Cerca de 90 milhões de pessoas, o que corresponde a 54% dos brasileiros com 16 anos ou mais, nunca passaram por uma consulta com um dermatologista, segundo estudo inédito sobre o acesso à dermatologia, desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e pelo Instituto Datafolha, em parceria com a divisão de Beleza Dermatológica do Grupo L’Oréal no Brasil. Com o tema “Sua pele fala, só o dermatologista entende”, está terça-feira (8/7) marca o Dia Mundial da Saúde da Pele, iniciativa conjunta da International League of Dermatological Societies (ILDS) e da International Society of Dermatology (ISD) para reforçar a importância de cuidar do maior órgão do corpo humano.
“Esses dados mostram uma realidade preocupante: ainda falta à população a consciência de que a pele pode ser um sinal de alerta para diversas doenças, das mais simples às mais graves. Estar atento a qualquer mudança e procurar um dermatologista para check-up anual deve ser um hábito. Cuidar da pele vai muito além da estética, é uma questão de saúde”, afirma o presidente da SBD, Carlos Barcaui.
Entre os jovens de 16 a 24 anos, a ausência de consultas chega a 70%, enquanto entre os idosos acima de 60 anos, 46% nunca consultaram um especialista. O estudo mostra ainda que quatro em cada dez brasileiros (41%) notaram o surgimento de sinais como manchas, pintas, bolhas ou queda de cabelo nos últimos 12 meses e 20% declarou que não verifica a própria pele, cabelos e unhas. Mesmo entre aqueles que afirmam cuidar da pele, a rotina com um dermatologista ainda é exceção: apenas 6% mantêm consultas regulares.
Para Carlos Barcaui, o acesso à dermatologia no Brasil é um dos principais desafios a serem enfrentados. Ele destaca que, neste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu oficialmente as doenças de pele como prioridade global de saúde pública, o que reforça a urgência de ampliar o acesso ao atendimento dermatológico. No Brasil, essa limitação compromete o diagnóstico precoce e o tratamento adequado de diversas condições, que, quando não tratadas, podem evoluir para quadros graves e afetar diretamente a saúde integral do paciente.
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“A ausência de cuidados especializados sobrecarrega o sistema público de saúde, gerando altos custos com tratamentos complexos e internações evitáveis. Por outro lado, quando o atendimento dermatológico é feito de forma preventiva e precoce, os gastos públicos são significativamente reduzidos, e a qualidade de vida da população melhora de forma expressiva”, diz o especialista.
Democratização dos cuidados
Os dados provam que há muito desconhecimento sobre o papel do dermatologista. Cerca de 17% da população não o reconhece como médico ou profissional da saúde e, embora 86% saibam que ele trata doenças da pele, poucos conhecem outras áreas de atuação como mucosas, unhas e cabelo. Ainda, segundo o estudo, mulheres com ensino superior e que vivem nas capitais são o perfil que mais acessa cuidados dermatológicos de forma preventiva. Já os homens com baixa escolaridade e sem plano de saúde compõem o grupo com menor frequência de visitas ao especialista.
“Acreditamos que o acesso à dermatologia é uma questão de saúde pública. Mapear a pele brasileira é um passo fundamental para compreender suas necessidades reais, respeitando sua diversidade e especificidades. A pesquisa não apenas valida essa urgência, mas também fortalece o compromisso com a democratização do cuidado com a pele e com o espírito científico que sempre norteou nossa atuação: entender a população brasileira e suas rotinas dermatológicas, aproxima-la cada vez mais dos especialistas e promover informação de qualidade’’, afirma Hanane Saidi, diretora geral da Divisão de Beleza Dermatológica do Grupo L’Oréal no Brasil.
"A metodologia utilizada na pesquisa, com entrevistas presenciais em todas as regiões do país, garante um olhar representativo sobre a população brasileira e suas formas de acesso, ou falta de acesso, os cuidados com a pele e os profissionais responsáveis por esse cuidado. Permite também identificar segmentos específicos da população que merecem um olhar mais atento quando o assunto é a saúde da pele’’, complementa Luciana Chong, diretora geral do Instituto Datafolha.
Mobilização
Em 2025, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), que defende o acesso à dermatologia, participa oficialmente da campanha global ao lado da ILDS e da ISD, dando início a uma ampla mobilização nacional, que conta, simultaneamente, com a campanha de valorização da dermatologia, abordando o lema: “Sua pele fala, só o dermatologista entende”. A campanha reforça a importância de manter hábitos de prevenção no dia a dia, como o uso diário de protetor solar, alimentação equilibrada, boa hidratação e visitas regulares ao dermatologista. Um check-up anual pode ser decisivo para a detecção precoce de doenças de pele.
A entidade já atua fortemente por meio de campanhas como a de Prevenção ao Câncer da Pele, no Dezembro Laranja, levando atendimento gratuito e informação à população, além de garantir a formação ética e técnica de especialistas. Também se mobiliza em diferentes frentes, colocando-se à disposição para contribuir, junto aos órgãos competentes, com iniciativas que ampliem o acesso e qualifiquem o cuidado dermatológico oferecido à população.
A SBD e a L'Oreal, ainda, a partir dos dados da pesquisa, vão elaborar um dossiê que reunirá análises detalhadas, tendências e novos dados para aprofundar a compreensão sobre o comportamento da população em relação aos cuidados dermatológicos e à saúde da pele.