Dirigir vai muito além de deslocamento: para quem tem mais de 60 anos, a autonomia de ir e vir impacta positivamente a qualidade de vida. Além da liberdade prática, permanecer ao volante pode trazer ganhos concretos para a mobilidade, o bemestar emocional e até mesmo a saúde cognitiva. 

Um estudo da PUCSP revela que dirigir está diretamente ligado à sensação de independência e prazer, enquanto parar pode gerar frustração profunda.

Desde o primeiro trajeto, a habilidade de conduzir representa mais do que deslocamento rápido: ela é símbolo de controle, auto afirmação e inclusão na vida social ativa. Manter a coordenação motora, os reflexos e a atenção ao dirigir exige, e estimula, capacidades físicas e mentais que vão além da direção em si.

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Benefícios físicos que impulsionam a autonomia

Dirigir exige atenção visual, responsividade motora e equilíbrio, funções que naturalmente sofrem declínio com a idade. Manter essa atividade ativa pode retardar esse desgaste, pois estimula capacidades essenciais para a mobilidade. Além disso, a prática constante, associada a hábitos complementares como exercícios, favorece a prevenção da sarcopenia e da osteoporose, fundamentais para evitar quedas e fraturas .

Ao conduzir, o idoso exercita os membros superiores ao girar o volante, usar pedais e ajustar retrovisores, promovendo flexibilidade e força. A mudança de posição, entrar e sair do carro, também pode servir como um minitreino de equilíbrio corporal, condição essencial para preservar a independência.

Saúde mental: a direção como remédio para emoções

Manter a direção ativa está ligado diretamente à autoestima e ao bem-estar emocional. Um dos pontos centrais da pesquisa da PUCSP é justamente o valor psicológico: muitos idosos relatam alegria e prazer ao dirigir, enquanto a retirada dessa liberdade costuma gerar tristeza e perda de propósito .

A prática regular de atividade física, incluída nesse pacote de autonomia, está associada à liberação de endorfinas, substâncias que promovem sensação de bem-estar e aliviam sintomas de depressão e ansiedade. Consequentemente, ao dirigir, mesmo em trajetos curtos, o idoso se mantém ativo, estimulado e inserido.

Vida social e cognição: a rota para a longevidade

Manter a liberdade de conduzir também favorece a manutenção de laços sociais. O acesso facilitado a encontros com amigos, visitas a familiares e participação em eventos comunitários fortalece o suporte social, fator ligado a maior longevidade e menor risco de isolamento.

Adicionalmente, dirigir estimula regiões do cérebro relacionadas à tomada de decisão, atenção e memória. Estudos apontam que atividades que envolvem mobilidade, interação com o ambiente e exigência mental ajudam a reduzir o declínio cognitivo típico da idade avançada.

A autonomia ao volante fortalece a autoestima e a saúde mental de quem tem mais de 60 anos

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Preservando autonomia e segurança ao volante

Para colher esses benefícios sem comprometer a segurança, alguns cuidados devem ser observados:

  • fazer checkups regulares de visão, audição e saúde em geral;

  • adaptar o veículo conforme necessidades: instalar bancos confortáveis, espelhos extras e pedaleiras leves;

  • realizar cursos voltados para motoristas da terceira idade, que ensinam técnicas básicas de segurança e atualização no trânsito.

Quando surgirem sinais de dificuldade, seja ao estacionar ou reagir a imprevistos, é correto avaliar e, se preciso, reduzir o tempo de direção, sempre mantendo alternativas como carona, aplicativos ou transporte público. A mudança gradual pode preservar a confiança e evitar o impacto emocional de uma aposentadoria repentina da direção.

O papel da autonomia

Não só dirigir, qualquer atividade instrumental, como fazer compras, gerir finanças ou tarefas domésticas, reforça a autonomia e, por consequência, a saúde geral. Um estudo sobre a percepção de saúde dos idosos aponta que essa capacidade funcional é essencial para que o idoso se sinta saudável.

Essas tarefas diárias estimulam a mente, reforçam a autoestima e permitem que a pessoa se sinta necessária e ativa, fatores que se correlacionam a níveis menores de estresse, depressão e sentimentos de perda .

Aperfeiçoar a saúde física e emocional dos idosos não passa apenas por remédios ou exercícios tradicionais: manter mecanismos de autonomia, como dirigir, é um caminho eficaz para envelhecer com dignidade. Ao apostar em mobilidade, liberdade e encontros sociais, os idosos não apenas estendem a expectativa de vida, mas também ampliam seu bemestar.

A responsabilidade, agora, é de todos, família, sociedade e poder público, para garantir que quem tem mais de 60 anos possa continuar a dirigir com segurança, recebendo suporte para adaptação, conscientização e resiliência na hora de decidir se ainda é tempo de seguir no volante.

Quando a vida segue em movimento, a terceira idade tem muito mais a viver e a oferecer.

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