Cúpula do Clima: especialistas esperam que mensagens de Lula influenciem negociações
Discursos do presidente para chefes de Estado podem nortear debates na COP30, mas aprovação de medidas depende de acordos entre as delegações presentes na reunião em Belém a partir desta segunda-feira, 10
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BELÉM — Em meio às contradições do governo brasileiro em defender o “afastamento” dos combustíveis fósseis e incetivar a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, a Cúpula do Clima de Belém terminou na última sexta-feira, 3, com sinalizações políticas importantes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmaram ao PlatôBR especialistas que acompanharam o evento.
As mensagens de Lula, segundo eles, poderão nortear o debate da 30ª Conferência das Partes (COP30), que começa na próxima segunda-feira, 10, e vai até 21 de novembro. O discurso na cúpula, porém, não garante a aprovação de medidas concretas, que dependem de negociação e aprovação unânime das delegações presentes.
Ao falar para representes de 125 países, dos quais 57 eram chefes de Estado, e executivos de 22 blocos comerciais, bancos multilaterais e organismos internacionais, Lula fez uma defesa enfática da necessidade de serem criados dois “mapas dos caminhos”: um para reduzir a dependência global de combustíveis fósseis e outro para frear e reverter o desmatamento florestal até 2030.
Claudio Angelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima, afirmou que o presidente acertou em reforçar essas mensagens já conhecidas. Para Angelo, isso era necessário diante do contexto geopolítico global em que alguns países — entre eles os Estados Unidos — resolveram voltar atrás nos compromissos assumidos para reduzir a emissão de poluentes.
“Espero que os delegados da COP30 recepcionem esse sinal político. A presidência da COP e os países interessados nesses dois pontos devem transformar essa mensagem em ação. Espero que consigam sair de Belem com algum processo claro que nos ajude a acelerar a eliminar os combustíveis fosséis”, disse o representante do Observatório do Clima.
Alexandre Prado, líder de mudanças climáticas do WWF-Brasil, afirmou que a cúpula atingiu o objetivo, para além do esforço do governo brasileiro de buscar adesões ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Segundo ele, as mensagens de Lula sobre adaptação climática, eficiência energética e uma transição justa que não penalize os países mais pobres foram importantes para nortear o debate.
“O ponto agora é como o que foi falado pelo presidente vai influenciar o processo de negociação. A partir dessas mensagens, os chefes de estado orientarão os negociadores para a COP30”, disse.
Brasil projetado no mundo
Auxiliares de Lula também comemoraram os resultados alcançados. Após a realização de 30 conferências do clima, um deles disse que é a primeira vez que países que detêm florestas assumem protagonismo na condução da discussão sobre preservação, com propostas concretas.
A cúpula também encerra, na avaliação do entorno de Lula, um ciclo de eventos globais – que considera a COP30, e as presidências do G20 e dos Brics – que projetou o Brasil internacionalmente, na busca pelo protagonismo político, econômico e social.
“Essa é uma tríade de eventos que colocou o Brasil no centro da agenda global. Nós estamos acabando de terminar uma muito bem sucedida estratégia que projeta a imagem do Brasil no mundo. Nesses dois dias de cúpula, o país ganhou enorme projeção positiva”, afirmou.