Secretário dos EUA diz que relação com o Brasil precisa de conserto
Enquanto diplomatas tentam marcar reunião Lula-Trump, secretário de Comércio dos EUA critica o Brasil. Ele exige abertura de mercado e pressiona por terras raras
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Siga noMenos de uma semana depois do aceno do presidente norte-americano Donald Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, disse que o Brasil é um dos países que precisam ter sua relação comercial com os EUA "consertada" para, segundo ele, deixar de prejudicar o mercado norte-americano.
Em meio aos trabalhos de diplomatas de ambos os países para tentar marcar uma conversa entre os presidentes de ambos os países, Lutnick afirmou que o Brasil, assim como a Índia — país que também foi taxado em 50% mesmo após negociar com os EUA —, precisa jogar segundo as regras de Trump.
"Temos um monte de países para resolver, como Suíça, Brasil e Índia também. Esses são países que realmente precisam reagir da forma correta com os Estados Unidos: abrir seus mercados, parar de adotar medidas que prejudicam os EUA.
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É por isso que estamos em desacordo com eles”, afirmou, no sábado, em entrevista ao canal norte-americano NewsNation. "Precisamos resolver isso, e acho que será resolvido. Mas leva tempo. E esses países têm que entender que, se você quer vender para o consumidor americano, tem que jogar o jogo com o presidente dos Estados Unidos", disse o secretário.
Howard Lutnick afirmou, no entanto, estar otimista sobre uma "resolução". Citou a Suíça como exemplo de um país "pequeno", mas que, segundo ele, causaria problemas aos EUA porque vende mais aos norte-americanos do que compra.
"Sabe por que eles são um país pequeno e rico? Porque eles nos vendem US$ 40 bilhões a mais em produtos", disse o secretário, que pontuou que o mercado europeu é “especial” para os norte-americanos pelo tamanho de seu mercado. “A economia deles é uma coisa linda para nós vendemos, certo. Quero dizer, pela oportunidade que ela traz para a América, isso é realmente extraordinário”, disse.
O problema é que, no caso do Brasil, ao contrário do que argumentou o presidente Donald Trump, não há deficit dos norte-americanos com o Brasil. Nesta relação, o país vende mais do que compra. Em 2024, segundo o Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), houve superavit dos norte-americanos (ou seja, venderam a mais do que compraram ao Brasil) na ordem de US$ 28 bilhões.
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No fim de julho, Lutnick teve conversas com o vice-presidente Geraldo Alckmin, responsável pelas negociações em torno do tarifaço dos EUA. Alckmin, que também comanda o MDIC, lidera um comitê criado para debater possíveis soluções para o impasse. A conversa, no entanto, não levou a uma resolução. Naquele mesmo período, os Estados Unidos também sinalizaram a empresários brasileiros que estariam interessados em ter acesso a terras raras mineradas no Brasil.
Na época, Lula foi contra. “Aqui ninguém põe a mão”, disse em um evento. O posicionamento mudou depois do aceno de Trump. Na quarta passada, Lula disse que está aberto a falar sobre qualquer assunto com o presidente dos EUA, desde que não sejam prejudiciais à soberania brasileira. Revelou, também, que passou a estudar o possíveis negociações envolvendo terras raras.
“Nós discutimos com o mundo inteiro as nossas terras raras. Nós queremos discutir com o mundo inteiro os nossos minerais críticos. Nós queremos que empresas que quiserem explorar vão para o Brasil explorar. O que a gente não quer é permitir que aconteça como aconteceu até agora com os minérios: a gente é só exportador e não faz o processo de industrialização dentro do Brasil”, disse. Não há, no entanto, uma definição sobre quando ocorrerá a conversa entre os dois presidentes.