 mil participantes em cadeiras de rodas, handbikes e patins.
"Democracia é o exercício da tolerância, mas está na hora de usarmos a intolerância contra Eduardo Bolsonaro. Desestabilizar a vida dele na Disney", declarou no microfone outra líder de movimento social, Nilza Bezerra. Com um discurso duro e pessimista, foi festejada quando descreveu que o filho de Jair Bolsonaro "está sentado no colo de Donald Trump" enquanto o Brasil amarga 50% de tarifas em parte de suas exportações.
Após a família Bolsonaro, Hugo Motta, que permitiu a votação do regime de urgência para a PEC da Blindagem, chamada unanimemente em Berlim de PEC da Bandidagem, era um dos mais criticados. "É um absurdo o que está acontecendo no Brasil. Precisamos nos manifestar", declarou um técnico de TI, há 7 anos na Alemanha, que pediu para não ser identificado pela reportagem.
Com a mulher e o filho, protestava com cartazes improvisados a partir de caixas de pizza. "A ascensão da extrema direita é um fenômeno mundial", disse, percepção compartilhada com Sandra Helena. "Veja a Alemanha, a AfD [partido classificado de extrema direita pelos serviços de segurança do país] já é a terceira força política."
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
Ana Andrade, militante da Unidade Popular pelo Socialismo, declarou que a mobilização popular é a única alternativa que resta à esquerda e aos movimentos sociais. "As redes sociais foram dominadas pela extrema direita, e o algoritmo trabalha exclusivamente para eles. Não temos chance lá. Só nos resta o boca à boca, o porta à porta e ir para as ruas."