A Prefeitura de Belo Horizonte inaugurou, na manhã deste sábado (29/11), uma escultura em homenagem a Fuad Noman na antiga Praça da Independência, agora rebatizada com o nome do ex-prefeito da capital. A obra em bronze, instalada no coração da Avenida Afonso Pena, na região central da capital, foi apresentada ao público pelo prefeito Álvaro Damião (União Brasil).
A escultura passa a integrar o cotidiano de quem circula pela área e leva para o espaço público a memória do gestor que permaneceu formalmente à frente da Prefeitura de Belo Horizonte até março deste ano, quando morreu por complicações do quadro de saúde. O evento foi prestigiado por familiares, que se emocionaram com a homenagem. Parlamentares da capital mineira também estiveram presente na cerimônia.
A escultura, que mede 1,75m x 0,60m e pesa 150 kg, foi instalada sem base, no mesmo nível da calçada, para, segundo a Prefeitura de BH, permitir maior proximidade e interação com o público. O item foi financiado a partir de uma suplementação de R$ 250 mil na Secretaria Municipal de Cultura.
A estátua é acompanhada da frase: “Homenagem do povo de Belo Horizonte ao prefeito Fuad Jorge Noman Filho. Por sua trajetória dedicada à cidade, guiada pelo diálogo, pela ética e pelo amor à Belo Horizonte”. A placa ainda contém QR Code que direciona a uma galeria de ex-prefeitos da cidade.
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O processo de criação seguiu etapas tradicionais da escultura em bronze, incluindo estudo iconográfico, croquis, matriz em argila, formas em gesso e cera, fundição artística, oxidação e acabamento final. A obra é assinada pelo escultor e artista plástico Leo Santana, responsável por alguns dos mais conhecidos monumentos públicos de Minas Gerais e do Brasil, como a escultura "Drummond no Calçadão", em Copacabana.
Na inauguração, emocionado, Damião ressaltou o legado do parceiro político, o descrevendo como um dos melhores gestores que a cidade já teve, mesmo com pouco tempo de mandato, portanto, merecia ser eternizado em um espaço simbólico. “É difícil a até a gente se manifestar, porque o sentimento uma hora dessa, ele toma conta, você fala com emoção. Apesar do pouco tempo de prefeito, ele fez o que muitos não conseguiram fazer em seis, oito anos de mandato. O Fuad merecia ser eternizado”, disse em coletiva de imprensa após a cerimônia.
Damião comentou ainda que via na praça a realização de um sonho do ex-prefeito e que os belo-horizontinos teriam a oportunidade de “conviver” com ele ali. “Essa praça não existia no Centro de Belo Horizonte. Agora ela está na Afonso Pena, praticamente em frente à prefeitura e é um novo olhar que ela tem. E ele vai ficar, ele sonhava tanto com essa praça, que ele vai nos ajudar a tomar conta dela. Aqui, as pessoas de Belo Horizonte vão poder passar por aqui e admirar Fuad Noman”, completou.
Originalmente concebida como praça-jardim por Roberto Capello, a área foi fechada nos anos 1970 pelo anexo do edifício Novo Sulamérica, que eliminou os jardins. Em 2024, a prefeitura investiu cerca de R$ 3 milhões para recuperar o projeto original, revitalizando e recuperando o espaço urbano.
Ao falar sobre a conservação do espaço, reforçou que a prefeitura tem cuidado das praças da cidade e que confia no compromisso da população para ajudar a preservar o patrimônio público. “Fuad foi um cara absurdamente fantástico e merece toda a reverência do povo de Belo Horizonte”, disse.
A estátua vem acompanhada da mudança de nome da praça, promessas anunciadas por por Álvaro Damião, ainda em abril, durante sua posse na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), sendo o primeiro projeto que ele enviou ao Legislativo.
Família
Ao Estado de Minas, a viúva do ex-prefeito, Mônica Drummond, disse que recebe a homenagem com “muita emoção e alegria”, mas também, “muita gratidão ao povo de Belo Horizonte”. “É pelo povo que ele trabalhou, por isso que ele queria continuar prefeito. Deu tudo que ele tinha para isso”, disse, completando que agora será “uma frequentadora da praça”. “Vou vir, ficar com ele, conversar com ele”, afirmou à imprensa.
Paulo Noman, filho mais velho do ex-prefeito, afirmou que a família já conversava há meses com Álvaro Damião sobre a homenagem e que sempre recebeu com gratidão a proposta da prefeitura. Segundo ele, ver a escultura instalada no centro da cidade emocionou profundamente filhos e netos, que reconheceram no bronze uma representação fiel de Fuad.
