Dias depois de ser hostilizado durante um voo, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, desabafou ao afirmar que fica inquieto por receio de possíveis ataques e que, no atual momento histórico, o ódio vem sendo aceito e recompensado.
"Vivemos numa quadra histórica em que o ódio não é só admitido, mas é um bom negócio. Se você faz um vídeo esdrúxulo, você ganha dinheiro com ele. (...) A insensatez não é apenas vigente, ela é valorizada e transformada em dinheiro para quem é insensato", queixou-se o ministro, que participou nesta sexta-feira (2/9) do 16º Congresso Nacional do Ministério Público de Contas, em Belo Horizonte.
Leia Mais
Na última segunda-feira (1º), uma mulher paranaense passou a gritar durante um voo entre São Luís, capital do Maranhão, e Brasília que a aeronave estava "contaminada" pela presença do ministro e que "não respeitava essa espécie de gente". Ela chegou a tentar se aproximar dele para um ataque físico, mas a segurança da companhia aérea a conteve. No dia seguinte, a Polícia Federal (PF) indiciou a agressora.
Sem citar o caso diretamente, Dino disse ficar tenso em viagens por não saber o que pode acontecer e mencionou que seu filho, que hoje está com nove anos, já presenciou ataques contra ele.
A agressão, segundo o ministro, vem sendo "valorizada e transformada em dinheiro para quem é insensato" e que, no momento, algumas pessoas vem querendo impor suas vontades sobre as dos outros e até, caso seja possível, por meio do extermínio, o que em alguns casos tem apoio de políticos.
As falas do maranhense ocorrem em meio ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de sete membros do alto escalão do seu governo, o chamado "Núcleo Crucial" da tentativa de golpe de Estado depois da derrota eleitoral para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.
As práticas de ameaças, ofensas, crimes de apologia, instigação ao suicídio e outras vêm encontrando na internet e nas redes sociais um espaço com pouca resistência para a reverberação desses discursos.
O ministro da Suprema Corte vem argumentando que nestes casos, em que há um grande volume destas práticas, muitas vezes feitas por robôs contratados, as plataformas têm responsabilidade sobre o serviço.
As big techs e empresas de redes sociais alegam que a prática pode tolher a liberdade dos usuários e que poderia puni-las de forma injusta. Dino responde argumentando que é preciso observar se é um evento isolado ou se é uma falha sistêmica e organizada.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
"No caso dessas indústrias de morte que estão institucionalizadas nesse imenso vasto mundo, as plataformas também são responsáveis, mas explicitamos o óbvio: Se for uma postagem, um evento isolado, nós consideramos que é difícil para a plataforma identificar. É preciso observar se é um evento isolado ou uma falha sistêmica. Evento isolado, a responsabilidade da plataforma é zero ou quase zero. Se é uma falha sistêmica, em que estão milhares de postagens, fotos, grupos, a plataforma tem responsabilidade jurídica", afirmou.