A notícia de que Bruce Willis foi diagnosticado com demência frontotemporal (DFT) , em 2023, causou comoção entre fãs e despertou interesse sobre essa condição ainda pouco conhecida pelo público em geral. Conhecido por papéis marcantes em filmes de ação, o ator americano de 69 anos vinha enfrentando dificuldades cognitivas nos últimos anos, e o diagnóstico trouxe luz a uma doença tão grave quanto o Alzheimer, mas com características próprias e um impacto profundo sobre o comportamento e a comunicação.

A DFT, embora menos divulgada, é uma das formas mais comuns de demência em pessoas com menos de 65 anos. A doença afeta áreas específicas do cérebro, os lobos frontal e temporal, que são responsáveis por funções como personalidade, linguagem, empatia e tomada de decisões.

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Uma demência que vai além da memória

Diferentemente do Alzheimer, a demência frontotemporal costuma se manifestar primeiro com alterações comportamentais e de linguagem, e não com perda de memória. Isso pode dificultar o reconhecimento da doença, tanto por parte de familiares quanto por profissionais de saúde.

Entre os primeiros sinais estão mudanças bruscas de comportamento, apatia, impulsividade e alterações no modo de se comunicar. Esses sintomas muitas vezes são confundidos com depressão, distúrbios de personalidade ou problemas emocionais.

Sintomas comuns 

A seguir, os sinais mais recorrentes da DFT, divididos por áreas afetadas:

Comportamentais:

  • ações impulsivas ou inapropriadas;

  • apatia ou falta de empatia;

  • diminuição da higiene pessoal;

  • repetição de gestos ou frases;

  • redução do senso crítico ou do juízo social.

Linguísticos:

  • dificuldade de formar frases completas;

  • perda do vocabulário;

  • troca ou invenção de palavras;

  • dificuldade para entender significados;

  • redução progressiva da fala até o mutismo.

Motoras (em casos avançados ou variantes específicas):

  • rigidez muscular;

  • dificuldade de deglutição;

  • problemas de equilíbrio.

Bruce Willis e Emma Heming Willis em festival em Nova York, em outubro de 2019

AFP

Um diagnóstico que nem sempre é simples

A demência frontotemporal pode se apresentar de formas variadas, e por isso o diagnóstico costuma ser um desafio. Muitas vezes, o paciente passa por psiquiatras antes de ser encaminhado para avaliação neurológica. Exames de imagem, como ressonância magnética e tomografia, ajudam a identificar a atrofia nos lobos afetados.

Em cerca de 30% dos casos, há histórico familiar, o que sugere uma predisposição genética. Ainda assim, não existe um único exame que comprove a doença de forma definitiva, o que exige uma análise clínica detalhada do histórico e da evolução dos sintomas.

Tratamento é voltado para qualidade de vida

Ainda não há cura para a DFT, mas o tratamento multidisciplinar ajuda a preservar a autonomia e o bem-estar do paciente. Medicamentos são usados para controlar alterações de humor, agressividade e ansiedade, enquanto terapias ocupacionais e de linguagem auxiliam na manutenção das funções cognitivas.

Além disso, o suporte à família e aos cuidadores é fundamental, já que a progressão da doença é geralmente mais rápida que em outros tipos de demência.

O impacto da DFT em pessoas mais jovens

A demência frontotemporal afeta principalmente pessoas entre 45 e 65 anos, em pleno período produtivo. Isso torna o diagnóstico ainda mais difícil e o impacto mais severo, especialmente em relação à carreira profissional, vida social e dinâmica familiar.

No caso de Bruce Willis, a evolução da doença já havia causado especulações durante filmagens, quando relatos apontavam dificuldade para memorizar falas. O afastamento definitivo do cinema trouxe à tona um alerta importante: doenças neurológicas graves podem afetar qualquer pessoa, independentemente da fama ou condição financeira.

Casos públicos como o de Bruce Willis ajudam a quebrar o estigma em torno das demências e ampliam o debate sobre saúde mental e cognitiva. Ao conhecer os sinais da DFT e buscar diagnóstico precoce, é possível iniciar o tratamento mais cedo e garantir melhores condições de vida para os pacientes.

A demência frontotemporal ainda é pouco falada, mas merece atenção. Sua manifestação precoce, seus efeitos profundos no comportamento e sua progressão acelerada tornam o conhecimento e a conscientização ferramentas valiosas tanto para quem cuida quanto para quem convive com essa realidade.

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