Ele ainda destacou que o legado de Fuad para Belo Horizonte está ligado sobretudo ao projeto de revitalização do Centro e que, para a família, ficam o exemplo pessoal e as histórias transmitidas às novas gerações.
“Super emocionante pra gente. Ajuda até mesmo a gente a superar. Faz oito meses que já aconteceu, né [a morte de Fuad]. Então pra gente ajuda muito ter o calor das pessoas aqui, a música, todas essas pessoas aqui, a estátua”, afirmou.
Segundo Paulo, ele fez apenas um pedido específico ao prefeito sobre a homenagem: que a escultura retratasse Fuad sentado. Ele contou que a escolha remete ao cuidado que o ex-prefeito precisava ter com o joelho e que, por isso, a posição foi vista como simbólica e afetuosa.
Processo da estátua
O escultor Léo Santana explicou ao Estado de Minas, que produzir a estátua de Fuad Noman foi um processo rápido e especialmente marcante, descrevendo a modelagem inicial em argila como algo que “ganhou forma” com naturalidade, quase como se o próprio homenageado conduzisse o trabalho. “Foi muito bom, prazeroso, um processo muito rápido. Eu sinto que ele queria isso, sabe?”, comentou.
Ele explicou que, após a escultura inicial, a peça passou por um complexo processo de fundição que levou cerca de dois meses, sem intercorrências técnicas, fato que ele atribuiu à fluidez da criação.
Léo destacou ainda a importância simbólica de ver a obra instalada no espaço revitalizado pelo ex-prefeito e disse se sentir realizado ao perceber o reconhecimento da família, ressaltando que o valor da homenagem está menos no bronze e mais na presença afetiva que a escultura representa.
O legado de Fuad
A homenagem na Afonso Pena incorpora ao centro de Belo Horizonte a memória de um gestor cuja trajetória se tornou mais visível nos últimos anos, mas que acumulava décadas de influência nos bastidores da política mineira e nacional.
Fuad morreu aos 77 anos no dia 26 de março deste ano, no Hospital Mater Dei, após uma parada cardiorrespiratória decorrente de complicações de um linfoma não Hodgkin. Ele estava afastado da PBH desde 3 de janeiro para tratar uma sequência de intercorrências clínicas que incluíram insuficiência respiratória aguda, neuropatia, sinusite, pneumonia, diarreia e desidratação. No período, passou por quatro internações, foi entubado duas vezes e submetido a traqueostomia.
Economista formado pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília (Ceub), Fuad construiu carreira sólida no Banco Central e no Banco do Brasil antes de ocupar postos estratégicos no governo federal, como o de secretário-executivo da Casa Civil no mandato de Fernando Henrique Cardoso. Atuou também como consultor do Fundo Monetário Internacional (FMI) no processo de reorganização fiscal de Cabo Verde.
O retorno definitivo a Minas ocorreu em 2003, quando assumiu a Secretaria de Estado da Fazenda na gestão de Aécio Neves (PSDB). Posteriormente, comandou as pastas de Transportes e Obras Públicas e a secretaria extraordinária da Copa do Mundo de 2014, já na administração de Antonio Anastasia.
Em 2017, tornou-se secretário municipal de Fazenda de Belo Horizonte e, quatro anos depois, vice-prefeito de Alexandre Kalil. Assumiu o comando da PBH em março de 2022, após a saída de Kalil para disputar o governo mineiro.
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Foi no exercício da chefia do Executivo que disputou, em 2024, sua primeira eleição como cabeça de chapa. Ao lado de Álvaro Damião, enfrentou uma campanha atravessada pelo tratamento oncológico, mas conseguiu reverter a desvantagem inicial para Bruno Engler (PL) e venceu o segundo turno, com mais de 670 mil votos. Durante a corrida eleitoral, chegou a comemorar a remissão do câncer, mas enfrentou, nos meses seguintes, complicações clínicas relacionadas ao próprio tratamento, o que levou às internações frequentes.
Outra homenagem
Outra iniciativa de homenagem ao ex-prefeito, a proposta de rebatizar o Anel Rodoviário como “Novo Anel Fuad Noman”, não avançou. A Câmara de Belo Horizonte rejeitou a mudança, mantendo a denominação em homenagem a Celso Mello Azevedo, também ex-prefeito.
