Comissão marca reunião para votar parecer da PEC da Copasa
Mesmo com tentativas de obstrução da oposição, relatório que elimina exigência de consulta popular para privatização deve ser votado nesta terça-feira (7/10
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A Comissão Especial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) responsável por avaliar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023, que retira da Constituição estadual a exigência de consulta popular para autorizar a privatização da Copasa, vai se reunir às 9h desta terça-feira (7/10) para votar o parecer do relator, Gustavo Valadares (PSD).
O movimento confirma a pressa do governo Romeu Zema (Novo) em avançar na tramitação da proposta, que deve chegar ao plenário já na quarta (8/10) ou quinta-feira (9/10).
O relator, ex-secretário de Governo de Zema e um dos principais articuladores da base na Casa, apresentou o parecer nesta segunda-feira (6/10), quatro dias depois de ser designado para a função. O documento, distribuído em avulso - ou seja, sem passar pela tramitação convencional que permitiria o pedido de vista de 24 horas por parte dos deputados -, recomenda a aprovação da PEC na forma do Substitutivo nº 2.
O texto mantém o quórum qualificado de três quintos para a votação, mas dispensa o referendo popular em casos de desestatização destinados ao pagamento da dívida pública ou à renegociação de passivos do Estado.
O presidente da comissão, deputado Cássio Soares (PSD), líder do maior bloco governista, convocou a reunião logo após receber o relatório, em uma estratégia vista pela oposição como tentativa de "reduzir ao mínimo o espaço para debate".
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Parecer favorável à privatização
No parecer, Valadares defende que Minas Gerais enfrenta uma “profunda crise fiscal” e precisa levantar recursos para honrar compromissos com a União. Ele argumenta que a federalização ou desestatização da Copasa e da Copanor seriam alternativas legítimas para estabilizar as finanças e permitir novos investimentos públicos.
O relator também afirma que a privatização pode “atender à demanda por uma prestação mais ampla e eficiente dos serviços de saneamento”, contribuindo para a universalização prevista pela Lei Federal nº 14.026/2020, que atualizou o marco regulatório do setor. Segundo o texto, há “uma percepção de insatisfação da sociedade com os serviços da Copasa e da Copanor, marcada por entraves estruturais que o Estado endividado não consegue resolver”.
Outro ponto de sustentação é a crítica ao referendo populaf, que, segundo o relator, representa “um ônus procedimental custoso, moroso e injustificado”. O parecer alega que o mecanismo funciona como um “bloqueio político” que pode inviabilizar operações estratégicas de modernização e saneamento das contas públicas.
Em resposta às críticas sobre o caráter democrático da medida, Valadares argumenta que a “legitimidade democrática” permanece garantida, já que a proposta continua exigindo quórum qualificado para aprovação e será debatida por representantes eleitos. Ele cita ainda a revogação da exigência de plebiscito no Rio Grande do Sul, validada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), como precedente jurídico.
'Relatório The Flash', critica a oposição
A deputada Bella Gonçalves (Psol), única titular da oposição na Comissão Especial, classificou a tramitação como “relâmpago” e criticou a falta de diálogo. “Seria um fim de semana tempo suficiente pra ouvir a população? O senhor disse que buscaria diálogo, mas com um relatório ‘The Flash’ como este não há espaço para escuta, nem para saber o que o povo precisa e quer”, protestou durante a reunião desta segunda-feira.
A parlamentar também lembrou que a consulta pública sobre a PEC, aberta em 24 de setembro no site da Assembleia Legislativa, recebeu o maior número de contribuições da história da Casa, com milhares de cidadãos se cadastrando para opinar sobre o tema. “O povo quer ser ouvido, mas estão tentando tirar o referendo justamente para calar a boca da população”, afirmou.
Bella acusou o governo de atropelar o debate interno. “Na sexta-feira, o relator prometeu diálogo e na segunda apresentou o parecer. Eu truco: deu tempo de ler o próprio relatório? Ele foi feito sem diálogo, sem escuta dos deputados. Querem acabar com a possibilidade de escutar o povo”, disse.
Caminho até o plenário
Com a votação da comissão marcada para esta terça-feira, a expectativa é que o parecer seja aprovado pela maioria governista e siga imediatamente para o plenário. A base de Zema trabalha para pautar a PEC na quarta ou quinta-feira, mantendo o cronograma acelerado que vem sendo adotado desde setembro.
A proposta, apelidada por sindicatos e movimentos sociais de “PEC do Cala a Boca”, suprime o trecho da Constituição mineira que obriga o governo a submeter à consulta popular qualquer tentativa de privatizar estatais como a Copasa e sua subsidiária Copanor. Originalmente, a PEC também incluía a Cemig e a Gasmig, mas um substitutivo da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) restringiu a medida apenas às companhias de saneamento.
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O governo argumenta que a venda da Copasa é necessária para reduzir parte da dívida de R$ 172 bilhões com a União e permitir a adesão de Minas ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), iniciativa federal que prevê alongamento do prazo de pagamento por até 30 anos e juros reduzidos.