O cenário político brasileiro se assemelha a um tabuleiro de xadrez em constante movimento, onde cada peça ajusta sua posição em preparação para a próxima grande partida: as eleições. No centro de uma das disputas mais visíveis está o deputado Eduardo Bolsonaro e o bloco de partidos conhecido como Centrão, uma relação que oscila entre a necessidade mútua e a desconfiança aberta.

Leia: O fantasma de Eduardo Bolsonaro ronda o Centrão

Essa tensão não é nova, mas ganha contornos dramáticos à medida que o calendário eleitoral avança. As declarações e movimentos do deputado, muitas vezes desalinhados das estratégias pragmáticas do Centrão, funcionam como um termômetro da instabilidade. O que está em jogo é o controle da narrativa e a definição das alianças que sustentarão as candidaturas da direita no país.

O cálculo do Centrão

Para entender a dinâmica, é preciso analisar os interesses de cada lado. O Centrão é um agrupamento político cuja principal característica é o pragmatismo. O objetivo é estar próximo ao poder para garantir acesso a recursos, emendas parlamentares e cargos estratégicos na máquina pública. A ideologia, nesse contexto, fica em segundo plano.

O bloco enxerga no bolsonarismo uma força popular indispensável. A capacidade de mobilização do ex-presidente e de seus apoiadores representa um capital eleitoral valioso, capaz de eleger prefeitos, governadores e uma bancada expressiva no Congresso. Por isso, manter a aliança é fundamental para os planos do grupo.

Contudo, a imprevisibilidade de figuras como Eduardo Bolsonaro gera ruídos. Suas posições mais radicais e críticas abertas a aliados podem minar acordos costurados nos bastidores. O Centrão opera com base na negociação e na previsibilidade, duas características que frequentemente colidem com o estilo do filho do ex-presidente.

O dilema do bolsonarismo

Do outro lado do tabuleiro, o clã Bolsonaro e seus apoiadores mais fiéis enfrentam um dilema. Eles precisam da estrutura partidária e da capilaridade do Centrão para transformar sua popularidade em vitórias concretas nas urnas. Sem essa máquina, uma campanha nacional se torna uma tarefa muito mais difícil.

A aliança com o Centrão, no entanto, tem um custo. Parte da base bolsonarista mais engajada vê com maus olhos a aproximação com o que eles mesmos chamavam de "velha política". A retórica antissistema, que foi um dos pilares da eleição de 2018, precisa ser constantemente equilibrada com a necessidade de governabilidade e de construção de maioria.

É nesse ponto que a atuação de Eduardo Bolsonaro se torna crucial. Ele atua como um porta-voz da ala mais ideológica, buscando manter a base mobilizada e fiel aos princípios originais do movimento. Suas críticas ao Centrão servem como um recado para os apoiadores: a aliança é tática, mas os valores permanecem intactos.

As eleições municipais como laboratório

As próximas eleições municipais servirão como um grande laboratório para essa relação. Será o momento de testar a força da aliança em centenas de cidades pelo país. O sucesso ou fracasso dessas parcerias locais indicará o nível de coesão da direita para os desafios futuros.

Em diversas capitais e cidades importantes, já é possível observar os reflexos dessa tensão. Em alguns lugares, o PL, partido de Bolsonaro, e os partidos do Centrão caminham juntos, com um candidato de consenso. Em outros, as disputas internas e a dificuldade de conciliar projetos levam a múltiplas candidaturas no mesmo campo político.

Essas fissuras podem ser exploradas por adversários. Uma direita dividida abre espaço para o crescimento de candidaturas de centro e de esquerda. O resultado das urnas municipais será um mapa claro de onde a aliança funcionou e onde as rupturas se mostraram mais fortes, moldando a estratégia para a eleição presidencial seguinte.

Leia: O recado que Eduardo Bolsonaro vem recebendo de aliados

Perguntas e Respostas

Qual é a principal fonte de tensão entre Eduardo Bolsonaro e o Centrão?

A principal fonte de tensão é o conflito entre a ala ideológica do bolsonarismo, representada por Eduardo, e o pragmatismo do Centrão.

Enquanto o deputado foca em manter a base radical mobilizada, o Centrão busca estabilidade e acordos para garantir poder e recursos.

Por que o Centrão precisa do bolsonarismo?

O Centrão precisa do bolsonarismo pelo seu capital eleitoral. A popularidade do nome Bolsonaro atrai milhões de votos.

Essa base de eleitores é fundamental para que os partidos do bloco consigam eleger seus candidatos em todo o país.

E por que o bolsonarismo precisa do Centrão?

O bolsonarismo precisa da máquina política do Centrão. Isso inclui estrutura partidária, tempo de televisão e rádio e capilaridade nos municípios.

Sem esse suporte, é muito mais difícil organizar campanhas competitivas, especialmente em uma eleição presidencial.

Como essa briga pode impactar as eleições municipais?

A briga pode levar à divisão da direita em várias cidades, com candidatos do mesmo campo político competindo entre si.

Essa pulverização de votos enfraquece a todos e pode facilitar a vitória de adversários de outros espectros políticos.

Essa aliança pode acabar em uma ruptura definitiva?

Uma ruptura definitiva antes das eleições é improvável, pois ambos os lados se beneficiam da aliança, ainda que de forma tensa.

Trata-se de uma relação de conveniência mútua. O mais provável é que as tensões continuem como uma forma de negociação de poder.

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