Cientistas desenvolvem vacina terapêutica para doenças causadas pelo HPV
O novo imunizante em fase de teste tem demonstrado capacidade de de estimular o sistema imunológico para combater o câncer e outras doenças causadas pelo HPV
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Siga noElton Alisson/Agência Fapesp
As doenças causadas pelo papilomavírus humano (HPV), como o câncer do colo uterino, podem ganhar uma nova forma de tratamento por meio de uma tecnologia desenvolvida por pesquisadoras da startup paulista ImunoTera Soluções Terapêuticas, incubada no Eretz.bio, o hub de startups biotecnológicas do Hospital Israelita Albert Einstein.
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“Desenvolvemos a partir dessa molécula uma plataforma de vacinas terapêuticas que pode ser adaptada para o tratamento de outras doenças, como os cânceres de próstata e de mama. Também temos outras imunoterapias no nosso pipeline, como contra zika, dengue e chikungunya”, diz ao Pesquisa para Inovação Luana Raposo de Melo Moraes Aps, sócia-fundadora e diretora-executiva da ImunoTera.
A molécula foi descoberta durante o doutorado de Moraes Aps e de projetos de pós-doutorado de suas outras duas sócias no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). Ao longo dos últimos anos, passou por diversas melhorias até chegar a uma versão otimizada. Por meio de testes in vitro, com células animais e humanas, e in vivo, com animais de experimentação, as pesquisadoras constataram que a molécula é capaz de regredir tumores ou doenças associadas ao HPV, impedindo recidivas e metástase.
“Percebemos que a molécula é capaz de ativar o sistema imunológico tanto em células animais como em humanas e também regredir tumores em animais de experimentação”, afirma Moraes Aps.
“Outra descoberta durante esses ensaios foi que a molécula apresenta sinergia com a quimioterapia, o tratamento padrão de câncer do colo uterino causado por HPV”, diz a pesquisadora.
A molécula também foi testada em pacientes, por meio de estudos conduzidos no Hospital das Clínicas e no ICB-USP. Os resultados revelaram a capacidade da proteína recombinante de ativar o sistema imune de pacientes diagnosticadas com neoplasias no colo uterino e de regredir as lesões na maioria das pacientes tratadas.
“Com esses resultados, conseguimos melhorar a molécula. Hoje temos uma versão otimizada, mais eficaz e com maior rendimento, e estamos prontas para continuar a jornada regulatória e fazer estudos clínicos em pacientes”, conta Moraes Aps.
Transferência de tecnologia
O percurso de um produto biológico como o que a ImunoTera está desenvolvendo é complexo, tanto em relação às certificações regulatórias como aos desafios tecnológicos. “Hoje nossa expectativa é finalizar os estudos não clínicos de toxicidade até 2027 para iniciarmos os estudos clínicos a fim de confirmar a segurança e a eficácia da vacina terapêutica em pacientes com neoplasias no colo uterino”, detalha.
As pesquisadoras pretendem, ao final desse processo, licenciar e transferir a tecnologia – preferencialmente para uma indústria farmacêutica multinacional com capacidade de produzir a molécula em larga escala e comercializá-la.
“Vemos que há um mercado global a ser explorado com essa molécula. Por isso, nossa ideia inicial é transferir a tecnologia. Para isso precisamos, pelo menos, comprovar sua segurança e eficácia em estudos clínicos.”