Aava: vereadora leva valores do evangelho à defesa de mulheres e minorias
Em Goiânia, Aava Santiago transforma sua fé em pautas de justiça social e combate à desigualdade
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Em seu segundo mandato como vereadora em Goiânia, Aava Santiago (PSDB) construiu uma trajetória que entrelaça fé e política sem transformá-las em sinônimos. Evangélica e reeleita em 2024, ela afirma que sua crença nunca foi usada como “plataforma eleitoral”, mas como orientação de sua atuação na vida pública. Sua visão é a de que o evangelho, mais do que um discurso, deve se traduzir em práticas de justiça social e defesa dos vulneráveis.
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Na Câmara Municipal, Aava busca incorporar valores que identifica na mensagem cristã, o cuidado com os mais frágeis, a solidariedade e a promoção da igualdade, em projetos que tratam de temas como educação pública, redução das desigualdades, fortalecimento de mães e mulheres no mundo do trabalho e justiça climática. Para ela, não se trata de conciliar pautas distintas, mas de dar consequência política ao que entende como princípios da própria fé.
“Eu sou uma mulher evangélica em qualquer lugar. Disputando a eleição, no mandato, mas eu não peço votos por ser uma mulher evangélica, eu trago os valores da minha fé que eu acredito que sejam valores do evangelho para a forma como eu atuo dentro do parlamento”, disse à reportagem.
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“Não de maneira a pregar a minha fé, a difundir a minha fé ou de usar o espaço de poder para o convencimento ou a imposição [da religião], mas para que a minha fé produza em mim resultados compatíveis com aquilo que o evangelho ensina. Eu só estou permanentemente inquieta com as injustiças porque o evangelho me ensina isso”, completou.
Filha de família periférica, Aava destaca à reportagem do Estado de Minas não ter herdado capital político nem econômico. Relata ter vivenciado desigualdades profundas e enfrentado períodos de fome antes de encontrar, nas redes de apoio das igrejas, formas comunitárias de sobrevivência e solidariedade. Essa experiência, diz, ajudou a moldar sua visão de política como construção coletiva, feita a partir de recursos escassos, mas sustentada por vínculos de confiança e cooperação.
“Sempre tinha uma irmã da igreja que levava uma comida para gente, alguém que compartilhava alguma coisa. Todo mundo da igreja, pobre também, ia tirando do que tinha para dar para o outro. E aí a vida ia melhorando e a gente ia devolvendo essas providências. Essa experiência comunitária do evangelho da igreja pentecostal também ensina muito sobre a política de como a gente pode trazer soluções coletivas a partir de muito pouco”, disse.
Sua entrada na política institucional ocorreu após anos de atuação em políticas públicas. Em 2018, decidiu disputar uma vaga na Assembleia Legislativa de Goiás, mesmo sem estrutura de campanha, dinheiro ou apoios tradicionais. Segundo ela, foi desencorajada por lideranças partidárias, quase todas masculinas, que consideravam “cedo demais” para uma mulher sem sobrenome político. Apesar disso, lançou a candidatura com poucos recursos e o gesto, mesmo sem resultar em vitória, consolidou sua presença no debate público.
Dois anos depois, em 2020, a experiência acumulada serviu de base para uma nova disputa, desta vez pela Câmara de Goiânia. A campanha levou-a à eleição e, posteriormente, à reeleição.
Ao chegar à Câmara, uma das primeiras articulações que promoveu foi pela efetivação da Ouvidoria da Mulher, órgão que existia apenas formalmente e cujas demandas eram respondidas por homens. A partir da sua trajetória, começou a refletir sobre a permanência feminina na política e a desigualdade entre gêneros nas estruturas partidárias. Uma pesquisa conduzida por sua equipe revelou que 92% das mulheres eleitas em Goiás não conseguem se reeleger, enquanto apenas 6% dos homens ficam de fora em tentativas seguintes.
A constatação deu origem à Frente Intermunicipal de Mulheres pelo Fim da Violência Política, iniciativa idealizada por Aava para articular apoio mútuo entre vereadoras, prefeitas e lideranças locais.
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"Eu entendi que as mulheres passavam por essa caminhada e na maioria das vezes não encontravam pares, inclusive nas suas próprias famílias, para estimulá-las a continuar nisso. E aí por causa disso a gente criou a Frente Intermunicipal para criar condições de permanência para as mulheres na política institucional no estado de Goiás", disse a vereadora sobre a idealização da proposta. “Somos mais de 100 mulheres aqui se alimentando, se fortalecendo de vários partidos, de várias cidades”, completou.