Guerra Fria no PT: quem vai comandar a próxima campanha de Lula
Marqueteiro político revela a disputa nos bastidores para definir o comando da campanha de 2026; o desafio é reconquistar o domínio na internet
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Uma disputa interna silenciosa no Partido dos Trabalhadores (PT) definirá os rumos da campanha presidencial de Lula em 2026. Nos bastidores, dois nomes ligados à comunicação do partido travam uma batalha estratégica pelo comando, em um cenário onde reconquistar o domínio da internet se tornou a principal prioridade. A busca pela melhor estratégia digital se acirra em meio à melhora de desempenho do governo Lula e do PT na comunicação feita pelas redes sociais, o que levou os publicitários a buscarem mostrar serviço ao presidente de olho no pleito.
Uma análise de desempenho de pré-candidatos nas redes, realizada pela Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados e publicada com exclusividade pela revista "Veja", corrobora o tamanho do desafio. Para a esquerda, a tarefa é traduzir pautas ideológicas em causas concretas, com uma linguagem popular e direta, abandonando o tom acadêmico que muitas vezes afasta o eleitor comum.
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O diagnóstico vem do marqueteiro político Zuza Nacif, CEO da Brasil Comunicação, com ampla experiência em disputas presidenciais, estaduais e municipais. Segundo ele, a esquerda, e especialmente o PT, ainda busca o caminho para recuperar a influência digital que possuía em eleições passadas, reconhecendo que o partido ainda está longe de dominar a internet como fazia anteriormente. “Em 2022, atuamos na campanha de Lula em Minas e vimos de perto a necessidade de atualização das práticas de comunicação da esquerda”, disse.
O marqueteiro lembra que, em 2010, na campanha que elegeu Dilma Rousseff contra José Serra (PSDB), a militância petista controlava a pauta digital com agilidade. Episódios como o da "bolinha de papel" arremessada contra o candidato tucano eram transformados em memes e narrativas que viralizavam rapidamente. “Episódios como a bolinha de papel arremessada contra Serra, edições de debates e discussões em antigos fóruns transformavam pequenas ações em tópicos nacionais. A esquerda controlava a pauta digital", diz o publicitário mineiro.
O cenário começou a mudar a partir de 2014, quando a oposição passou a organizar sua presença online de forma mais estruturada. Nacif, que na ocasião coordenou esforços digitais para a campanha de Aécio Neves, explica que criar musculatura online exige planejamento, engajamento de apoiadores e ações integradas entre estratégias digitais e presenciais. A análise de quem viveu o processo por dentro indica que o sucesso digital não vem de grandes discursos, mas de ações coordenadas que empoderam apoiadores para que atuem dentro de suas próprias bolhas de influência. "O que mais funciona é empoderar pessoas para atuar dentro de suas pequenas bolhas, e não tentar orquestrar debates nacionais", completa.
Enquanto a sigla busca a fórmula para se reconectar com o eleitorado na internet, a disputa interna se acirra. De um lado está Sidônio Palmeira, atual secretário de Comunicação Social da Presidência e marqueteiro da vitoriosa campanha de 2022. Do outro, Otávio Antunes, que também presta serviços de comunicação ao partido.
Ambos competem para apresentar a melhor estratégia digital para 2026 e conquistar o eleitor. "Quem conseguir isso terá o apoio direto de Lula, porque a campanha do próximo seguirá toda a lógica digital, até mesmo na TV”, afirma.
A urgência em resolver essa disputa e definir um comando claro é grande. O tempo corre, e Nacif conclui que organizar a casa e administrar vaidades e pretensões internas é difícil, mas urgente, pois do outro lado do espectro político há um adversário bem articulado, com uma máquina digital consolidada e em constante expansão, já se preparando para a batalha eleitoral de 2026.