SAÚDE DA MULHER

Menopausa: quatro alterações pouco faladas ligadas ao declínio hormonal

Cada mulher vivencia a menopausa de forma única. Apesar disso, existem padrões gerais que ajudam a compreender melhor esse momento de transição

Publicidade
Carregando...

A menopausa não ocorre de um dia para o outro. Existem fases. E enquanto ela é definida pela interrupção definitiva da menstruação, que ocorre quando os ovários param de produzir os hormônios sexuais femininos, como estrogênio e progesterona, a perimenopausa é caracterizada por ciclos menstruais irregulares, alterações hormonais intensas e o surgimento de sintomas como ondas de calor, suores noturnos e mudanças de humor.

"Os sintomas surgem pela queda de estrogênio e progesterona, hormônios que regulam várias funções do corpo, incluindo sono, metabolismo, humor, pele, cabelo, ossos e sistema cardiovascular", esclarece a ginecologista, com Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia (TEGO), Ana Paula Fabricio.

“Essa fase de transição para a menopausa, quando a grande maioria das mulheres se sente diferente, mas normalmente não se dá conta que está na perimenopausa, pode levar em média cinco a dez anos”, afirma o ginecologista, autor do livro Menopausa Sem Medo (Editora Gente), especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (NAMS) e membro da International Menopause Society (IMS), Igor Padovesi.

“Cada mulher vivencia a menopausa de forma única. Apesar disso, existem padrões gerais que ajudam a compreender melhor esse momento de transição”, explica o médico. “Existem sintomas vasomotores (ondas de calor, suores noturnos e palpitações); alterações do sono (dificuldade para dormir e despertares frequentes); mudanças de humor (ansiedade, irritação, tristeza e até ataques de pânico); dores (articulares e musculares); alterações físicas (na pele e olhos secos além de ressecamento vaginal); alterações cognitivas (dificuldade de concentração e esquecimentos); e problemas sexuais (queda na libido, dor durante a relação e dificuldade em alcançar o orgasmo)”, comenta Igor.

Sono e cansaço

O efeito da menopausa sobre o sono é um dos mais comuns e mais precoces. “Ele pode aparecer já numa fase inicial da transição menopausal, em uma mulher que ainda tenho ciclos normais, que ainda não tem outros sintomas significativos. Essa pode ser uma das primeiras manifestações. Ela começa a dormir mal, ter dificuldade de adormecer, ter despertares noturnos, dificuldade de voltar a dormir, o sono mais leve, menos reparador”, diz Igor Padovesi.

“Os distúrbios do sono estão frequentemente associados às flutuações hormonais e aos sintomas vasomotores (como ondas de calor e suores noturnos) associados à menopausa. Além disso, uso de psicotrópicos, obesidade, outras comorbidades e a não realização de terapia hormonal também têm relação com o problema”, explica Ana Paula Fabricio.

“Na menopausa, a diminuição do estrogênio pode causar a piora da qualidade do sono e a ocorrência de ondas de calor, que, quando acontecem à noite (suores noturnos), podem interferir no sono, o que frequentemente resulta em fadiga e pode levar à irritabilidade e instabilidade emocional”, explica o ginecologista e obstetra, mestre e doutor em tocoginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/UNICAMP), Nélio Veiga Junior.

“As mulheres que estão passando pela menopausa definitivamente deveriam ficar de olho em seus hábitos de sono e levar isso a sério, procurando ajuda ao notar mudanças de padrão. Numerosos estudos encontraram uma ligação entre sono deficiente ou insuficiente e um risco aumentado de doenças cardíacas e derrames. Em 2022, a American Heart Association adicionou a duração do sono como uma das oito principais medidas de saúde cardiovascular, recomendando que os adultos durmam de sete a nove horas por noite”, alerta a endocrinologista, com pós-graduação em endocrinologia e metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ), Deborah Beranger.

Tudo isso pode potencializar ainda mais o estado de fadiga e cansaço que muitas mulheres relatam. “É preciso ficar atento que o cansaço prolongado, acompanhado de perda de interesse em atividades normais, tristeza, irritabilidade, mudança de peso e diminuição do desejo sexual pode ser um sinal para uma investigação de uma depressão clínica”, acrescenta Nélio.

Fragilidade óssea e dor nos músculos e nas articulações

Um risco alto para mulheres na menopausa é a fragilidade óssea, que pode facilitar quedas e fraturas. “Para mulheres após os 50, as fraturas de quadril apresentam uma taxa de mortalidade mais elevada no curto prazo do que o próprio câncer de mama, que tem taxas de mortalidade significativamente reduzidas com o diagnóstico precoce. A fratura exige internação, com riscos de cirurgia e complicações no pós-operatório”, comenta Igor.

“Fraturas de quadril são particularmente graves, pois podem levar a complicações como imobilidade prolongada, trombose venosa profunda, e até mortalidade aumentada”, explica o ortopedista, especialista em cirurgias do joelho e cirurgias do quadril (HSL-RP), Fernando Jorge.

