Análise: E se o nome for Geraldo?
Diante da possibilidade de Lula não tentar a reeleição, ampliam-se as especulações em torno do nome ideal para ser o candidato governista. O vice Geraldo Alckmin passa a integrar o rol de apostas, mas teria que vencer a histórica resistência do PT em abrir mão da cabeça de chapa
compartilhe
Siga noAfinal, Fernando Haddad está de saída do Ministério da Fazenda?
Boa parte da Faria Lima trabalhou nesta quarta-feira, 27, acreditando que sim, graças a rumores de que o presidente Lula poderia deslocar um de seus ministros mais leais para a Casa Civil.
No mercado da política, no entanto, não há nenhuma evidência apontando nesse sentido – exceto, claro, a torcida de colegas de ministério e companheiros de partido que querem ver Haddad pelas costas.
Pelo contrário: ao que tudo indica, mesmo com o fogo amigo Lula está disposto a manter o ministro na Fazenda pelo tempo que for necessário.
A tese que embasa os rumores de deslocamento diz que na Casa Civil Haddad estaria mais preservado como o Plano B para a sucessão de Lula. Acontece que nem o próprio ministro se considera, a esta altura, um plano B viável para o Planalto em 2026.
No ano passado ele já dizia, em conversas com interlocutores muito próximos, que não está disposto a concorrer à Presidência sem a certeza de que tem chances reais de vencer. Em outras palavras: se for para perder pela segunda vez, não valerá a pena entrar na disputa.
As ondas sucessivas de desgaste que vieram com a “taxa das blusinhas” e o contundente rótulo de “Taxad”, a decantada decepção com o pacote fiscal e a crise do Pix deixaram o horizonte político do ministro ainda mais turvo. Tanto é assim que Haddad passou a dizer publicamente o que antes repetia apenas no escurinho dos bastidores. Esta semana, no evento de um banco em São Paulo, ele disse que não será “candidato a nada” em 2026.
As razões da indisposição de Haddad para a disputa são bem próximas das que afastam Lula do projeto de se reeleger. Em setores importantes do governo, é cada vez mais forte o sentimento de que será uma eleição difícil para o PT. Esse sentimento se ampliou com as pesquisas recentes que mostram a baixíssima aprovação popular do presidente, inédita tanto neste mandato quanto nos anteriores.
As derrotas nas eleições municipais de outubro, as dificuldades de construir alianças políticas robustas (não apenas no Congresso) e os ventos que sopram à direita mundo afora reforçam a percepção de que o horizonte não é promissor para o partido.
No caso de Lula, vale abrir parênteses, pesa bastante o risco de ser derrotado naquela que seria certamente a última eleição de sua carreira.
Ora, por que se expor à possibilidade de derrota depois do feito de 2022, quando, ainda que por margem apertada, conseguiu se eleger apesar da temporada de um ano e sete meses na prisão e do turbilhão de acusações da Lava Jato?
Lula não apenas voltou como, sentado de novo na cadeira, atropelou seus algozes Sergio Moro e Deltan Dallagnol à frente – o primeiro relegado a um mandato discreto no Senado; o segundo, expurgado do Ministério Público e depois cassado na Câmara.
Não menos importantes, outros fatores que distanciam o presidente da disputa são a idade (80 em outubro), seus recentes problemas de saúde e a conhecida queda em sua disposição para fazer política, que até aliados e amigos diletos dizem ser bem diferente daquela de outrora, quando recebia gente no palácio fora do expediente para comer, beber e articular.
Além de tudo isso, ser presidente hoje não é a mesma coisa. Com o Congresso super empoderado, dono de um pedaço importante do Orçamento, a caneta presidencial não tem tanta tinta como antes.
Voltemos a Fernando Haddad. Com mais chances de Lula não estar no páreo, é natural que se acirrem as especulações em torno dos nomes que poderiam substituí-lo nas urnas. Alternativamente ao ministro da Fazenda, são lembradas há algum tempo figuras como o ministro da Educação, Camilo Santana, e até Flávio Dino, hoje no Supremo Tribunal Federal.
Mais recentemente, porém, passou a integrar o rol de possibilidades o nome de Geraldo Alckmin, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
Num cenário sem Lula e sem Bolsonaro, e com o partido do presidente em apuros entre os eleitores, Geraldo poderia ser uma opção mais “vendável”, admitem integrantes do governo. Por não carregar a marca do PT, poderia disputar melhor com o candidato da direita – qualquer que seja – os votos do centro pragmático que costuma definir a eleição num país terrivelmente polarizado.
Torpedeado no passado pelo petismo, o ex-tucano tornou-se um amigo do peito depois de se transferir para o PSB e ser o vice na chapa em 2022.
Em nova versão, com suas meias coloridas e perfis engraçadinhos nas redes, hoje ele é paparicado pela militância e por personagens graúdos do partido, incluindo aqueles tidos como radicais, como Gleisi Hoffmann.
É claro que daí a se viabilizar como candidato a presidente apoiado pelo PT há um abismo a ser atravessado. Mas cresce, internamente, a percepção de que pode ser melhor ir para a disputa com um nome de fora do partido, mas com chances de se viabilizar entre os eleitores de centro, do que sustentar a velha teimosia e já começar a corrida com gosto de derrota.