Uma técnica inovadora para a cirurgia de revascularização do miocárdio, popularmente conhecida como ponte de safena, tem promovido bons resultados como um procedimento menos agressivo e minimamente invasivo, se comparada aos métodos convencionais. A primeira cirurgia do tipo em Minas Gerais foi realizada em 19 de novembro de 2020 no Hospital Vera Cruz, em Belo Horizonte, e há cinco anos o paciente vive bem, sem nenhum outro tipo de problema.
O técnico de segurança do trabalho aposentado, Marcelo Rezende, de 67, é cardiopata há mais de 20 anos, quando teve o primeiro infarto. À época, precisou fazer cateterismo e angioplastia. Em 2020, descobriu novos problemas no coração. "Eu iria fazer um tratamento dentário, com anestesia, e a médica pediu risco cirúrgico. Descobri 90% de obstrução nas principais artérias do coração. Procurei o médico, que perguntou como eu ainda estava de pé. Poderia ter um problema de uma hora para outra", lembra.
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A orientação médica era de que a angioplastia não seria mais suficiente, então ele teve a indicação para colocar duas pontes de safena a partir do novo método - foi o paciente submetido à cirurgia em Belo Horizonte, o primeiro em Minas Gerais, à época. Após o procedimento, realizado pelas mãos do cirurgião cardiovascular Cláudio Parra e sua equipe, em 15 dias Marcelo já retomava as atividades no trabalho. Quase cinco anos depois, conta que sua vida é uma maravilha - porque não dizer sua nova vida. "Passo os dias tranquilamente. Me aposentei, tenho tempo para desfrutar a família, faço trabalho voluntário em igrejas. Vivo normalmente, sem neuras", relata.
Marcelo continua com o acompanhamento médico com Claudio Parra, fazendo exames regulares, a fim de avaliar a saúde do coração. E está feliz em dizer que está tudo bem. Ele não fica tímido em revelar que criou com o cardiologista uma sólida amizade, um vínculo além da relação profissional. "Costumo dizer que tenho três aniversários: quando nasci, quando tive o primeiro infarto e o dia da cirurgia".
Compromisso com a saúde
A cirurgia mostra como a cardiologia vem honrando o papel de ser uma das especialidades médicas que mais evoluem em busca de tratamentos inovadores e efetivos no controle e prevenção de doenças, em particular as cardiopatias. Importância amplificada se considerado que as patologias cardiovasculares respondem pela maioria das mortes no planeta, mais até que o câncer, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Na nova forma de cirurgia cardíaca, chamada revascularização do miocárdio minimamente invasiva, a tecnologia está a favor da saúde. O método foi desenvolvido na Alemanha há cerca de 15 anos e chegou ao Brasil em 2020. Claudio Parra, que depois de Marcelo coordenou diversos outros procedimentos do tipo, conta que agora a novidade é que é realizado com o auxílio de robôs - ele já comandou sete intervenções nesse modelo. "A cirurgia já era boa. Com o robô, ganhamos em precisão e tecnologia", diz.
A intervenção é feita a partir de incisões torácicas menores (reduz de 22 a 25 centímetros nos processos tradicionais para 5 a 10 centímetros), com melhores resultados para os pacientes, como confirmam estudos na área. Com a cirurgia tradicional, o paciente volta à vida normal entre 60 e 90 dias de pós-operatório. Na nova técnica, esse tempo cai para cerca de 15 dias. Outro dado dá conta de que, no procedimento normal, geralmente são precisos, após a cirurgia, pelo menos dois dias de CTI e outros cinco a sete em enfermaria, frente a um dia de CTI e três no quarto, na última modalidade, como explica Cláudio Parra.
Sobre o retorno ao trabalho, pode acontecer entre 13 a 20 dias após a cirurgia, conta o médico - na comparação, no caso de métodos convencionais, essa retomada acontece entre 75 a 90 dias. "Uma constante sobre essa cirurgia é que promove a mesma segurança e benefícios no longo prazo, como no caso do Marcelo, com uma recuperação mais rápida", reforça.
Entre as vantagens, além do retorno menos demorado às atividades cotidianas, estão uma forma menos agressiva de intervenção cirúrgica, com menos dor, menor risco cirúrgico, chances minimizadas de sangramento e infecção hospitalar, tempo diminuído para recuperação, dentro e fora do hospital, menor tempo de CTI, menor necessidade de transfusão sanguínea, além do aspecto estético, com apenas uma pequena cicatriz no tórax depois da cirurgia. Enfim, um melhor pós-operatório.
Movimento mundial
É um caminho de evolução que segue tendência global. Diferentes centros de saúde no mundo se direcionam para esses esforços. A cirurgia minimamente invasiva pode ajudar, além dos pacientes que necessitam de revascularização cardíaca, também quadros com necessidade de troca ou reparo de uma valva cardíaca, retirada de tumores no coração ou para corrigir algumas cardiopatias congênitas.
Segundo Cláudio Parra, essa cirurgia é tecnicamente mais complexa e desafiadora para o médico. "Tira a dor do paciente, o desconforto pós-cirúrgico, e passa o desafio para o cirurgião. Ao mesmo tempo, é muito gratificante ver o paciente voltando para casa em quatro dias e retomando as atividades físicas após duas semanas", compara.
Na primeira angioplastia, Marcelo Rezende lembra que a recuperação foi lenta e exemplifica que, em outros casos semelhantes na família, a demora para a recuperação no pós-operatório chegou a três meses. "Me sinto parte de uma revolução médica. É uma cirurgia de primeira linha", declara. Marcelo estava em condição de alta hospitalar em quatro dias após a intervenção. "Ele sofreu um infarto e estava com obstruções importantes nas coronárias, artérias que irrigam o coração. Sua recuperação foi mais rápida e melhor", relata Cláudio Parra.
Conforme o especialista, esse é hoje o melhor tratamento para quem tem angina (dor no peito) devido a obstruções nas artérias coronárias. Previne infarto e melhora sintomas de dor e cansaço, aumentando a qualidade e a expectativa de vida - a forma tradicional de revascularização tem alta morbidade (efeitos pós-cirúrgicos indesejados). "A cirurgia cardíaca minimamente invasiva alcança o mesmo excelente resultado, com a principal diferença de preservar o osso esterno, que não é aberto", explica.
Com a abertura do osso do tórax, há risco de infecção, ainda que baixo, mas, se acontecer, pode acarretar problemas sérios. Neste caso, aumenta a mortalidade de 3% para 60%. Nas cirurgias minimamente invasivas, o acesso é feito do lado direito do peito para troca de valvas cardíacas, correção de cardiopatias congênitas e retirada de tumores, enquanto que, para a revascularização, a incisão é feita à esquerda. Outra evolução é a substituição das pontes de safena por pontes de mamária ou de radial.
A revascularização é realizada com enxertos. São feitas pontes por onde o sangue passa do corpo até o coração, desviando das obstruções das artérias responsáveis para este fim. Cláudio Parra explica que a durabilidade dos enxertos de veia safena (da perna) é de aproximadamente cinco anos, enquanto os de artéria radial (do braço) duram entre 10 e 15 anos. No caso das artérias mamárias, as pontes duram mais de 20 anos.
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