CAIXA APERTADO

Crise financeira desafia prefeitos mineiros no primeiro ano de mandato

Com o caixa apertado, eles deram prioridade ao equilíbrio das contas e à manutenção dos serviços básicos

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“A gente fica bem frustrado porque tinha muita ideia para o primeiro ano, investimentos e obras que tiveram de ficar para trás”. A fala de Ted Saliba (PSD), prefeito de Juatuba, na Região Metropolitana, traduz o início da gestão de prefeitos que assumiram municípios com dificuldades financeiras e dívidas herdadas.

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Em Minas Gerais, a situação não é isolada: pesquisa da Confederação Nacional de Municípios (CNM) publicada recentemente pelo Estado de Minas mostra que 17,4% das cidades do estado, o equivalente a 122 municípios, não conseguiram equilibrar as contas até o fim de 2025.

No início do ano, o EM ouviu prefeitos de diferentes regiões que relataram dificuldades no caixa ao assumir o mandato. Em nova conversa com a reportagem, os gestores afirmam que o esforço ao longo do período se concentrou no equilíbrio financeiro, muitas vezes com o adiamento de obras e a priorização na manutenção dos serviços básicos. Conforme o levantamento da CNM, a crise financeira foi citada como o principal desafio enfrentado por 561 prefeitos em Minas Gerais.

No Sudeste de Minas, no primeiro ano à frente da Prefeitura de Alvinópolis, o prefeito Lindouro (PT) sentiu o impacto da restrição financeira e precisou priorizar a manutenção dos serviços essenciais e a regularização da folha de pagamento, mesmo ao custo de abrir mão de iniciativas tradicionais. Uma das decisões mais sensíveis, segundo o prefeito, foi a suspensão do carnaval, evento simbólico para a cidade. A medida foi necessária para preservar o equilíbrio das contas.

De acordo com o prefeito, cerca de R$ 3 milhões estavam comprometidos com salários atrasados, além de precatórios e débitos recorrentes com postos de combustíveis e outros prestadores de serviço – estes últimos, um problema que atingiu 28% das prefeituras mineiras.

Ele ainda conta que o caixa também foi pressionado pela ausência de frota operacional no início do mandato, o que obrigou a prefeitura a arcar com contratos de locação de veículos e máquinas para manter serviços como coleta de lixo, transporte escolar e manutenção de estradas rurais.

“A gente tem pouco apoio do governo do estado, enfrenta muitas dificuldades. Hoje, até policiamento, a prefeitura tem que ficar bancando convênios com a polícia militar. Está tudo nas costas da prefeitura. Mas eu consegui colocar o município em dia. Não nas obras que a cidade precisa, nem com as estradas, mas deu uma melhorada boa”, disse ao Estado de Minas.

Para 2026, o prefeito afirma que a prefeitura ainda não tem condições de bancar o carnaval com recursos próprios, mas estuda a possibilidade de terceirização do evento, caso haja interesse da iniciativa privada. Apesar das limitações, a gestão avançou em áreas consideradas estratégicas. Na saúde, houve redução de filas para procedimentos e cirurgias, com reforço no atendimento básico. Na educação, a prefeitura promoveu reorganizações na rede escolar e investimentos no transporte de estudantes.

Caixa apertado

Cenário similar foi encontrado pelo prefeito Gleytinho (PP), na Região Centro-Oeste de Minas, que lidou com decisões consideradas duras, mas necessárias para Itapecerica. Ao assumir o mandato, a nova gestão encontrou compromissos financeiros deixados pelo exercício anterior, o que reduziu a margem de investimento e exigiu que parte significativa da receita própria fosse direcionada ao pagamento de dívidas.

Ao longo do ano, o prefeito priorizou a quitação de débitos herdados, mesmo ciente de que isso limitaria a execução de obras de maior porte. Segundo Gleytinho, ele assumiu o mandato com mais de R$ 5 milhões em débitos, incluindo pendências que ainda se estenderão para 2026.

Entre os valores citados, estão cerca de R$ 250 mil em repasses à Santa Casa e aproximadamente R$ 150 mil em débitos com fornecedores de material de construção.

Gleytinho do Valério (PP), prefeito de Itapecerica
"A gente não conseguiu executar obras grandes, porque o nosso o recurso livre, que é o IPVA, o IPTU, o ICMS, e o ISSQN, ficou um pouco prejudicado pagando os débitos em aberto de 2024", Gleytinho do Valério (PP), prefeito de Itapecerica Prefeitura de Itapecerica/Reprodução

Segundo ele, essas pendências financeiras limitaram a capacidade de investimento da prefeitura e atrasaram projetos considerados prioritários, como a construção de um pronto-socorro municipal, novas unidades básicas de saúde (UBSs), a cobertura de quadras esportivas e a ampliação da rede escolar. A realidade é compartilhada com outros 213 prefeitos mineiros que, segundo levantamento da Confederação Nacional de Municípios, devem iniciar o próximo ano com restos a pagar.

“Tem obras que a gente precisa executar (em 2026), mas a população não sentiu a falta da entrega dessas grandes obras – que vão acontecer durante o ano de 2026, com a graça de Deus –, porque a gente conseguiu ampliar e entregar muitos serviços que leva qualidade de vida para o povo”, disse.

Limite no orçamento

Em Juatuba, as dívidas herdadas no início da gestão impuseram limites ao ritmo de investimentos da prefeitura. Segundo o prefeito Ted Saliba (PSD), a cidade tem apenas cerca de 30% das vias pavimentadas, e a ampliação da malha urbana, uma das principais metas do início do mandato, precisou ser adiada diante do aperto no caixa. “O valor da dívida que nós pegamos é muito alto, vai levar alguns anos para acertar isso”.

Outro fator que pressionou o caixa foi a folha de pagamento. Além dos salários correntes, a prefeitura precisou arcar com encargos acumulados do fim do ano anterior, o que resultou no pagamento de valores equivalentes a até 14 salários em um único exercício. O prefeito destaca a ajuda de deputados estaduais como um fator essencial para conseguir fechar o ano com as contas equilibradas.

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“Paguei muita dessas dívidas através de recursos e ainda consegui fazer alguns investimentos, algumas obras que estavam paradas há muito, muito tempo. Mas poderia ter feito muito mais. Muito recurso que poderia ter se investido na cidade, mas que você tem que ficar pagando contas que não sao suas", disse.

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