Lula: 'Nunca mais um presidente de outro país ouse falar grosso'
Petista afirmou que quer criar uma doutrina de educação latino-americana para que "nunca mais um presidente de outro país ouse falar grosso com o Brasil"
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu neste sábado (18/10), em São Bernardo do Campo, a soberania do país e afirmou, diante de uma plateia de estudantes do ensino médio, que quer criar uma doutrina de educação latino-americana para que "nunca mais um presidente de outro país ouse falar grosso com o Brasil", em uma referência indireta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O petista alegou que o país precisa aumentar os gastos com educação, mesmo sabendo que "a Faria Lima vai brigar com a gente".
Em seu discurso, Lula disse que a desigualdade histórica do país deu menos oportunidades a mulheres, negros e indígenas e focou parte das falas nesse grupo, especialmente nas mulheres, dizendo que a educação leva ao aumento de renda e que a independência financeira pode afastar meninas de companheiros agressores.
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Pé-de-meia
Lula defendeu universalizar o programa Pé-de-Meia, que faz repasses a alunos do ensino médio como forma de combater a evasão escolar, e fez críticas à elite financeira do país.
"Tem um aluno que recebe o Pé-de-Meia e outro [na mesma classe] que não recebe. E a diferença de salário é 50 centavos, é 100 centavos. Então, nós temos que aprovar a universalização do Pé-de-Meia para que todas as pessoas possam ter o direito de estudar", disse.
"É difícil, a Faria Lima vai brigar com a gente, o banqueiro vai reclamar. 'Nossa, esse governo está gastando R$ 13,8 bilhões com o Pé-de-Meia. Poderia estar aqui na Faria Lima para a gente ganhar mais dinheiro'", afirmou.
Em outro trecho do discurso, contudo, Lula disse que não queria "prejudicar ninguém", em nova referência às elites.
"Eu não quero prejudicar ninguém, mas quero que a filha da empregada doméstica possa fazer o Enem ao lado do filho da patroa dela."
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Educação latino-americana
O presidente, que deve disputar a reeleição no ano que vem, tem visto seus índices de popularidade, que estavam em queda, crescerem nos últimos meses, especialmente após o tarifaço imposto por Donald Trump em retaliação ao julgamento de Jair Bolsonaro (PL).
No discurso, ele não citou o norte-americano diretamente, mas defendeu a independência do Brasil.
"A gente quer formar uma doutrina latino-americana, com professores latino-americanos, estudantes latino-americanos, para que a gente possa sonhar que esse continente vai ser independente e que nunca mais um presidente de outro país ouse falar grosso com o Brasil. Não é uma questão de coragem, é uma questão de dignidade e de caráter", disse.
Recados aos jovens
Em sua fala, o presidente buscou motivar os jovens a ingressar na política e fez críticas implícitas ao Congresso e à aprovação, pela Câmara, da PEC da Blindagem, no mês passado.
"Não desanimem. Quando vocês verem que a classe política está querendo aprovar uma lei que garanta impunidade para ladrão, ainda assim não desistam. Entrem para a política, porque o político bom está dentro de vocês", afirmou Lula.
"A desgraça de quem não gosta de político é que ele é governado por quem gosta. E, se quem gosta for um tranqueira, vocês serão governados por uma tranqueira. Não coloquem raposa para tomar conta do galinheiro", disse em outro trecho.
O presidente estava em São Bernardo, seu berço eleitoral, para o encontro da CPOP (Rede de Cursinhos Populares), voltado à preparação de alunos para o vestibular, no ginásio poliesportivo da cidade. Os ministros Camilo Santana (Educação) e Fernando Haddad (Fazenda) também participaram do evento.
No evento, o ministro da Educação afirmou que o governo ampliará para 500 o número de cursinhos populares apoiados pelo programa (atualmente, são 384) no ano que vem, quando Lula tentará a reeleição.