GATILHO

Entenda de que forma o estresse pode estar envolvido na dor crônica

O estresse aumenta liberação de citocinas pró-inflamatórias que amplificam a inflamação e intensificam a percepção de dor. Controlá-lo é fundamental

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Para quem convive com dor crônica, um inimigo invisível, mas sempre presente, precisa ser levado em consideração: o estresse. “Ele pode ser um gatilho importante para a dor crônica, especialmente quando prolongado, pois ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que regula a liberação de hormônios como o cortisol. Esse hormônio, em níveis elevados por longos períodos, pode alterar a forma como o cérebro e o sistema nervoso processam a dor, um fenômeno chamado sensibilização central”, explica o ortopedista, especialista em Intervenção em Dor (Hospital Albert Einstein) e em Medicina Intervencionista em Dor (Faculdade de Medicina da USP - Ribeirão Preto), Fernando Jorge.

De acordo com o médico, fisiologicamente, o estresse aumenta a liberação de citocinas pró-inflamatórias, que amplificam a inflamação no corpo e podem intensificar a percepção da dor. “Ele também provoca tensão muscular crônica, especialmente em áreas como pescoço, ombros e costas, devido à ativação constante do sistema nervoso simpático (o famoso “lutar ou fugir”). Além disso, o estresse desregula neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, que ajudam a modular a dor, tornando-a mais persistente”, explica. “Imagine o corpo como uma orquestra: o estresse é como um maestro que desafina os instrumentos, fazendo com que a música da dor toque mais alto e por mais tempo”, compara.



Há ainda um ciclo vicioso entre dor e estresse, bem documentado na literatura científica, de forma que o estresse aumenta a dor que, em contrapartida, amplifica o estresse. “Como o estresse eleva o cortisol e as citocinas inflamatórias, além de causar tensão muscular e sensibilização do sistema nervoso, isso faz a dor parecer mais intensa. Por outro lado, a dor crônica é um fardo emocional. Ela pode gerar ansiedade, medo de movimento (cinesiofobia), frustração e até depressão, o que ativa ainda mais o eixo HPA e perpetua o estresse”, explica.

O médico explica que o estresse crônico está frequentemente ligado a dores que não têm uma causa física clara ou que persistem além do esperado. As mais comuns incluem: cefaleia tensional (dor de cabeça em “faixa” ou aperto, muitas vezes associada à tensão muscular no pescoço e ombros); dor lombar crônica (o estresse pode agravar a tensão muscular e a inflamação na região lombar); fibromialgia (caracterizada por dor difusa, fadiga e sensibilidade, é fortemente influenciada pelo estresse); dores articulares (como as de ombro ou joelho, que podem ser exacerbadas por inflamação sistêmica); dor miofascial (pontos de dor em músculos, desencadeados por tensão crônica); e dor psicogênica (dor sem causa física evidente, diretamente ligada a fatores emocionais).

No caso de dores com fundo emocional, recorrer a analgésicos (como paracetamol ou ibuprofeno) geralmente apenas mascara o problema. “Esses medicamentos podem aliviar a dor temporariamente, mas não tratam a raiz do problema – o estresse ou os fatores emocionais. Além disso, o uso prolongado de analgésicos pode levar a efeitos colaterais, como problemas gástricos ou dependência (no caso de opioides). Sem abordar o estresse, a dor tende a retornar, perpetuando o ciclo vicioso”, comenta Fernando Jorge.

“É como colocar um curativo em uma ferida que precisa de pontos: pode até cobrir, mas não cura”, explica. “O ideal é combinar o alívio sintomático (quando necessário) com estratégias que tratem o estresse, como terapia cognitivo-comportamental (TCC), mindfulness ou exercícios físicos. O tratamento para dor crônica relacionada ao estresse é mais multidisciplinar e foca em abordar tanto o componente físico quanto o emocional”, indica.

O especialista reforça que buscar ajuda médica é fundamental para traçar o plano de tratamento. “A dor crônica e o estresse formam uma dupla que pode transformar a vida em um desafio, mas há esperança. Com uma abordagem que combine tratamentos físicos, emocionais e mudanças no estilo de vida, é possível quebrar o ciclo vicioso e recuperar a qualidade de vida. O corpo e a mente trabalham juntos, e cuidar de ambos é o caminho para o alívio duradouro”.

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