Além disso, há também uma reclamação constante de dor nas articulações. “As articulações, assim como as cartilagens que as protegem, possuem receptores de estrogênio, hormônio que contribui para a manutenção da saúde dessas estruturas. Logo, conforme a produção hormonal é alterada com a menopausa, as articulações ficam mais inflamadas, o que causa dor em regiões como mãos, joelhos e ombros e favorece o surgimento de condições como a artrite e artrose”, diz o ortopedista especialista em joelho e traumatologia esportiva, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), Marcos Cortelazo.

“Em casos mais graves, em que a mulher já desenvolveu doenças como artrite e artrose, a consulta com o ortopedista também é importante para receber o tratamento adequado, reduzindo as dores e melhorando a qualidade de vida da paciente”, completa. As dores musculares também são muito comuns na menopausa e muitas pacientes nem desconfiam que têm relação com os hormônios. "A queda do estrogênio aumenta processos inflamatórios no corpo e pode ser uma das causas das dores generalizadas", esclarece Ana Paula Fabricio.

Problemas na saúde oral

Segundo a ginecologista formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Patricia Magier, a queda hormonal diminui muito a hidratação de todas as mucosas. “Não só da mucosa, do olho, das articulações e também na saúde da cavidade oral, a hidratação e a vascularização. Então, isso pode levar aos sintomas de boca seca, gengivite. A falta do estrogênio também acelera a perda óssea nos maxilares”, explica a ginecologista.

“Como resultado, as gengivas podem tornar-se mais vermelhas e inflamadas, com maior propensão a sangramentos e doenças gengivais. Além disso, há uma redução no fluxo de saliva, causando ressecamento das mucosas orais. E, como a saliva é responsável por regular o pH da boca e proteger dentes e gengivas, o risco de cáries também aumenta”, explica o cirurgião-dentista e doutor pela USP, Hugo Lewgoy.

Com a gengiva mais inflamada e sensível, é importante utilizar escovas interdentais atraumáticas, que possuem maior efetividade que o fio dental, que não é capaz de higienizar com eficácia toda a região interdental.

“Para reduzir o risco de doenças gengivais e cáries, é recomendado também dar preferência à utilização de escovas dentais com uma grande quantidade de cerdas ultramacias, pois cerdas muito duras podem desgastar o esmalte dos dentes e agravar problemas gengivais. A escolha do creme dental também é importante, pois produtos formulados com Lauril Sulfato de Sódio (LSS) podem ressecar ainda mais a boca”, aconselha o especialista.

“É muito importante que se oriente as mulheres, quando estão chegando no climatério, 40+, a fazer um cuidado com a saúde, principalmente da saúde bucal”, complementa Patricia.

Inchaço

As variações dos hormônios ginecológicos que ocorrem na menopausa também podem tornar a retenção de líquidos e o surgimento de inchaço mais frequentes. “Na menopausa, há uma dilatação dos vasos, levando a um maior acúmulo de líquidos. Geralmente, os pés são os primeiros a demonstrar esse inchaço pelo efeito da própria gravidade, já que sustentam o nosso corpo”, explica a cirurgiã vascular, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, Aline Lamaita.

“Nessa fase, pela queda dos hormônios, há uma piora da parte circulatória e do retorno venoso. Então, sensação de peso nas pernas, de estar sempre inchada, com cansaço nas pernas, são sintomas muito comuns da mulher na menopausa, por isso que a gente sempre estimula uma dieta adequada, a prática de atividade física e a reposição hormonal”, explica Patricia Magier.

“A reposição hormonal também vai ajudar na parte circulatória e na prevenção de doenças cardiovasculares, principalmente o hormônio estrogênio, que está relacionado à produção de óxido nítrico, que faz com que você tenha esse tônus vascular funcionante”, comenta a ginecologista.

Medidas gerais para melhorar o desconforto incluem repouso com elevação dos membros, alta ingestão de líquidos e alimentação rica em água para estimular a diurese, aplicação de compressas frias com chá de camomila e movimentação do membro.

“A drenagem linfática também pode ser realizada para melhorar o inchaço, desde que não haja suspeita de trombose”, afirma a especialista. A médica também explica que variações hormonais na menopausa impactam diretamente na saúde vascular. “As mulheres, por vários fatores constitucionais e questões de algumas doenças, sempre vão ser as mais afetadas quando a gente fala de inchaço, cansaço e dor em pernas”, comenta Aline.

Para tratar as alterações, Igor Padovesi destaca que é necessário o uso da terapia hormonal, que busca, basicamente, manter os níveis de hormônios da pré-menopausa aproximados. “Quando o ovário entra em falência, ele deixa de produzir os hormônios. Considerando que a mulher vive muito tempo depois da vida reprodutiva, isso tem vários impactos para o organismo, não só de sintomas, mas de aumento de riscos e de problemas de saúde em geral. Basicamente, se repõe esses hormônios de forma artificial. A terapia moderna, diferente da terapia hormonal antiga do passado, prioriza o uso de hormônios ditos bioidênticos, que são iguais aos que o organismo produzia, ao invés de hormônios sintéticos. Os benefícios são vários. Os principais são: prevenção de doença cardiovascular, preservação da massa óssea, redução de mortalidade, redução de risco de Alzheimer, preservação da sexualidade, da função urogenital normal saudável e principalmente melhora significativa da qualidade de vida”.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia

Acesse o Clube do Assinante

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay