A menos um ano das eleições, o mapa político de Minas Gerais começa a se redesenhar. O Estado de Minas identificou os polos que devem concentrar as principais disputas de 2026, além, claro, de Belo Horizonte, onde está o centro do poder. De Divinópolis, no Centro-Oeste, a Uberlândia, no Triâgulo, e de Montes Claros, no Norte, a Juiz de Fora, na Zona da Mata, prefeitos, deputados e dirigentes partidários já se movem em busca de território e poder. Minas não tem uma capital única da política, tem várias. E é justamente essa descentralização que faz do estado o principal campo de batalha eleitoral do país.
Em um território de 853 municípios, onde o voto nasce nas prefeituras e se espalha pelas alianças locais, o poder é pulverizado. O historiador e gestor público Rodolfo Guedes, da UFMG, explica que Minas exige estratégias de base. “Não há receita de bolo para eleger um candidato, mas ter uma forte base regional e conseguir projetar presença além dela é o caminho para um bom desempenho em 2026”, avalia. Para ele, unificar o discurso em um estado tão diverso é um desafio, mas “quem trabalha bem pautas de interesse geral, como a segurança pública, pode ter êxito.”
CENTRO-OESTE
No Centro-Oeste, o poder se concentra em Divinópolis, novo epicentro da política mineira. O senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) é nome competitivo ao governo e símbolo da direita popular, e o prefeito Gleidson Azevedo (Novo) articula candidatura à Câmara dos Deputados. Enquanto a deputada estadual Lohanna França (PV), no campo progressista, também se prepara para disputar vaga federal. A tesoureira nacional do PT, Gleide Andrade, e o deputado Domingos Sávio (PL), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), completam o tabuleiro. Nenhuma outra cidade reúne tantos projetos eleitorais simultâneos e de campos tão distintos.
Para Rodolfo Guedes, a força dessas lideranças locais dá capilaridade ao jogo político. “É inviável que, em 45 dias de campanha, um candidato percorra 853 municípios. Por isso, prefeitos e deputados se tornam ponte entre o eleitor e o projeto majoritário.”
TRIÂNGULO E NORTE
No Triângulo Mineiro, Uberlândia mantém o papel de centro de gravidade da região. A deputada federal Dandara Tonantzin (PT) é cotada para coordenar a campanha do presidente Lula no estado. No outro extremo, o deputado estadual Caporezzo (PL) tenta consolidar uma base bolsonarista regional, apoiado por igrejas e forças de segurança. Fora das urnas, o prefeito Odelmo Leão (PP) segue como árbitro político.
“Minas é um estado de mediações”, observa Rodolfo. “Não basta aparecer na TV. É preciso quem te legitime localmente, o prefeito, o vereador, o líder comunitário. As campanhas que constroem esse território vencem o jogo.”
No Norte, Montes Claros reafirma a vocação de bastidor. O presidente da Assembleia Legislativa, Tadeu Martins Leite (MDB), ampliou sua influência e é cotado para compor uma chapa majoritária. Da mesma região, vem a presidente do PT-Minas, Leninha, que também ganha espaço nas articulações estaduais.
SUL
No Sul, o poder gira em torno de Passos, base do deputado Cássio Soares (PSD), presidente estadual da legenda e líder do governo Romeu Zema na Assembleia. “Vejo um cenário com muita responsabilidade de poder representar uma região tão importante como é o Sul de Minas e, ao mesmo tempo, manter essa relação de confiança do eleitor com o meu mandato ao longo dos quatro anos”, disse o deputado ao EM. Cássio, que deve disputar vaga à Câmara dos Deputados, acompanhará a pré-candidatura de Mateus Simões (PSD) ao governo. “Vou estar atento ao planejamento da minha campanha e também ao processo de preparação da pré-candidatura a governador do Mateus, enquanto presidente do partido e entusiasta do nome dele.”
