SEM O PAI

Ausência paterna ainda marca vida de famílias com crianças neurodivergentes

Pesquisa revela que 86% dos cuidadores de crianças autistas no Brasil são mães, reforçando a importância de repensar o papel paterno

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No mês do Dia dos Pais, a discussão sobre a presença paterna ganha ainda mais relevância, especialmente quando se trata de famílias atípicas, que lidam com necessidades específicas ou demandas de cuidado diferenciadas, como é o caso de crianças com autismo ou outras condições neurodivergentes.

Segundo o estudo Cuidando de quem cuida, realizado pela Genial Care, 86% das pessoas cuidadoras de crianças autistas no Brasil são mães, evidenciando que a ausência da figura paterna se intensifica quando há neurodivergência na família.

O cenário também se reflete nos registros civis brasileiros. Dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) mostram que, apenas entre janeiro e abril de 2025, mais de 65 mil crianças foram registradas apenas com o nome da mãe na certidão de nascimento.



Em 2024, foram 155.976 nascimentos sem o nome do pai, uma média de 427 registros por dia, número levemente inferior ao de 2023, quando foram contabilizados 159.421 casos, segundo o Portal da Transparência do Registro Civil.

“Quando levamos essa ausência paterna para famílias atípicas, o impacto é profundo e pode limitar o acesso da criança a experiências fundamentais para seu desenvolvimento pleno, bem como aumentar a sobrecarga emocional da mãe. Precisamos lembrar da importância da presença dos pais no desenvolvimento de seus filhos, além da construção de laços e vínculos afetivos que podem ser benéficos para toda a vida”, alerta a vice presidente clínica da Genial Care, rede de cuidado de saúde atípica especializada em crianças autistas e suas famílias, Thalita Possmoser.

Os desafios únicos da paternidade atípica

A chamada paternidade atípica, vivência de pais que criam filhos com transtornos de desenvolvimento como autismo, TDAH e dislexia, traz desafios que vão desde a busca por diagnósticos precisos até a adaptação completa da rotina familiar.

“Ser um pai atípico significa estar constantemente aprendendo e se adaptando. É uma jornada de aprendizado diário diante das demandas de cuidado diferenciadas, mas também muito enriquecedora”, explica Thalita.

Entre os principais desafios enfrentados por esses pais estão:

- Impacto emocional do diagnóstico: a descoberta da neurodivergência do filho costuma gerar um turbilhão de sentimentos, que misturam alívio pelo fim da incerteza, preocupação com o futuro da criança em uma sociedade pouco inclusiva e a necessidade de reconstruir expectativas

- Conscientização do entorno social: sensibilizar amigos, familiares e instituições sobre as necessidades especiais da criança ainda é uma tarefa complexa

- Sobrecarga emocional e responsabilidades: a criação de uma criança no espectro demanda cuidados intensivos e especializados, resultando em momentos de estresse e exaustão física e mental

- Quebra de estereótipos de gênero: muitos pais enfrentam conflitos emocionais ao assumir papéis de cuidado devido ao estigma social que associa essa função exclusivamente às mães

O pai no desenvolvimento de crianças neurodivergentes

Diversas pesquisas demonstram que a presença paterna ativa tem impacto profundo no desenvolvimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

“Pais envolvidos que participam ativamente de diversas atividades de vida diária ajudam as crianças a desenvolver diversas habilidades. À medida que a criança se desenvolve e começa a controlar o movimento do corpo, a presença do pai é um grande reforçador para tarefas que envolvem atividades sensório-motoras”, destaca Thalita.

Essa participação traz benefícios sistêmicos: fortalece o vínculo afetivo por meio de atividades diárias, como brincar, estudar e participar de terapias, proporcionando segurança emocional; promove estímulos complementares aos da mãe, favorecendo o desenvolvimento global da criança; e reduz a sobrecarga emocional e física materna, criando um ambiente familiar mais equilibrado.

“A presença ativa do pai oferece segurança e funciona como um modelo de referência importante para o crescimento e desenvolvimento infantil”, acrescenta Thalita.

Estratégias para uma paternidade atípica efetiva

Para enfrentar os desafios da paternidade atípica, especialistas recomendam algumas práticas fundamentais:

- Educação e informação: compreender profundamente o diagnóstico e as necessidades específicas do filho

- Participação ativa nas terapias: trabalhar em conjunto com profissionais para reforçar habilidades aprendidas e garantir continuidade do tratamento em casa

- Criação de rotinas estruturadas: estabelecer horários consistentes para atividades diárias, refeições, sono e terapias

- Cuidado com a saúde mental: buscar apoio emocional em terapia, grupos de apoio e práticas de autocuidado

- Regulação emocional: compreender os momentos de desregulação da criança e saber como apoiá-la de forma positiva

Rompendo o ciclo geracional

O relatório Situação da paternidade no Brasil destaca que 82% dos pais brasileiros afirmam que fariam tudo o que fosse necessário para se envolver profundamente no cuidado do filho recém-nascido ou adotado durante as primeiras semanas. No entanto, 68% não utilizaram sequer a licença-paternidade de cinco dias prevista por lei após o nascimento ou adoção dos filhos.

Já o estudo Atitudes globais em relação à igualdade de gênero revela que um quarto da população brasileira acredita que homens que ficam em casa para cuidar dos filhos são “menos homens”, evidenciando a persistência de estereótipos sociais.

Segundo Thalita, romper esses padrões históricos é essencial. “É necessário que uma geração tome a decisão de quebrar esse ciclo de ausência paterna. Cada vez mais, é fundamental incentivar a reflexão não apenas dos pais recém-chegados, mas também daqueles que já são pais, incluindo os pais mais idosos, para que adotem novas formas de paternidade.”

Para as famílias atípicas, essa mudança de paradigma é ainda mais urgente. “A presença paterna pode ampliar as oportunidades de desenvolvimento da criança, promovendo um ambiente mais seguro e colaborativo para sua evolução. Dar visibilidade às histórias de pais atípicos pode inspirar outros homens a assumir com orgulho e engajamento esse papel”, reforça.

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