O presidente do PSD também destacou que o partido chega à disputa mais estruturado e com presença ampliada nos executivos municipais. A legenda conta com a maior quantidade de prefeitos em Minas, sendo 141 chefes do Executivo. “A montagem de chapa que já se iniciou é completamente diferente das eleições passadas. Hoje, temos uma capilaridade maior, mais representação nas prefeituras e um time disposto”, avaliou Cássio Soares.
ZONA DA MATA E GRANDE BH
Na Zona da Mata, Juiz de Fora preserva o papel histórico de reduto da esquerda mineira. A prefeita Margarida Salomão (PT) é próxima do governo federal e se tornou uma das vozes mais influentes do partido no estado. O município voltou a ocupar lugar estratégico nas campanhas presidenciais e estaduais.
Na região metropolitana, Contagem se destaca. A prefeita Marília Campos (PT) é uma das principais lideranças do entorno da capital e interlocutora direta do Palácio do Planalto. A Grande BH concentra quase um terço do eleitorado mineiro e será determinante na definição dos palanques de 2026.
VALE DO AÇO E ALTO PARANAÍBA
No Alto Paranaíba, Patos de Minas tem no prefeito Luís Eduardo Falcão (PL) um dos nomes mais influentes do interior. À frente da Associação Mineira de Municípios (AMM), ele se tornou uma das principais vozes do municipalismo em Minas, com trânsito entre diferentes partidos e presença constante em Belo Horizonte.
O líder também conversou com o EM e defendeu a convergência regional como caminho natural. “As pessoas estão nos municípios, pagando seus impostos, vivendo os problemas. Não tem como fazer um projeto pra Minas Gerais com 853 municípios sem ouvir a ponta, sem compreender a particularidade de cada região da Zona da Mata, do Triângulo, do Sul, do Norte e da capital. O desafio é absorver todas essas demandas e trabalhá-las de forma estratégica, dando vez e voz a cada região.”
Falcão defende que o interior volte a ocupar protagonismo político. “A capital é importante, mas é uma bolha. Setenta por cento do estado são interior, onde está a maior parte do PIB e dos empregos, mas é carente de representação verdadeira. O interior não pode ser só pra você passar lá de vez em quando, fazer um evento. O interior está pagando a conta”, avalia Falcão.
No Vale do Aço e Rio Doce, Governador Valadares se consolida como polo do Leste. O deputado federal Euclydes Pettersen (Republicanos), presidente estadual da sigla, lidera um dos grupos mais ativos de prefeitos e vereadores da região, com influência direta sobre as decisões partidárias em nível estadual.
POLO DE COMUNICAÇÃO
Para o marqueteiro político Gabriel Galvão, compreender o território é o ponto de partida de qualquer estratégia eleitoral no estado. “Minas Gerais é quase um país. A distância, o relevo e a cultura fazem com que cada região tenha seu próprio jeito. O voto do Norte de Minas muitas vezes não tem nada a ver com o da Região Metropolitana, e isso muda tudo”, afirma.
Segundo ele, campanhas vencedoras são as que “põem o pé no barro”. “É no território que a política se materializa. Nenhuma comunicação acontece sozinha. É no chão das cidades que se entende se a mensagem chega à base. Quem ignora o território começa a campanha errando o caminho.”
Galvão explica que o marketing político terá papel central em 2026 porque a disputa será marcada pela sobreposição de narrativas regionais e nacionais. O desafio das campanhas será equilibrar o discurso de cada candidato entre identidade local e posicionamento ideológico, um erro de calibragem pode custar votos inteiros em regiões que se comunicam por valores, não por slogans. “O essencial é incluir uma estratégia territorial dentro da comunicação geral, priorizando o local onde o parlamentar tem sua base mais forte.”
PESO DOS MUNICÍPIOS
Com 853 municípios e 16,4 milhões de eleitores, Minas é o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, atrás apenas de São Paulo. Representa cerca de 10,5% do eleitorado nacional. Dez cidades concentram quase um terço desses votos e são os grandes palanques do estado: Belo Horizonte, Uberlândia, Contagem, Juiz de Fora, Betim, Montes Claros, Uberaba, Ribeirão das Neves, Governador Valadares e Ipatinga.
